Mais pesado e introspectivo do que os antecessores “Metalmorphosis” ou “Dream Maker”, Spiral of Fear” é o testemunho de um olhar atento e amadurecido sobre o mundo por parte de quatro músicos multi-facetados – Jorge Marques (voz), Paulo Barros (guitarra), Luís Barros (bateria/ produção) e José Aguiar (baixo). O Palco Principal esteve à conversa com Jorge Marques que, entre outros temas, nos falou sobre o processo criativo da banda, a relação com a nova editora e o panorama musical actual.
Palco Principal - Os Tarantula voltaram aos discos com ”Spiral of Fear”, editado em 2010, que será apresentado ao público amanhã.Porquê cerca de oito meses até à apresentação do CD?
Jorge Marques - A razão é simples: temos estado envolvidos em diversos projetos, o que fez com que a apresentação do álbum fosse adiada por diversas vezes. Também não sentimos nenhuma pressão para o fazer, achamos que esta seria a altura ideal para partilhar as novas músicas com os nossos fãs.
P.P. - “Dream Maker” em 2000, “Metalmorphosis” em 2005 e “Spiral of Fear” em 2010… Cinco anos é o tempo ideal para explorar um álbum e amadurecer ideias para o seguinte?
J.M. - Realmente, as datas de edição destes três últimos álbuns parecem fazer crer que é premeditado. A verdade é que nunca pensamos muito nisso, as músicas vão surgindo e com isso outras ideias vão ganhando consistência. Não temos pressa em criar, fazemo-lo com toda a naturalidade e espontaneidade. Como disse anteriormente, estivemos envolvidos em diversos projetos, entre estúdio, escola de música, teatro musical, álbuns a solo, neste caso do Paulo Barros, etc… É inegável que estes fatores têm influência, por outro lado, é necessário tempo para criar um álbum.
P.P. - Depois de tantos anos de relacionamento com a alemã AFM e com o produtor Tommy Newton, “Spiral of Fear” surge através da independente Gluetone, com produção de Luís Barros. Sentiam a necessidade de ter um controlo maior sobre o vosso trabalho?
J.M. - O que aconteceu é que cumprimos o nosso contrato com a AFM e, ao apostarmos na Gluetone, uma nova editora composta por gente com a qual temos trabalhado há alguns anos em Portugal, sabemos obviamente com quem lidamos.E o facto de haver maior proximidade com a editora,permite, realmente, um maior controlo sobre o nosso trabalho, independentemente disso ser uma necessidade ou não.
P.P. - No contexto actual da indústria discográfica, ainda compensa fazer discos e gravar videoclips ou, para o artista, trata-se de continuar a deixar a sua marca?
J.M. - De fato, os tempos mudaram e muito. Por um lado, os canais de divulgação multiplicam-se, por outro lado, por vezes essa divulgação não é feita da forma mais conveniente, acabando por ter efeito contrário às pretensões de qualquer grupo, atendendo ao investimento em causa. No entanto, é fundamental que qualquer artista se adapte da melhor forma a esta situação que, realmente, é paradoxal.
P.P. - Tem sido dito que “Spiral of Fear” é, musicalmente,muito mais pesado e negro do que os vossos últimos trabalhos, mas nota-se, em alguns temas, uma abertura à experimentação com outros ritmos e sonoridades que não eram muito habituais nos Tarantula. Quando começaram a trabalhar no novo álbum definiram algum caminho em especial?
J.M. - Tínhamos em mente o que queríamos fazer após os álbuns “Dream Maker” e “Metalmorphosis”. Queríamos fazer algo com uma sonoridade mais densa e, ao mesmo tempo, sem descaraterizar a nossa música. Penso que este álbum, apesar da diversidade dos temas, tem coerência, embora não seja um álbum propriamente concetual.A temática, ainda que com algumas divagações pelo meio, acaba por ligar as músicas entre si, havendo um determinado fio condutor.
