“Vem viver a vida amor, que o tempo que passou, não volta não”. Este refrão é-lhe familiar, não é? Pois bem, de facto o tempo não volta atrás, mas, se o podemos recordar, por que não fazê-lo com quem melhor entretém os portugueses com os seus grandes sucessos? José Cid, cantor, autor e compositor de vários êxitos da música portuguesa, representantedo país em diversos festivais da Eurovisão, voltou a brilhar em mais uma noite de glória – e isto não é nenhuma alusão à vitória do Benfica.
Como vem sendo habitual nas tournées de José Cid, a arena do Campo Pequeno transformou-se numa grande sala de espetáculos para acolher e receber todos os seus fãs. O último álbum, "Quem tem medo de baladas", editado recentemente, foi o mote desta digressão, que contou com os músicos e companheiros de longa data – a Big Band. Para este espetáculo tudo foi pensado ao pormenor, desde a oferta de cocktails de licor Macieira à entrada até à célebre venda de cerveja, pipocas e queijadas, e o público foi bastante recetivoa estaspequenas ofertas.
A colocação, no cento do palco, do piano preto com o candelabro de cristal e as velas acesas, que caracterizam a singularidade de José Cid, faz anunciar o cantor. No ecrã central estava projetada a assinatura do cantor e, ao longo do evento, a projeção variou entre as imagens ao vivo do músico, assim como da plateia. Às 22h45, José Cid subiu ao palco, ajeitou-se no seu piano e interagiu com o público com um “muito obrigado por terem vindo. Uma ótima noite para todos vocês”, e abriu as hostilidades com ‘Romântico mas não trôpego’.
Seguiram-se as canções ‘Madrugada na praia deserta’, acompanhada de mãos no ar e com o ar de rock a ecoar no piano de José Cid; o êxito ‘Meu amor’, que foi tema do genérico de uma telenovela portuguesa, e o marcante ‘Vinte Anos’, onde se cantou o refrão em chinês e em inglês.
Presentes na plateia estavam pessoas de vários locais, inclusive da Chamusca, cidade natal e residência do artista, e que o próprio fez questão de anunciar. Foi a altura de chamar ao palco o seu sobrinho, Gonçalo Tavares, para cantar em dueto a canção ‘Cai neve em Nova Iorque’. José Cid refere-se ao sobrinho como uma nova promessa na música portuguesa – “seguiu as pisadas do tio, mas tem um estilo muito próprio”.
Os minutos vão avançando e eis que surge o primeiro grande momento alto da noite. No ano passado, José Cid foi convidado para cantar com o núcleo das manhãs da Rádio Comercial – Caderneta de Cromos – a adaptação de um tema seu para publicitar o amor que Nuno Markl tem por um gelado, o célebre Fizz Limão. Para retribuir esse convite, o cantor convidou os quatro animadores de rádio para repetir a proeza, cantando ‘Como um macacado gosta de bananas, eu gosto do Fizz Limão’, com o próprio Nuno Markl cantando em Rap e dando imenso estilo à canção, envergando uma camisola emprestada pelo próprio Cid.
“A mensagem que quero transmitir é de amor e solidariedade, que é o queo país mais precisa” – e José Cid regressou ao formato romântico cantando ‘Louco amor’, seguindo-se ‘Um grande, grande amor’ -registo que levou ao Festival da Eurovisão, na altura orquestrado pelo guitarrista Mike Sergeant que, com José Cid e Tozé Brito, fundou o célebro grupo Quarteto 1111, a quem Cid, pouco depois, dedicou o verdadeiro hino da música em Portugal, a canção ‘Amanhã de manhã’, originalmente interpretada pelo grupo feminino Doce, e que deixou o público em delírio. Nas galerias, o público que estava sentado, depressa se pôs de pé.
