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Em 2010, lançaram “Orelha Negra”, álbum homónimo. Em 2012 regressam com... “Orelha Negra”. Sim, o mesmo nome. Os Orelha Negra trazem um disco de celebração do início ao fim. Voltamos a encontrar soul, funk, jazz, rock, R&B e hip-hop, novamente num álbum instrumental. Mas então porque continua tudo a cheirar a novo? Os Orelha Negra são um dos projetos mais criativos do mercado musical português dos últimos anos. Com apenas três anos de existência, o coletivo de Lisboa acaba de lançar o seu segundo disco, mais uma vez homónimo. O super grupo formado por Cruz (aka DJ Cruzfader), Mira Profissional (aka Sam The Kid), Ferrano (aka Fred), Rebelo Jazz Bass (aka Francisco Rebelo) e Gomes Prodigy (aka João Gomes) funciona como cinco elementos de uma equação química criada para o sucesso - entenda-se sucesso como ótima música. Nesta super equipa, cada um sabe muito bem o seu papel e é um mestre a cumpri-lo. “Orelha Negra” é um trabalho bastante sólido, melodicamente muito bem construído e com uma excelente produção - uma fórmula melhorada do (já de sim muito bom) disco de estreia lançado em 2010. Se na altura ninguém estava preparado para o que vinha, desta vez não houve surpresas. Tudo neste novo trabalho parece ter sido muito bem pensado: os samples, os scratchs, as linhas de baixo, a bateria e os teclados, nada entra por entrar e nada fica de fora por ficar. A capa faz homenagem ao rapper Snake, falecido em 2010, com uma foto do cantor em criança. Entremos, então, nos 15 temas que compõem “Orelha Negra”: Um brinde – A primeira faixa é uma introdução aos 14 temas seguintes. Seguimos de celebração em celebração. Contamos com a presença de Nuno Moreira, que era mais conhecido por Snake. O sample foi retirado de uma das suas festas de anos e é dele uma das vozes que ouvimos. Blue tu – Leva-nos à igreja, com um órgão eletrizante e um sample de uma voz gospel. O ritmo da bateria faz lembrar os N.E.R.D. no single “She wants to move”. Polaroid – Abre com uma batida lenta, mas que rapidamente acelera. “Polaroid” é uma imagem clara daquilo que os Orelha fazem de melhor: criar algo novo tendo como base samples, que parecem ter sido feitos para aquele momento. Throwback – Foi a segunda canção conhecida do novo disco, com colagens de samples perfeitas. Esta faixa fará as delícias dos b-boys e de todos aqueles que, mesmo sem esse talento, gostam de dar um pezinho de dança. Com uma batida e samples que nos fazem regressar aos anos 1980, “Throwback” respira soul, hip-hop e funk. Como diz o sample final desta música, "o que fala é a alma". Round4round – Com um baixo funk como tudo será fácil bater palmas a acompanhar. Mais uma vez as vozes soul encaixam que nem uma luva. Tem tudo para ser um single, talvez por ser um exemplo perfeito das características deste projeto. Alguns pormenores mais eletrónicos fazem com que esta faixa tenha uma dinâmica diferente. A festa continua. No ar – Entram aqui novos elementos, mais rock e tribais. No entanto, trata-se de mais uma prova de como as músicas para dançar são uma das grandes influências deste trabalho. Com várias camadas de sintetizadores, esta faixa não deixa de ter um groove muito funk. A canção termina com um sample da música “Aniki Bóbó”. Espelho – Com o excelente trabalho nos pratos por parte de Cruzfader, “Espelho” poderia ser um tema perfeito para a saga “Kill Bill”, de Tarantino. Contém o poema de Viriato Ventura “Porque sou uma criança”. As cordas reinam nesta faixa. As guitarras vão surgindo com pormenores que pedem uma segunda ou terceira audição. Golden Hotel - Surge um pouco como sequência natural de espelho. Os teclados enchem o ambiente, que vai crescendo, muito midtempo e doce. E se há referências cinematográficas em “Espelho”, “Golden Hotel” seria o tema perfeito para iniciar qualquer filme de espiões. Juras? – Um tema que agradaria a quase todos os MCs, esta faixa é muito soulful e está cheia de referências à música negra, jazz, R&B e blues. O segredo – A melodia principal é contruída por um assobio, mas depois podemos ouvir toda a magia dos Orelha Negra a acontecer: as várias camadas de samples colocados pelo Sam, os cortes do DJ Cruzfader, o baixo funk do Francisco Rebelo, o groove da bateria de Fred e as melodias doces dos teclados do João Gomes. Bala cola – As mudanças de batidas por minuto (BPM) no meio dos temas começam a tornar-se numa das imagens de marca dos Orelha. “Bala cola” tem uma excelente orquestração. Uma faixa com muita dinâmica, com boas acentuações. O baixo cola com a bateria na perfeição. Os teclados fazem-nos sorrir, aqui tudo é belo. Viva ela – Um tema cheio de groove que vai fazer abanar até a vara mais direita. Conta com a participação de João Cabrita no saxofone e de Cipriano Mesquita na guitarra portuguesa. Com um início angelical, graças ao som da harpa, rapidamente ganha um baixo fat, usando linguagem mais hip-hop. 24/7 – Os órgãos regressam, o baixo está um pouco acid jazz, a bateria dá uma marcação funk. É mais um tema que convida à festa, à dança, à celebração e como o nome da música diz, durante 24 horas por dia. Luta – Foi o primeiro tema conhecido deste novo álbum, lançado em novembro de 2011. Uma faixa cheia de energia, carregada de sintetizadores, marcada pela bateria do início ao fim e que apela à luta: “tenha o mundo inteiro a seus pés, se você quiser. Você pode tudo conseguir, você sabe lutar”, como diz o sample. Aurora – O disco termina com o amanhecer. Realmente todas as grandes festas terminam de manhã, com o nascer do sol. As vozes soul vão pontuando a faixa, com bons pormenores de teclado e de baixo. É claramente um final de festa, sente-se a descompressão de quem sabe que acabou de viver algo muito bom. Desde o brinde até à aurora a comemoração não tem fim. Os Orelha Negra enchem-nos de motivos para celebrar. O seu novo trabalho é como uma noite memorável: brindes, polaroids, juras, vivas a elas... E as noites memoráveis terminam sempre com a aurora. Mais um disco homónimo como que a dizer que ninguém faz como nós, porque isto só poderia ser Orelha Negra.<
@Edson Vital
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