, single de avanço dum álbum que promete partir corações e saciar a fome dos eternos românticos com tendência para sonoridades rock.Um disco feito por Paulecas (voz e baixo), André Fadista (bateria) e João "Quico" Barros (guitarra), para todos.

Palco Principal – Hoje em dia, curiosamente, são ainda muitas as bandas que são formadas à boa maneira rock, com o seu começo em tempos de escola. Enquadram-se neste padrão?

Paulecas – A banda começou em 2004, com uma formação que foi mudando durante os anos. Juntámo-nos como amigos, depois de outros projetos anteriores. Falávamos que um dia íamos fazer “o projeto”, a banda da nossa vida - e foi assim que surgiram os Sebenta. A banda tem nove anos e estamos em 2013 com um terceiro disco.

PP - …Cujo single se chama “Grita pelo nosso amor”…

P – Sim, estamos numa fase em que as pessoas têm de gritar por aquilo que gostam, têm que lutar. Cada pessoa tem que considerar o seu principal amor, a sua primeira opção, seja ela o gosto pelo mar, pela música, por uma pessoa, pelo país, e fazer com que ele se sinta melhor. É uma expressão que tem a ver, não com um contexto político, mas social.

Quico Barros – O “Grita pelo nosso amor” é um tema que representa o lado libertador da mensagem, seja ela qual for. Como músicos, pretendemos provocar um sentimento que faça com que as pessoas se soltem, sem vergonhas.

PP - “Coração parte Um” é, por sua vez, o título do novo trabalho de estúdio. É um título que sugere uma futura sequela…

QB – Pode ser só um coração que partimos… Mas de certeza absoluta que irá haver um próximo álbum. “Coração parte Dois”? Talvez…

PP – É um disco que estabelece uma relação de continuidade ou de rutura com os anteriores?

P – O “Coração” continua a ter o som dos Sebenta, como banda de rock que é e que não vai deixar de ser. No entanto, não vamos tornar-nos numa banda completamente cega a novas tendências, a novas tecnologias. Durante o passar dos anos, desde o “Beijo”, que saiu em 2006, passando pelo “Efeito Secundário”, de 2008, até este novo disco, houve uma quantidade de situações que influenciaram as nossas definições enquanto banda. Não deixámos de tocar juntos e tocar ao vivo, mas fomos adiando a edição de um novo disco. Pretendia-se que não se perdesse o cunho Sebenta – ainda em bom estado de saúde –, mas que houvesse uma grande evolução, consequente de cada disco que se faz, de cada tournée, de cada espetáculo que é apresentado. Enfim, a continuidade dos Sebenta, durante os seus diversos processos, culminou num álbum mais maduro.

PP – Como sobrevive uma banda rock à conjuntura nacional atual?

QB – Nós temos esta conversa, sucessivamente. O primeiro ponto que temos de ter assente é que não decidimos ser músicos porque tínhamos de ser - foi mais uma escolha que partiu da música. A música escolheu-nos, nós aceitamos e fazemos isso como algo que amamos. Dificilmente nos imaginamos a fazer outras coisas, com tanta intensidade. Como é que nos vemos como músicos em Portugal? Obviamente, com alguma dificuldade, mas essa é a condição geral para qualquer profissão. Hoje em dia, não há profissões fáceis e a de músico não é diferente das outras. Requer muita perseverança, temos de ser sempre bons, temos de ser sempre nós, porque é assim que tudo faz sentido. Para nós, este é o único caminho que temos a percorrer.

PP – No final dos vossos álbuns, há sempre uma surpresa, bastante agradável, por sinal. Como surgiu a ideia da colaboração com o poeta José Luis Peixoto?

