“Este projeto português é altamente original e é um dos melhores trabalhos sobre o Punk que alguma vez foi feito. Nos Estados Unidos e no Reino Unido há livros publicados, mas este tipo de investigação é diferente. Tem uma análise muito profunda e mais crítica sobre o Punk”, disse à Lusa Andy Bennet, professor na Griffith University da Austrália, que participa quinta-feira no colóquio sobre o Punk em Portugal, no Porto, coordenado pela socióloga Paula Guerra, autora da investigação.

O termo Punk, que é usado por algumas bandas de garagem no início dos anos 1970, acaba por gerar um movimento de contra cultura e rebeldia nos Estados Unidos e no Reino Unido que ultrapassa a música (Ramones, Sex Pistols e Clash), tornando-se num dos fenómenos mais revolucionários da cultura ocidental das últimas décadas.

A investigação sobre a realidade portuguesa, que se prolongou durante um ano, estabelece o início do movimento em Portugal, em 1977, com o aparecimento da banda Faíscas, que mais tarde dá origem aos Corpo Diplomático (contracapa e capa do disco "Música Moderna" nas imagens deste artigo) e aos Heróis do Mar, mas estuda também trinta anos de um movimento rebelde com especificidades regionais, analisando o percurso dos intervenientes ao longo dos anos, detetando as origens sociais e atitudes políticas, culturais e artísticas.

O estudo referencia em Portugal a existência de 600 bandas desde 1977 e 400 músicas que estão ainda a ser analisadas pelo sociólogo Augusto Santos Silva, da Universidade do Porto (ex-ministro da Defesa Nacional), para um trabalho que vai ser apresentado na Áustria, em outubro.

Além da análise das músicas e das bandas portuguesas, a investigação sociológica refere estar a tratar de um movimento constituído por 98 por cento de indivíduos do sexo masculino e aborda também a questão do envelhecimento e a forma como os princípios e as referências do movimento face à sociedade são mantidos ao longo dos anos, apesar da idade e dos diferentes percursos de vida.

O projeto, com o título “Keep it Simple, Make it Fast”, da investigadora da Universidade do Porto é acompanhado pelo antropólogo espanhol, Carles Feixa da Universidade de Lleida e por Andy Bennet, que considera a investigação singular. “É diferente porque faz uma avaliação do Punk em diferentes níveis: a dimensão política e ideológica (final dos anos 1970 e início dos anos 1980 em Portugal) e também a dimensão histórica a que não é alheia a situação económica do país. A realidade portuguesa é completamente diferente da realidade do Reino Unido mas para o que interessa - e este trabalho não foi feito no Reino Unido – é que politica e ideologicamente, o Punk é igual onde quer que se esteja, depois é influenciado pelo contexto local, mas o Punk é Punk”, sublinha.

“O Punk tem objetivos que dizem respeito à música e à política e, é por isso, que acho importante que este trabalho tenha sido feito aqui e nesta altura e, em muitos aspetos, é importante que tenha sido feito num país que não seja anglo-saxónico porque confere a importância global do Punk”, reforça o académico britânico, acrescentando que o movimento nunca acabou e soube adaptar-se e evoluir ao longo das últimas décadas.

“Não penso em termos românticos sobre uma coisa que desapareceu e que é recordada porque o Punk seguiu em frente. O Punk transformou-se numa base, num ponto de partida para uma forma de expressão política que continua a influenciar os mais jovens que não aceitam, como no passado, uma sociedade normal”, refere Andy Bennet.

O colóquio sobre o Punk em Portugal da investigadora Paula Guerra vai contar com as presenças do sociólogo Augusto Santos Silva, dos académicos Carles Feixa e Andy Bennet e vai decorrer quinta-feira no Gallery Hostel no Porto e pode ser acompanhado nas redes sociais.

@Lusa