Mesmo num dia de Inverno tradicional, com chuva e frio em abundância, muitos foram os que se deslocaram ao Hard Club, na Cidade Invicta, paraassistirem aum concerto de uma banda ainda não muito divulgada em solo nacional. A sala encontrava-se praticamentelotadae uma sensação de curiosidadeinundava o ambiente.Havia algumas canções que todos esperavam ouvir e, com apenas um álbum na bagagem, as expectativas dos presentes não saíriam, à partida, goradas.
Na primeira parte do espectáculo, tocaram os portugueses The Eleanors, mostrando que a música portuguesa não esmorece,quando é colocada lado a lado com as«dádivas» do exterior. Pelo contrário,evidencia-se bem viva, capaz deenfrentar repertórios de qualquer artista internacional.
A bandanão desistiu de puxarpelo público que, mesmo não sabendo as letras das suas canções,tentou acompanharo seu ritmo,batendo palmas à medida que o concerto avançava para o seu final. Na última música, já eram visíveis pequenos saltos por parte da plateia, que bem soube reconhecer a entrega total da banda em palco.
Mas a noite era de Hurts e o público ansiava, notoriamente,pelo seu regresso aos palcos. Por volta das 22h00, apagaram-se as luzes.A tradicional histeria dos fãs mais dedicadostornou-se audível por toda a pequena sala.
Intantes depois, abanda subiu ao palco,adornado comum cenário glamoroso - presença habitual nos concertos da banda. Todos os membros do grupo estavam vestidos a rigor, aparentando estar numa importante cerimónia. Rosas brancas repousavam em cima do piano.
Unspoken foi a música escolhida pelos Hurtspara inaugurarem a noite. O público não se fez rogado e, logo ao primeiro acorde, soltou cordas vocais e audíveis palmas. A noite prometia ser inesquecível com Theo Hutchcraft, vocalista da banda, a proferir, de quando a quando, num português algo arranhado, cumprimentos e agradecimentos.
Silver Lining e Wornderful Life foram os temas que se seguiram, sendo que este último, bastante conhecidoentre opúblico - que o entoou até à última nota -levou a pequena sala ao delírio. "Já tocaram a mais conhecida, já podemos ir embora", ouvia-se na plateia, mas a verdade é que ninguém arredou pé do recinto até ao final do espectáculo.
Sucederam-se Happiness, Blood eTear & Gold, num tom algo emocionado. Todos queriam dar o seu contributo para o bom momento que ali se vivia: quando a letra da música não estava na ponta da língua, sobrava o refrão, cantado, geralmente,em uníssono.
Seguiu-se, no alinhamento do espectáculo,Evelyn, Sunday, Mother Nature e Verona. Silêncios intimidantes sucediam-se a ruídos ensurdecedores. O Hard Club estava rendido. Em palco, assistia-se a uma grandiosidade quase inimaginável.
Já com mais de metade do concerto decorrido, eis que surge um novo capítulo, composto por Devotion e Confide In Me - esta última uma cover de um hit da australiana Kylie Minogue. Theo, num tom de brincadeira, pede desculpa por não poder trazer a cantora a Portugal e, de imediato, recebe um caloroso aplauso da parte da plateia.
As últimas posições da setlist ficaram guardadas para os temas Stay e Illuminated, bastanteconhecidos do grande público, que fazia coro com o colectivo, incentivando os mais tímidos a imitá-los.
Entretanto, as rosas brancas, que inicialmente repousavam no piano, voaram para o público, felicíssimo com a oportunidade de levar uma recordação para casa. Em jeito de despedida, Theo atira uma última flor para a plateia, abandonando o palco junto com Adam Anderson, o pianista que o acompanhara.
Já o resto do grupo permaneceu imóvel, qual pose para retrato fotográfico. Todos se questionavam se a festa iria ter continuidade.
Felizmente, não foi preciso esperar muito pela resposta: a música recomeçou a tocar, vocalista e pianista regressaram ao palco e, todos juntos, deram início à interpretação de Better Than Love, que colocou, literalmente, o chão a tremer. Com uma energia incrível, a banda puxava pela plateia, que respondia efusivamente.Contudo, o ponto alto da noite aconteceriacom Theoa elevaruma bandeira de Portugal, acenando a todos os presentes, que vibravam intensamente.
"Portugal, Portugal", gritava a assistência, rendida, perante a despedida dos britânicos, mais do que aguardados, novamente, pelos palcos portugueses.
Texto: José Aguiar
Fotografia: Filipa Oliveira
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