P – Ainda antes de editarmos o primeiro álbum, achávamos que tínhamos de ser diferentes em alguma coisa, no que toca à construção e alinhamento de um álbum – devíamos começar e acabar de uma forma diferente. Conseguimos a segunda parte, porque a primeira fez-nos começar como qualquer outra banda: com uma música (risos). Surgiu tudo de forma natural. Estava a ler um livro do José Luis – não me lembro se era o “Morreste-me” -, que me tocou imenso. Comecei, então, a ler mais das suas obras e a gostar cada vez mais da maneira como escreve. Quando apareceu a oportunidade de o conhecer, pensei: “Era fixe acabar de outra forma. Num álbum de 17 mil decibéis do tema 1 até ao 9, se calhar era bom descansar os ouvidos do pessoal na música 10.”. E descansar como? Tendo um poema declamado. E, certo dia, liguei-lhe: “Olá, sou o Paulecas, dos Sebenta, e gostava que escrevesses para nós”. Ele achou piada à ideia, embora nunca tivesse ouvido a nossa música. Combinámos um café nos Olivais, e ele mostrou-se extremamente simpático, apresentando-nos o trabalho dele e mostrando-nos a relação que tem com a música. A ideia de uma banda rock ter um disco que acaba desta maneira foi uma surpresa para o José Luís Peixoto. Contudo, a ideia da declamação surgiu da parte dele, que nos indicou a Margarida Cardeal. Foi uma colaboração com uma pessoa que não conhecíamos, mas fizemo-nos ao conhecimento. De 2006 para cá, construiu-se uma amizade forte, sempre com estra premissa de que qualquer álbum terá a participação dele. Quem sabe se um dia não sairá um disco só com poemas dos Sebenta...

PP – E porquê Sebenta? Para esta viagem pelos palcos de Portugal levam um caderninho convosco, onde apontam as vossas aprendizagens?

P – Inicialmente, teve a ver com isso, mas agora já não é tão assim. Quando estás na escola, tens um livro de rascunhos e nós também temos. Ainda ontem o Quico fez no seu caderno de rascunhos - que é um telemóvel fabuloso que ele tem – apontamentos de uma linha de guitarra, um ritmo. “Grava aí isso, para não nos esquecermos” - esta é a nossa sebenta. Não sei quando vamos pegar naquilo, mas daqui a um mês, um ano ou dois podemos revisitar essas notas. A banda criou-se tendo isso em conta. Ainda na antiga formação e até noutros projetos comentávamos: “Um dia temos que ir buscar aqueles sons que a gente às vezes curte”. Hoje, Sebenta não têm a ver só com isso. O “se” em pequeno e “benta” em maiúsculas quer dizer “se é sagrado”. Para nós, a música é sagrada. É um projeto com um nome que não tem só a ver com a vida da banda, mas com a vida de cada um. A vida é uma coisa sagrada. Quando demos o nome à banda, daí vieram uma série de significados. Não foi primeiro a associação e depois o nome, foi ao contrário.

PP – Lembras-te de outro nome que estivesse nessa lista que tinhas preparada para mostrar ao colegas da banda?

P – Lembro-me do meu avô (risos)… Na altura, estava no meu escritório e não me vinham grandes ideias à cabeça e ele apareceu, porque estava sempre muito interessado nas minhas produções, e disse: “Já sei uma série de nomes para ti!”. E eu comecei a rir-me à gargalhada… “Os magníficos” foi um dos nomes propostos. Lembro-me que o meu sogro também me disse um nome que me deixou a pensar: “Klaxon”. Na altura nem achei grande piada, mas o que é certo é que ficou na memória. Nessa altura, os britânicos Klaxons ainda não existiam. A dificuldade dos nomes tem a ver com o contexto temporal em que te inseres. Há nomes que podem não soar bem, mas acabam por ser kitsch, como por exemplo “Os Golpes”. O nome constrói-se.

PP – Reza a história que Kurt Cobain sugeriu o nome “Nirvana” para a sua banda porque na cena musical de Seattle os nomes das outras bandas eram todos muito fortes, agressivos, e ele queria algo que se destacasse, algo bonito, sensível…

P - Sim, “Nirvana” é uma coisa muito soft, muito zen. E, relativamente ao disco “Nevermind”, uma vez ouvi uns gajos de marketing que diziam que há aqueles estereótipos: “Se tiveres um bebé na capa, vendes mais”. E é verdade. Se fores a uma loja de discos e vires um álbum com a capa preta e outro com um bebé na capa, é esse que te chama a atenção.

