O álbum “Prix sans Prix”, com um alinhamento exclusivamente dedicado a obras de compositoras, “numa crítica à desigualdade de género, no meio musical”, é apresentado no próximo sábado, no Porto, anunciou a discográfica 9 Musas|Codax.

O título escolhido - “Prix sans Prix” (“Prémio sem prémio” ou “Prémio sem preço”)- “lança uma crítica irónica à persistente desigualdade de género no meio musical”, rementendo para o histórico Prix de Rome, um dos mais antigos e prestigiados nas artes europeias, nomeadamente na composição musical, segundo nota da editora.

Este galardão, criado na segunda metade do século XVII (1669), só em 1903 começou a aceitar candidaturas de compositoras, sendo Lili Boulanger (1893-1918) a primeira mulher a conquistá-lo, dez anos mais tarde, embora as regalias do prémio lhe tenham sido recusadas, como a residência na Villa Médicis, durante a sua estadia em Roma.

“Prix sans Prix” é uma edição discográfica que “recupera repertório inédito e lança debate sobre igualdade de género na música clássica”.

O álbum resgata obras de compositoras laureadas como Lili Boulanger, Elsa Barraine, Rolande Falcinelli, “figuras quase ausentes dos programas de concerto e dos currículos dos conservatórios”, realça a discográfica.

A edição em CD, que é apresentada no próximo sábado, às 16h00, no Museu Soares dos Reis, no Porto, num concertro pela flautista Adriana Ferreira e a pianista Isolda Crespi Rubio, "apresenta nove obras que, embora distintas entre si, revelam uma linguagem coerente e identificável com a tradição francesa do século XX, marcada por complexas variações cromáticas, ritmo incisivo e articulação sofisticada”.

“A seleção [gravada] realça o legado da escola francesa de flauta, com obras escritas para os concursos anuais do Conservatório de Paris”.

O álbum é editado pela recém-criada 9 Musas|Codax, uma plataforma discográfica apostada em “projetos inovadores no panorama da música clássica em Portugal”.

Do alinhamento fazem parte peças das compositoras Lili Boulanger (“Nocturne”), Jeanine Rueff (“Diptyque”), Thérèse Brénet (“Le Faune”), Ginette Keller (“Chant de Parthénope”), Monic Cecconi-Botella (“Bucolique”), Rolande Falcinelli (“Krischna Gopala”), Elsa Barraine (“Élégie et Ronde”), Odette Gartenlaub (“Trois récits”) e de Lucie Robert-Diessel (“Soante”).

O segundo álbum desta série, que será “editado ainda este ano”, com obras em trio, contará com a harpista Silvia Podrecca, além de Adriana Ferreira e Isolda Crespi Rubio, garantiu a discográfica à agência Lusa.

O projeto conta ainda com a colaboração das musicólogas Helena Lopes Braga e Inês Thomas Almeida, “cujas investigações sobre género e música sustentam o caráter crítico, pedagógico e interventivo [desta] edição”.

O 'selo' 9 Musas|Codax estreou-se em 2013 com o álbum “Lieder”, de Robert Schumann, gravados pelo barítono André Baleiro, acompanhado pelo pianista David Santos.

Adriana Ferreira é flautista principal da Orchestra dell’Accademia Nazionale di Santa Cecilia, em Roma, e desempenhou o mesmo cargo na Filarmónica de Roterdão e na Orquestra Nacional de França. Natural de Cabeceiras de Basto, venceu os concursos internacionais Carl Nielsen, na Dinamarca, Gazzelloni, em Itália, e o de Genebra, sendo também licenciada em Musicologia pela Universidade Paris-Sorbonne.

A pianista espanhola Isolda Crespi Rubio, atualmente a residir em Portugal, estudou no Royal College of Music, em Londres, e é mestre em Ciências da Educação pela Universidade Católica Portuguesa.

Como solista e camerista, Crespi Rubio, natural da Catalunha, já atuou em Espanha, França, Coreia do Sul e Brasil.

A harpista italiana Silvia Podrecca, que participa no próximo álbum, é também solista da Orchestra dell’Accademia Nazionale di Santa Cecilia.