Por volta das 22 horas já o trono aguardava, no centro do palco, a chegada do monarca. Mas, e como falamos de nobreza, a chegada de Solomon Burke seguiu vários rituais. Primeiro, a chegada da corte, a sua banda, que preparou musicalmente a chegada. Depois as luzes apagadas. E, após um truque de magia digno de um Houdini, a aparição. As luzes acendem-se e, surpresa, ei-lo em palco no seu cadeirão!
E foi por lá que permaneceu durante todo o concerto sem nunca perder, no entanto, a energia. E foi também a partir do seu trono que marcou logo desde início o tom do espectáculo: nunca meloso, sempre honesto (mesmo quando os lamentos do soul parecem exagerados de mais para serem verdade).
“Flesh and Blood” e, logo de seguida, “Cry to Me”, um dos seus maiores êxitos, arrancaram com a festa que Burke prometeu logo no início. Mas, no início, o público parecia pouco preparado para festejos. Solomon Burke acenou, distribuiu rosas, cantou clássicos como “That's How I Got To Memphis, “Got to get you off of my mind” ou “Georgia on my Mind”, onde até distribuiu rosas ao público, mas não acolhia o mesmo entusiasmo do lado de cá.
Foi preciso um medley com “Send me some lovin’”, “I can’t Stop Lovinn’ You” e “Down in the Valley” para que a assistência se libertasse e decidisse avançar para a frente do palco e fazer a festa junto de Burke. E a partir daí o concerto entrou no trilho correcto.
Joss Stone chegou, toda ela feita de sorrisos. A “princesa do Soul” (não fomos nós a conceder o título, foi o próprio Solomon Burke) começou por cantar duas canções suas a solo, ainda que sob o olhar do mestre. “Tell me What We’re Gonna do Now” e “Free Me” serviram para perceber que quem estava à nossa frente era mais do que uma miúda de 23 anos.
Sozinho de novo em palco, Burke não perdeu tempo e arrancou com “Proud Mary” e a balada “Don’t Let Love Slip Away”, onde os isqueiros acesos cresceram como cogumelos para entusiasmo do músico.
“Don’t Give up on Me” foi talvez o ponto alto da noite, com Joss Stone, já de regresso ao palco, em completa sintonia com Solomon Burke e com declarações mútuas a saltarem de um para o outro. “Sittin on the Dock of the Bay”, para recorder o amigo Otis Redding, “Stand by Me” e “Super Duper Love” aumentaram ainda mais o entusiasmo na assistência. Mas o concerto não podia terminar sem o clássico “Everybody needs somebody to Love”, que encerrou a noite já com uma pequena invasão de palco e em festa, como anunciado logo no início.
No final, as luzes voltaram a apagar-se para que o trono ficasse vazio de novo mas Burke não resistiu e surgiu, ainda que por instantes, para dançar um pouco (e de pé) antes de voltar a sentar-se na cadeira de rodas que o levou de volta aos bastidores.
“I love you tonight”, repetiu algumas vezes Burke durante o concerto. Pode ter sido uma “one night stand” mas para a maior parte do público pode ter sido o suficiente para deixar um coração quase partido, digno de uma canção soul...
Texto: Frederico Batista Fotos: Vera Moutinho
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