Palco Principal - São presença assídua nos palcos portugueses. Estão entusiasmados por voltar a território nacional, agora no âmbito do Reggae Blast?
Dub Inc - Quando soubemos que íamos voltar a Portugal em 2012, ficámos muito contentes. Não estávamos a contar com isso, porque a Sounds Good - a agência que trata das nossas digressões - tínha-nos dito que este ano não íamos passar por Portugal - na verdade, acho que nos diz isso todos os anos. Para nós, Portugal é como uma segunda casa. Aliás, muitos de nós passam férias em Portugal, temos bastantes amigos por aí. E o público português é extremamente bom. Portanto, sim, estamos muito entusiasmados com o regresso, nomeadamente com a oportunidade de estar com Omar Perry, que faz parte da família Dub Inc, e com Bushman, um dos músicos jamaicanos mais talentosos do momento.
PP - Acho que o entusiasmo é recíproco...
DI - Ainda bem! Por exemplo, em abril vamos lançar um documentário feito pelo Kamir Meridja, que esteve na estrada connosco durante quatro anos e - vai-se a ver - e algumas das partes mais importantes do filme passam-se em Portugal!
Palco Principal - Até lá, continuam a apresentar o vosso mais recente disco de originais, "Hors Controle". Que receção teve este trabalho junto dos vossos fãs?
Dub Inc - Teve uma receção muito boa e não apenas em França. Sentimos,em "Hors Controle", que o nosso trabalho foi realmente recompensado. Note-se que passámos mais de seis meses enfiados no nosso pequeno estúdio em Saint Etiénne, sete dias por semana, oito horas por dia, sempre a trabalhar nestas canções. Depois passámos um mês inteiro na Alemanha a gravá-las num estúdio fantástico, com um engenheiro genial. Foi um trabalho extremamente intenso, mas também uma experiência artística fantástica, na qual pudemos ver as nossas ideias crescer e desenvolver-se. Portanto, quando lançámos o álbum e iniciámos a tour de apresentação, tínhamos expetativas muito grandes. Hoje, estamos mais do que satisfeitos, pois já fizemos mais de 130 espetáculos em 17 países onde a nossa música foi sempre bem recebida. Sentimo-nos realmente lisonjeados por isso. Em França, por exemplo, a música Tout ce qu'ils veulent - que significa Tudo o que eles querem é que as pessoas se calem - tem sido cantada em grandes manifestações nas ruas e, quando a tocamos ao vivo, sentimos, realmente, a energia das pessoas que não concordam com o poder de Sarkozy. Acho que "Hors Controle" se tornou, oficialmente, um clássico dos Dub Inc!
PP - Misturam no vosso trabalho diversos sons e influências. Usam e abusam do reggae mas também piscam o olho ao dancehall, ao dub, ao ska e mesmo ao rap. E também não podemos ignorar as influências da música árabe e da música africana nos vossos temas. Consideram-se verdadeiros músicos do mundo?
DI - Sim. Sempre estivemos muito ligdaos ao reggae, mas a nossa música não se limita a esse estilo. Talvez música do mundo seja, efetivamente, o termo mais adequado - um termo que dá novas cores à nossa música, até porque sempre dissemos que não iríamos colocar limites à nossa criação. Somos um grupo feito de diferentes culturas, origens, ideias, linguagens e orgulhamo-nos disso. Somos um exemplo de tolerância e irmandade, num mundo que vive com medo do vizinho.
PP - Completam em 2012 15 anos de carreira. Em década e meia dedicados à música e aos palcos, houve algum momento que vos fizesse reconsiderar as vossas escolhas artísticas e profissionais?
DI - Sim, houve períodos complicados. Por exemplo, o nosso primeiro distribuidor ficou com todo o lucroproveniente do nosso álbum ao vivo, mesmo antes da gravação de "Afrikya". Portanto, em vez de gravarmos num estúdio grande e confortável, tivemos de improvisar um pequeno estúdio numa cave empoeirada. Contando assim, nem parece muito mau e, na realidade, não foi assim tão mau. Mas, quando és uma banda pequena que começa a receber os frutos do seu trabalho e sacrifício de várias anos, este tipo de situações deixa-te de rastos. Mas precisas de te voltar a erguer e começar de novo a trabalhar. Mais tarde, já em 2009, o nosso baixista e um dos nossos guitarristas sairam da banda com alguns problemas - e esta foi a primeira vez que sentimos que a família Dub Inc se podia quebrar. Mas, mais uma vez, mantivemo-nos firmes, olhámos em frente, convictos de que não havia razão para a história parar, e gravámos "Hors Control". E o espetáculo continuou!
PP- São um dos nomes fortes do Reggae Blast - o primeiro festival de reggae que acontece em Lisboa e no Porto no mesmo fim de semana. O que podemos esperar do vosso concerto?
DI - Bem, antes de mais, posso prometer que aqueles que forem vão voltar para casa muito cansados. De resto, vamos, como sempre, dar o nosso melhor, até porque nos sentimos realmente honrados por fazer parte deste evento.
Ana Oliveira
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