O album é um "romance escrito em verso para as melodias do fado tradicional", como os fados Três Bairros, Marcha do Correeiro, Rosita, Macau ou Mayer, entre outros, explica, num texto que acompanha o CD, a poetisa Maria do Rosário Pedreira, que volta a escrever para a fadista.

A ideia remonta a 2007: realizar um disco "que fosse uma espécie de livro - no caso, um romance, uma narrativa que acompanhasse diversas personagens e fosse contada de fio a pavio, através de fados", com letras da poetisa, para as melodias tradicionais escolhidas por Aldina Duarte.

"Teria de ser uma história de amor - já que é de amor que falam, normalmente, os fados [da Aldina] e os meus versos", afirma Maria do Rosário Pedreira.

Por acordo entre a letrista e fadista, "logo surgiu a ideia" de criar "obstáculos e dificuldades, drama e tragédia, trazendo para a cena um triângulo amoroso, cujos vértices são um homem e duas mulheres que o amam: a morena, que é quem conta a história, foi a escolhida (depois de alguma hesitação, é certo) para um relacionamento sério, o que, de resto, lhe custou a velha amizade da loira".

Esta opção deve-se ao facto de tanto Aldina Duarte como Maria do Rosário Pedreira gostarem de romances que "quase nunca têm enredos lineares e finais felizes", explica a poetisa.

A tarefa não foi fácil, confessa Pedreira que levou "horas e horas, dias e noites, a andar de um lado para o outro com versos na cabeça", procurando "palavras que queria que fossem, sobretudo, dignas da voz e da sua sempre magnífica interpretação" de Aldina Duarte.

No total, são 14 temas, entre eles "Declaração de intenções: Amor em Dó Maior", "O encontro: As duas graças", "O namoro: Lugares-comuns", "O casamento: As noivas", passando pel'"A despedida: A maçã de Adão", "A raiva: Labareda", "A saudade: Sem chão", "O luto: Os pontos nos ii", até a "O recomeço: Cessar-fogo" e terminando em "Assinatura: Arte do fado".

"Embora possa parecer agora a quem ouça este romance que tudo flui, não pensem nem por um segundo que foi fácil: é que, além de contar uma história complexa numa dúzia de episódios chave sem que nada de essencial se perdesse, foi preciso fazê-la caber nos espartilhos certos, porque Aldina, não contente com fazer coisa nova do lado das letras, ainda quis trazer para o CD uma colorida paleta das melodias do fado tradicional, obrigando-me a formatar as minhas ideias em quadras, quintilhas, sextilhas, fados com refrão, redondilhas, decassílabos, alexandrinos, enfim, um autêntico curso sobre a matéria", desabafa a poetisa, no texto que acompanha o álbum.

Se o primeiro CD é de fado tradicional, o segundo é a "visão/versão destes fados" do produtor Pedro Gonçalves, num ambiente musical que não deixa de ser fadista.

"No fundo, resumia-se a contar a mesma história como que através de pessoas diferentes", explica, num outro texto do "booklet", Pedro Gonçalves, que confessa: "Sabia apenas que, para mim, o fado era como filigrana e a simples ideia de o transformar num mutante criava-me calafrios".

Aldina Duarte é omnipresente em todas as versões de Pedro Gonçalves, mas partilha a interpretação com outros fadistas em três temas.

Em "As duas graças", que Aldina Duarte gravou na Marcha de Alfredo Correeiro, a versão de Pedro Gonçalves é partilhada com Camané. As outras participações são as das fadistas Filipa Cardoso e Ana Moura.

Filipa Cardoso participa na versão de "O recado", que Aldina, a solo, gravou no fado Vianinha, e Ana Moura, em "Cessar-fogo", interpretado por Aldina no fado Pedro Rodrigues.

Os fadistas são acompanhados por José Manuel Neto e Paulo Parreira, na guitarra portuguesa, e Rogério Ferreira, na viola.

@Lusa