“Somos poucos mas bons”,constatou Fernando Cunha, líder do projeto, procurando, de alguma forma, minorar o desconforto de uma sala meio vazia. “O som aqui à frente é melhor, acreditem…”, foi insistindo ao longo da performance - e aos poucos e poucos a assistência juntou-se ao super-grupo nos lugares vagos à frente do palco.

Chuva Dissolvente, dos Xutos e Pontapés, deu o pontapé de saída para oespetáculo e arrancou os primeiros aplausos do público, convidado, desde o início,a acompanhar o coletivo nas cantorias. Bandeira, dos Delfins,seguiu-se, tocada como se dum hino se tratasse,despertando o Hard Club que ecoava, sem hesitar,as palavras de ordem - "Está na tua mão!".

A Maria Leon - a única voz feminina do grupo - coube a árdua tarefa de interpretar Por Quem Não Esqueci, dos Sétima Legião, que instantaneamente transformou o Hard Club numa pista de dança, em êxtase. "Porto, Porto, Porto", ouvia-se em loop, em jeito de agrado, até à música seguinte ganhar forma nos instrumentos dos Ar de Rock.

Não foi preciso esperar muito até Rui Pregal da Cunha, convidado de honra da banda neste concerto, subir ao palco para cantar Paixão, dos Heróis do Mar, naquele que foi um dos grandes momentos da noite, com público e banda em perfeita sintonia,com direito a ovação e tudo, não fosse Rui Pregal da Cunha um dos principais motores da música portuguesa nas últimas décadas.

Tozé Santos, dos Perfume, surgiu em palco poucos minutos depois, com uma arriscada tarefa - a de interpretar A Nossa Vez, original dos Delfins, especialmente aplaudida pelos membros dos Delfins que se passeiam, atualmente, nos Ar de Rock.

Em noite de bola, o tema futebol acabaria por vir, inevitavelmente, ao de cima, mas apenas como uma pequena introdução ao tema Intervalo, dos Perfume, ali interpretado pelo próprio vocalista e repetido na ponta da língua por miúdos e graúdos, ser margens para timidez.

Luís Portugal foi o seguinte a pisar o palco do Hard Club. Numa retrospetiva dos tempos gloriosos dos Santos e Pecadores, entoou Fala-me de Amor, que logo criou uma nostalgia sem fim na sala, apenas quebrada minutos depoisao ritmo de Latin América, dos Jafumega, que viu novamente o Hard Club transformado numa discoteca dos anos 80, com muitos passos de dança a boa disposição à mistura. Quem diria que os clássicos portugueses ainda conseguiam, nos dias de hoje, criar tamanho impacto?

Os Ritual Tejo, banda de inúmeros sucessos, também estiveram representados no Hard Club, pela vozde Paulo Costa. Também o temaForam Cardos Foram Prosas marcou presença, interpretado com a mesma garra do original, candiato também a um dosgrandes momentos da noite. Ainda com mais uma surpresa na manga, os Ar de Rock chamaram ao palco Paulo Riço que, juntamente com os restantes convidados, interpretou Dança Nua, um tema dos Essa Entende, imortalizado na década de 80.

Tempo, então,para a primeira saída do palco, minutos depois da qual a bandaregressa, desta vezao som de Não Sou O Único, original dos Xutos & Pontapés, mais tarde adaptada pelos Resistência - um dos primeiros sugergrupos a vingar na cena nacional, decorria a década de 80. Êxtase total. Seguiu-se Nasce Selvagem, cantado em uníssono, mais pelo público, do que pela própria banda, em jeito de despedida de uma cidade que, afinal, soube prestar uma justa homenagem à música nacional.

Texto: José Aguiar

Fotografias: Filipa Oliveira