Pedro Burtmester, 61 anos, regressou no ano passado a esta obra de Johann Sebastian Bach que tinha gravado pela primeira vez em 1989, e vai apresentar-se em seis concertos em cinco municípios de norte a sul do país, culminando no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, em janeiro de 2026, depois de no ano passado já ter levado a obra a Sintra e ao Porto, entre outras localidades.

Ao primeiro recital de 11 de abril, em Loures, distrito de Lisboa, seguem-se dois em Vila Real, nos dias 24 e 25 de maio, ambos na Casa de Mateus, sendo o primeiro precedido de uma conversa com o pianista.

Burnester tocará depois as “Variações Goldberg”, no Mosteiro de Alcobaça, no dia 28 de junho, na Fundação da Casa de Bragança, em Vila Viçosa, distrito de Évora, no dia 18 de outubro, e a 30 de janeiro do próximo ano no Centro Cultural de Belém.

Em entrevista á agência Lusa, em dezembro, após a edição do novo álbum, Pedro Burmester admitiu que a obra voltou a hipnotizá-lo, encontrando 35 anos depois do primeiro disco um músico muito diferente com uma “leitura mais romântica, expressiva, pessoalizada”.

“É uma obra que, ao vivo, é extremamente difícil", disse então à Lusa. "Implica concentração imensa, e apresenta dificuldades técnicas muito específicas e fora do normal. Há 30 anos, fiz vários concertos com ela, e não devo ter ficado totalmente satisfeito. Devo ter dito: ‘agora, não pego mais nisto’. Digo isto porque agora, que as fiz outra vez já cinco vezes, acontece-me a mesma coisa”, revela.

O pianista de 60 anos apresentou o disco no ano passado em Sintra, Porto, Vila do Conde e Piódão, e os cinco concertos que deu - confessou - foram todos “diferentes”, sem ficar satisfeito com nenhuma das prestações, tendo também pensadas apresentações no estrangeiro, além dos recitais que hoje se anunciam.

O regresso às "Goldberg" aconteceu também “como homenagem” a um homem que Pedro Burmester admira, como pianista mas sobretudo como pensador, Glenn Gould, que fez precisamente esta dupla gravação com tanto tempo de permeio.

“Quando descobri Glenn Gould, o seu pensamento, marcou-me bastante. Regravar é também uma homenagem. As pessoas mais novas na minha área, se calhar, nem sabem quem ele foi. É uma forma de chamar a atenção para um homem que continua a ser atual, na maneira como se questiona e se posiciona em relação à interpretação, de forma de certa maneira provocatória. Ele dizia que as partituras posavam para ele e pintava-as como achava. Punha-se ao mesmo nível do compositor, algo que, confesso, não consigo fazer. Ele fazia, com grande coragem, frontalidade e inteligência”, comentou Burmester à Lusa.

Se, com 20 e poucos anos sentiu a postura de Gould “como uma revelação”, esse disco de 1989 tem “muitas influências” do pianista canadiano, e, sem ouvir a primeira gravação, pôs-se a pergunta: “Qual é a diferença entre mim hoje e o eu de há 30 anos?”.

“Uma maneira relativamente simples de tirar isso a limpo é olhar para uma mesma obra anos depois. (...) Confesso que tinha algum receio. Foi com algum alívio que descobri que [as gravações] estavam diferentes, que era o que me interessava”, analisou.

Quanto às questões técnicas desta obra publicada em 1741, consistindo em uma ária e 30 variações, a “mais complexa” torna-se simples de explicar na boca de Burmester.

“A obra é escrita originalmente para um cravo com dois teclados, o que significa que as mãos andam por todo o teclado, uma para ali, a outra dali para aqui. Quando transpomos para um só teclado, as mãos esbarram-se constantemente. Num piano, passo uma por trás, encolho um dedo para passar a outra...”, simplifica.

Natural do Porto, Pedro Burmester começou a estudar piano aos sete anos e aos dez iniciou a sua carreira concertística.

Durante dez anos foi aluno da pianista Helena Sá e Costa, uma das mais destacadas intérpretes de Mozart a nível mundial, que viu a sua atividade docente reconhecida pela Academia de Verão do Festival de Salzburgo.

Burmester terminou o Curso Superior de Piano no Conservatório do Porto com 20 valores, em 1981. Estudou ainda com Sequeira Costa, Leon Fleisher e Dmitry Paperno nos Estados Unidos, onde, no Concurso Van Cliburn, recebeu o Prémio Especial do Júri. Participou em 'masterclasses' de Jorg Demus, Aldo Ciccolini, Karl Engel, Vladimir Ashkenazy, Tatjana Nikolaiewa e Elisabeth Leonskaja.

Em 1983 foi segundo classificado do Concurso Internacional Vianna da Motta, em Portugal, numa edição em que não houve vencedor.

Além da música erudita fez incursões no jazz, tendo gravado e atuado com os pianistas Mário Laginha e Bernardo Sassetti.

Burmester é professor na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo do Porto.

Numa entrevista anterior, referindo-se às "Variações Goldberg", Pedro Burmester disse que “tem de haver Deus para haver esta música”.

O escritor Valter Hugo Mãe, que assina o texto que acompanha a edição discográfica mais recente, afirma: “A magnífica obra de Bach encontra agora o pianista numa interpretação que só pode fazer quem maturou e já atravessa o monumento musical em pura intuição. Este disco é o encontro de perfeitos. Bach e Burmester”.