
O barítono russo, de 39 anos, tinha sido contratado para interpretar um dos papéis principais na ópera “O Holandês Voador", precisamente o holandês, mas já abandonou os ensaios e está a ser procurado um substituto, revelou hoje a direção do festival, que começa na quarta-feira, 25 de julho, com uma gala a que assistirá também a chanceler alemã, Angela Merkel.
“Não imaginei a dimensão das irritações e sofrimentos que este símbolo iria provocar, sobretudo em Bayreuth, no contexto da história deste festival", admitiu Nikitin, em declarações à imprensa alemã, antes de abandonar a cidade da Baviera.
A direção do festival e o encenador da versão deste ano de “O Holandês Voador", Jan Philipp Gloger, só viram a tatuagem da cruz suástica na sexta-feira à noite, em filmagens de um magazine cultural da televisão pública ZDF.
Apesar de coberto por uma tatuagem posterior, o símbolo máximo do regime nazi no peito de Nikitin ainda é visível e a direção do festival e o encenador decidiram imediatamente anular o contrato com uma das suas “estrelas" desta temporada.
“Tínhamos de tomar posição, não podíamos ignorar o que vimos", disse Peter Emmerich, porta-voz do festival, à edição eletrónica do semanário Der Spiegel.
O cantor, por seu turno, explicou que foi membro de uma banda de ‘heavy metal’ na juventude e que a tatuagem, que considerou “o maior erro” da sua vida, o qual desejaria “nunca ter cometido", data dessa altura.
As filmagens da ZDF foram feitas quando Nikitin era membro da referida banda e mostram-no de tronco nu, de cabeça rapada, com a cruz suástica gravada no peito, a tocar bateria.
Fotos atuais mostram, no entanto, que Nikitin tem agora outra tatuagem muito colorida a tapar a cruz suástica.
Quanto o contratou, o Festival de Bayreuth não sabia da antiga tatuagem, nem conhecia o passado de Nikitin, garantiu Emmerich.
“Procurámos uma voz, um cantor para o papel de ‘O Holandês Voador’, a cor de pele ou a nacionalidade não interessavam e, claro, que também não costumamos imaginar o que as pessoas têm na pele", referiu o porta-voz do certame.
No caso de Bayreuth, porém, “a situação é diferente", admitiu Emmerich, devido às ligações que o festival teve ao regime nazi e a grandes nomes do III Reich, a começar pelo próprio Adolf Hitler, que era um admirador fervoroso da música de Richard Wagner e espectador assíduo do certame.
Rezam as crónicas que o ”Führer" chegou mesmo a ter um romance com a então diretora do festival e nora de Richard Wagner, Winifred Wagner, que mesmo depois da queda do nazismo continuou a defendê-lo.
O passado do festival tornou mesmo muito difícil a sua reedição nos anos cinquenta do século passado, após a II Guerra Mundial (1939-1945) e a derrota do nazismo, e até hoje a música de Richard Wagner continua a ser banida em Israel.
@SAPO com Lusa.
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