O palco simples: um ecrã a passar imagens, a maioria do Rio de Janeiro, e, à frente, a tão famosa asa-delta carioca preenchem o vazio do cenário. Depois, a BandaCê, três jovens músicos de grande talento, um deles Moreno Veloso.
Caetano Veloso é assim, simples; só lhe importa cantar, só lhe importa mostrar a quem o assiste aquilo que lhe dá prazer. É a partilha. O último álbum, "Zii e Zie", funde um Caetano de "Cê" – que gerou alguma controvérsia – com o velho Caetano do movimento tropicália, do ser brasileiro puro. Aqui, quem dita a regra é o samba, o rock veste-o e confere-lhe o tom electrónico.
Ao longo de quase duas horas, há momentos em que aquele cantor reaparece, principalmente em "Maria Bethânia", de 1971, recuperada com mexidas tão ténues que quase não se notam. “Esta canção foi composta para a minha irmã, quando eu estava no exílio em Londres, quase como um pedido de socorro”, relembra, sendo a única canção que merece uma referência. Talvez por essa experiência vivida, "A Base de Guatanamo" seja a música mais forte de todo o novo disco. Pela letra, de protesto, pela forma de cadência lenta, mais falada que cantada, pela repetição insistente do refrão. Pela forma como no final do concerto as opiniões se dividiam.
Ainda na onda Caetano revisitado, o músico brasileiro recorda "Desde que o samba é samba", "Eu sou neguinha", "Objecto não identificado" ou "Odeio você", esta mais recente, do álbum "Cê".
E Caetano tem este poder de cantar "Água" naquela melodia doce e voz inconfundível, jurando que “vou fazer uma canção de amor” para logo de seguida cantar com a mesma sinceridade "Odeio você".
A pouco tempo de completar 68 anos – ao vê-lo em palco ninguém diria – Caetano Veloso há muito conquistou o seu lugar na história e, agora, chegou a hora de experimentar outras coisas. Sente-se isso em "Zii e Zie" e não há dúvida que mesmo enveredando por novas formas de música (e na própria voz), ele continua presente e o resultado é muito bom.
Mas, apesar de toda a inovação, Caetano fechou com tropicalismo e "A Luz de Tieta", depois do tão exigido encore.
Texto e foto @Inês Henriques
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