No final de ‘Na cabana junto à praia’, José Cid apresentou alguns membros da sua Big Band, fazendo alusão à localidade de Alcobaça, de onde alguns músicos são originários, e fazendo também algumas piadas para entreter os presentes. José Cid nasceu mesmo para a música - assim o diz em ‘A minha música’ – e comportou-se como um verdadeiro rockstar. “Muito obrigado por me ajudarem a fazer disto a minha vida”, foi uma das frases mais repetidas pelo cantor, de forma a agradecer todo o calor humano que se fazia sentir no Campo Pequeno. Por momentos, parecia que a sala ia rebentar de tanta felicidade estampada nos sorrisos do público.
O segundo convidado da noite tornou a atmosfera rock em algo sombrio, mas, ao mesmo tempo, em nostalgia e emoção. Paulo Bragança, para quem não se recorda, foi um dos cantores nacionais que nos anos 80/90 se destacou pela sua irreverência, pela sua voz e elevada carga emotiva com queinterpretava as canções. "Tinha o mundo a seus pés, mas a vida dá muitas voltas. Contudo, ele merece uma segunda oportunidade e está connosco hoje” -e com estas palavras, proferidas por Cid,Paulo Bragança sobe ao palco igual a si próprio, descalço, para cantar, em dueto, a canção ‘O poeta, o pinto e o músico’. De seguida, cantou sozinho mais duas canções, apenas acompanhado à viola. O momento foi de silêncio, que no fim foi irrompido por milhares de aplausos de respeito afável pelo artista.
A noite já ia longa e ainda estávamos a meio do espetáculo que teve perto detrês horas de duração! José Cid regressa ao palco com outra roupa, mas com o mesmo estilo que lhe é inerente.
‘Coração de Papelão’, ‘Um rock dos bons velhos tempos’ e ‘A lenda de Del Rei D. Sebastiao’ foram canções que também fizeram parte do alinhamento. Esta última trouxe para o palco o próprio Tozé Brito, esse dinossauro de composição, que ajudou a cantar este clássico da música nacional.
Os grandes êxitoscontinuaram com ‘Ontem, hoje e amanhã’, ‘Anita não é bonita’ e ‘A pouco e pouco (favas com chouriço)', outro grande hit do anfitrião.
Um dos outros grandes momentos da noite foi a subida ao palco da mulher que tem a voz mais respeitada de Portugal. Rita Guerrajuntou-se a Cid para interpretar ‘Toca piano como quem faz amor’ e ainda interpretou uma canção sozinha. Ainda houve tempo para mais umas brincadeiras verbais relacionadas com o decote do vestido da cantora, que deixou o público em êxtase.
O alinhamento continuou e, após o Dj Diego Miranda ter dado o seu contributo musical, o concerto chega ao fim com a grande canção ‘Como um macaco gosta de bananas’ e com a plateia a desenhar humanamente a «dança do comboio».
Ainda houve tempo para um encore de três músicas e em modo de festa e de arraial, terminou assim esta grande e longa noite de festa.
Antes deste memorável espetáculo, Gonçalo Tavares abriu o concerto, cantando cerca de seis canções, fazendo-se acompanhar no coro por duas sobrinhas netas do anfitrião da noite. Gonçalo Tavares aprendeu bem as lições que o tio Cid lhe deu e, embora tenha uma interpretação própria, nota-se que há muitas influências familiares inerentes na forma como interpreta as canções. O público mostrou-se muito agradado com o que escutou e, de facto, o jovem tem talento. A seguir as pisadas do tio, Gonçalo Tavares também já participou em 2010 no Festival da Canção, com o tema ‘Rios’, e tem igualmente um álbum editado em 2009, intitulado "O Segredo".
Tranquilize-se quem queria muito ter ido ao concerto, mas não teve oportunidade. Este concerto foi filmado para futura edição em DVD,sendo que opróximo concerto, para terminar em beleza esta digressão, realiza-se no Pavilhão Multiusos de Guimarães no dia 10 de Dezembro.
Apenas deixo aqui crítica à produção do espetáculo. Tendo em conta os inúmeros êxitos e convidados que o espetáculo comporta, para a próxima deviam agendar o concerto para uma hora mais cedo, pois há quemtivesse saídodo evento mais cedo, para poder apanhar transportes públicos e, com isso,tivesse perdidoainda um pouco do espetáculo.
Ana Cláudia Silva
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