P - a capa do “Nevermind” é, realmente, uma das capas mais geniais que já vi!

PP – Como tem sido a receção ao vivo deste “Coração parte Um”?

P – Os concertos têm sido fabulosos. Em 2013, contamos com 24 concertos marcados. Temos tido sempre casa cheia e, se não tivermos, é por algum problema de promoção do evento - às vezes acontece. Até agora, está a ser muito gratificante.

PP – Entre os temas mais antigos e as novas criações musicais, qual vos dá mais “pica” inteprretar?

QB – Na generalidade, todos eles me dão muita pica, porque Sebenta é muito enérgico. Em concerto – costumo dizer isto na brincadeira – o meu som de distorção nunca se desliga, nunca toco um,som limpo (risos). Nunca desligo aquele botão e, obviamente, isso é um sinal de animação. Mas o último single é, neste momento, aquele que me faz viver o impacto do espetáculo. É um tema que, em termos de estrutura, tem muitos momentos e vive um pouco da improvisação, e isso é uma magia que, em temas mais definidos, existe menos.

P – Este tema de que o Quico está a falar tem esse contexto semi-improvisado, que nos obriga a uma coisa: não falhar. Nós não somos máquinas e às vezes sai uma nota que não estávamos à espera (risos), mas há uma exigência muito grande. Quando tens um tema «muit’abrir», é difícil evitar o «prego». O rock é uma música de pressão e de expressão. Às vezes, a primeira é tão forte, que te toca mais a mensagem musical e lírica do que se houve ali um gajo que mandou uma nota ao lado. O rock é uma locomotiva que não para. Começa num bpm e acaba noutro completamente diferente. Podes ter um metrónomo, mas tens que ter uma coisa que se chama groove. Este é um tema que exige uma concentração especial da minha parte e da parte do Quico. Ela só é bem tocada, se for tocada com alma. Não se trata de sermos músicos muito certos – que temos de ser, como é lógico. Trata-se de emoção. As pessoas não têm noção do soul que é preciso dar àquela música. Sabes, a Amália cantava fados e a voz dela sempre me impressionou - aquele timbre é lindo. Mas a Amália nunca cantava um fado da mesma maneira e isso é o que mais gosto nela. A música vive por isto.

PP – Que artistas e bandas mais vos influenciam?

QB – Somos três indivíduos que cooperam para um final comum, mas não deixamos de ter as nossas influências separadas. Influenciam-nos as grandes bandas rock, sejam nacionais ou internacionais, nomeadamente os Foo Fighters, pelo seu estilo de vida, conceito e por aquilo que representam no panorama musical.

P – Também os Placebo, cujo concerto no Coliseu foi maravilhoso, os Muse… Há, contudo, que perceber que influência não quer dizer cópia.

PP – Alguns dos temas dos Sebenta integraram a banda sonora de séries televisivas portuguesas. Idealmente, que tipo de filme seria uma boa casa para a vossa música?

P – Teria que ser um filme do Tarantino, um “Pulp Fiction”, por exemplo. Ou do (Giuseppe) Tornatore. O “Cinema Paraíso”, por exemplo, que tem uma carga emocional e um argumento sui generis. Adoraria fazer a banda sonora para um filme sobre a vida, sobre o amor, como este. Curiosamente, desde o início dos Sebenta que falamos em fazer uma banda sonora, criar um álbum à volta dum filme.

PP – Poderão sempre fazê-lo em palco…

P – Isso é uma coisa que o Legendary Tigerman e a Rita Redshoes fizeram… Sebenta não é tão surrealista. Teria que ser um filme com uma história mirabolante, com tiros, álcool e cabarets; ou um filme documentário, como o Grohl fez com o “Sound city”.