P.P. - Além da crítica social, há uma dimensão espiritual muito presente nas letras do CD. Concorda?
J.M. - Concordo em absoluto e agradeço esta observação, é sinal que a mensagem está clara. A minha intenção, no que diz respeito às letras, foi a de tocar em certos assuntos que me incomodam, como vem sendo,aliás,habitual. Ao mesmo tempo, tentei abordar temas que nos são comuns mas que, muitas vezes, são esquecidos, como por exemplo, a vida para além da morte. Tenho sempre a preocupação de transmitir algo de positivo, de forma simples e clara, o que nem sempre é fácil.
P.P. - Esta é mesmo uma nova «Idade das Trevas»? Como é que se quebra este ciclo de medo, que continuamos a alimentar, com alguma ingenuidade?
J.M. - Pois...não quero ser pessimista, mas a ameaça de uma nova “idade das trevas” é bem real. Vivemos tempos de grande incerteza, é natural que o medo se instale e cresça, que possam surgir conflitos e revoluções. Os sinais de alerta são cada vez mais evidentes e o panorama não é nada animador. Espero, sinceramente, que esta seja apenas uma fase de transição, para algo melhor. O futuro, ninguém o pode prever, mas tenho esperança que este ciclo que o mundo atravessa possa ser ultrapassado.
P.P. - Ao longo dos anos, os Tarantula deram a mão a muitas bandas novas e os Rec’n Roll têm sido mais do que um estúdio ou uma escola e tornaram-se espaço de encontro e de apoio para várias gerações de músicos ligados ao rock e ao metal. Aceitam o título de «Pais do Metal Português»? Como é que vêem o panorama musical nacional neste momento?
J.M. - Bem, é inegável que estamos na génese do estilo em Portugal e, como tal, é natural que muitos nos atribuam esse título, mas não fazemos disso uma bandeira ou motivo para qualquer protagonismo. Os Tarantula sempre tiveram como objectivo primordial fazer apenas e exclusivamente música, a que mais gostamos de fazer. Com o tempo, fomos construindo uma carreira, algo impensável para um grupo do género no nosso país. Essa é a nossa grande demanda, que continua passadas três décadas. O panorama musical nacional, em minha opinião, é algo que se vai repetindo no tempo, isto é, há sempre aquela sensação que as coisas pouco mudam, apesar de sempre surgirem bons valores na música em Portugal, talentos que emergem num ápice mas que, se não tiverem estrutura capaz de aguentar as dificuldades inerentes, ao primeiro obstáculo desaparecem, enfim algo que não é novo. Os meios de divulgação são cada vez maiores e acredito que isso poderá ser uma mais-valia para, pelo menos, essas bandas poderem mostrar a sua música…
P.P. - Além de músico, mantém uma carreira como artista plástico. Estas duas formas de expressão complementam-se? Onde é que podemos ver o seu trabalho?
J.M. - Sem dúvida que são duas forma de expressão artística que se complementam e por isso me sinto um privilegiado. Fazer o que mais gosto é algo que agradeço muitas vezes. Acima de tudo, tenho a possibilidade de partilhar a minha arte, o que é muito gratificante.
Acabei de participar numa exposição coletiva no Hotel “Castrum Villae”, em Castro Laboreiro, estando a estudar possíveis exposições ainda este ano. Neste momento, as minhas obras podem ser vistas no meu blogue ou no facebook. Assim que possível, terei um site dedicado exclusivamente à pintura e será anunciado oportunamente.
P.P. - Depois do concerto de sábado, onde é que podemos ver os Tarantula ao vivo?
J.M. - Posso dizer que o próximo concerto, em princípio, será nos Açores. Temos ainda algumas datas por confirmar... Entretanto podem consultar o nosso site, onde terão toda a informação necessária.
P.P. - Muito obrigada.
J.M. - Eu é que agradeço, em nome dos Tarantula. Um grande abraço para todos!!!!!
Liliana Nascimento
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