Apesar da dupla ter alavancado em si todas as esperanças de que o rock não morreu e está a ser levado nos braços a um novo patamar, recebendo inúmeros prémios pelo seu álbum homónimo, a nível sonoro, mas também visual, e colhendo elogios de dinossauros como o próprio Jimmy Page, o sucesso de Mike Kerr e Ben Thatcher apenas pode ser explicado nos dias de hoje. Só numa altura em que urge a busca, por parte de cada vez mais pessoas, por mais do que o que nos chega musicalmente à porta, e em que existem as ferramentas para o fazer, é que uma t-shirt, utilizada por Matt Helders, baterista dos Arctic Monkeys, desperta o falatório e o burburinho em torno desta banda de baixo e bateria, que ainda nem o primeiro single havia lançado.
Dois anos depois, chegaram a Portugal para tocar para um Coliseu dos Recreios que vibrava com antecipação e era movido pela curiosidade. “Hole”, um b-side, abriu as hostes e, seguindo o curto repertório, os Royal Blood entregaram o que se esperava: uma descarga de adrenalina, suor e os grandes temas do álbum, diretos ao assunto, sem grandes conversas. A icónica capa do álbum homónimo cobria o fundo do palco do Coliseu, fazendo com que dois olhos penetrantes aparecessem e reaparecessem ocasionalmente, por entre o fumo.
Um concerto de energia constante, que o público acompanhou com todas as letras na ponta da língua e com entusiasmo crescente, ao som de malhas como “You can be so cruel”, “Little Monster” e “Careless”. Na plateia era visível e evidente a sede de rock, pelos saltos constantes e pelo moshpit que foi aberto em praticamente todas as músicas, ainda que nem sempre existisse espaço para tal.
“Estamos a ficar sem material, mas continuamos com muita energia”, disse Mike Kerr, incitando uma reação arrebatadora no público. De facto, o curto repertório, apesar da duração não ser inteiramente relevante, foi notório e deixou, tanto a vontade de ouvir algo mais, como a sensação de faltar algo. Possivelmente um pretexto para rever o duo em futuras paragens, se as houver.
“Out of the Black”, o primeiro single sonante que trouxe os Royal Blood ao mundo, foi guardado para o fim, qual doce ao fim da refeição, esticado a uma duração heroica, com pausas para aumentar a tensão, dando um final explosivo ao concerto.
Kerr ameaçava por vezes descer para junto do público e percorria o palco entre strobes, um palco grande que ficou cheio pela presença do baixista/vocalista e do “homem-touro”, como foi descrito pelo companheiro, que esmagava a bateria, acompanhando os riffs orelhudos. Enquanto isso, subia as estruturas de amplificadores montados no palco e foi às bancadas buscar um cachecol de Portugal. E, quando muitos se lançaram para apanhar a baqueta, Thatcher projetou-a para fundo no Coliseu, com uma força indomável.
Postura semelhante tiveram os compatriotas Bad Breeding, que, na primeira parte, surpreenderam com um noise rock agressivo e pungente, e um concerto de apenas meia hora, que deixou o “bichinho” para mais. A banda, ainda com apenas alguns singles lançados, como “Age of Nothing” e “Chains”, partiu desde logo a casa antes dos Royal Blood chegarem, com o vocalista a enrolar o fio do microfone em torno do pescoço, o guitarrista a subir também aos amplificadores e o baixista a atirar o baixo para um chão, num ato doloroso de ver.
Uma noite de rock irrepreensível, com o concerto de uma banda pronta a explodir. A prova de que o rock está vivo, com impulso animalesco e vigor incontornável. É favor preparar para a eclosão!
Alinhamento Royal Blood
1. Hole
2. Come on Over
3. You Can Be So Cruel
4. Figure It Out
5. Better Strangers
6. Little Monster
7. Blood Hands
8. One Trick Poney
9. Careless
10. Ten Tonne Skeleton
11. Loose Change
12. Out of the Black
Texto: Rita Bernardo
Fotografias: Nuno Bernardo
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