O cantor Marco Paulo morreu esta quinta-feira, dia 24 de outubro, aos 79 anos, noticiou a estação de televisão SIC Notícias, do mesmo grupo de media onde tinha um programa semanal. Marco Paulo foi diagnosticado recentemente com dois cancros, um no pulmão e outro no fígado.

Nas redes sociais, colegas e amigos têm recordado o cantor, intérprete de êxitos como “Eu tenho dois amores” e “Maravilhoso coração”.

No Instagram, a SIC agradeceu a Marco Paulo "por tudo". "Obrigado pelas canções. Pelos sorrisos. Pela inspiração. E pela demonstração de força e garra ao longo de todo o caminho. Mas, acima de tudo, por seres sempre tu — na música, nos palcos, na televisão e na vida. Foste sempre maior do que a vida, querido Marco. Obrigado por tudo. E até sempre", escreveu a equipa da estação de televisão.

Na sua conta no Instagram, Cristina Ferreira, da TVI, recordou o cantor. "O Marco não precisa de grandes explicações. Foi um dos maiores artistas deste país. Deixa as canções mais emblemáticas. Nossa senhora lhe dê a mão. Obrigada, Marco", escreveu a apresentadora.

"Se há pessoa que soube honrar a vida, essa pessoa foste tu", começou por frisar Fátima Lopes. "Nunca desististe, lutaste sempre até ao fim. Ensinaste-nos todos os dias o efeito e a força que o amor tem em nós. E ensinaste-nos que, rodeados desse amor, conseguimos superar-nos e conseguimos ir até onde achávamos que não seria possível. Foste sempre uma força da natureza, um verdadeiro vencedor", acrescentou.

"Devemos-te um enorme Obrigada! Obrigada pelo tanto que nos deste. Obrigada pelo tanto que partilhámos juntos. Até sempre, meu querido", rematou a apresentadora.

"Um grande aplauso!! Meu querido, nosso querido Marco", escreveu João Baião nas redes sociais.

"Querido Marco Paulo, que triste estou com a tua partida. Que descanses em paz e obrigada por tanto amor ao público, com as tuas canções, que como tu, serão eternas! Beijo carregado de saudades", escreveu Teresa Guilherme.

Na sua conta no Instagram, Daniel Oliveira destacou a ligação do cantor à SIC.  "Quis cantar até ao fim, quis fazer o programa até ao fim. Quis receber todos até ao fim. Quis ser tudo até ao fim. Rimo-nos todas as vezes em que estivemos juntos. Todas mesmo, até nas últimas. Desafiou todos os terríveis diagnósticos que teve ao longos de 3 décadas e manteve-se fiel à pessoa que sempre foi", frisou Daniel Oliveira na sua conta no Instagram.

No texto, o apresentador recordou que "o programa na SIC lhe trouxe o entusiasmo de ter a sua casa cheia de gente todas as semanas, de estar em contato com o seu público". "E deu-lhe uma parceira, a Ana, e uma equipa a que chamava de família e a quem vai deixar muitas saudades. Tinha uma voz portentosa e inimitável, que ficará viva, num legado ímpar que deixa ao cancioneiro popular português", elogiou.

"A SIC honra a sua memória e estamos-lhe gratos por tudo o que fizemos juntos. Uma palavra para os seus mais próximos, que tudo fizeram até ao último momento para que fosse em paz o seu 'Maravilhoso Coração'", rematou.

Mónica Sintra também se despediu do colega nas redes sociais: "Querido Marco. Hoje queria falar contigo. Receber o teu abraço e olhar para o teu sorriso. Serás eterno. Obrigada por tudo. E por cada coisa. Até sempre".

No site da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa também recordou Marco Paulo. "O Presidente da República recebeu com pesar a notícia do falecimento do cantor Marco Paulo, que esteve presente na vida musical portuguesa longas décadas, e apresente os seus amigos sentimentos à família, amigos e admiradores", pode ler-se na nota.

"Presto sentida homenagem a Marco Paulo, grande referência da cultura portuguesa que hoje partiu. Deixa um legado musical marcante, que atravessa gerações e une Portugal. Condolências pessoais e do Governo à família e amigos", escreveu Luís Montenegro nas redes sociais.

No X, antigo Twitter, a autarquia lisboeta também homenageou o cantor: "A Câmara de Lisboa lamenta a morte de Marco Paulo e envia sentidas condolências à família e amigos do cantor".

Nuno Markl também se despediu de Marco Paulo e recordou uma das suas canções. "No meio de uma carreira monumental, conquistando quem o ouvia com o coração e quem o ouvia por diversão, o meu momento favorito sempre foi esta proeza: Ninguém Ninguém, com aquelas rajadas de versos disparadas sem sacrifício de nenhuma sílaba, e aquele refrão épico que se divide em dois, é, sem sombra de ironia, uma das minhas “canções ligeiras” - chamemos-lhe canções pop - favoritas de sempre", escreveu o apresentador e radialista na sua página no Instagram.

O cantor, cuja carreira esteve ligada durante cerca de 34 anos ao produtor musical Mário Martins na discográfica Valentim de Carvalho, construiu um repertório maioritariamente de versões em português, tendo optado por um modelo de atuação no esteio de nomes como Tony de Matos (1924-1989), Rui Mascarenhas (1929-1987) e António Calvário.

"O perfil artístico que desenvolveu gerou controvérsia pela imagem e estilo interpretativo que cultivou, popular”, lê-se na “Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX” (2010).

Segundo a sua biografia oficial, “50 Anos a Viver um Sonho” (2017), de Cristiana Rodrigues e Ana Oliveira, Marco Paulo cantou pela primeira vez num casamento, quando tinha pouco mais de 11 anos, tendo interpretado “La Campanera”, do repertório do 'cantor-menino' espanhol Joselito.

Marco Paulo é o nome artístico de José Simão da Silva, uma escolha do produtor Mário Martins e do letrista Eduardo Damas (1922-2005), definida quando o seu contrato com a discográfica Valentim de Carvalho ficou firmado, contou à Lusa Mário Martins.

O cantor nasceu em 21 de janeiro de 1945 em Mourão, no distrito de Évora, e mais tarde foi viver com os pais para Alenquer, no distrito de Lisboa, onde fez parte fez parte do rancho folclórico local, a partir de 1958.

Em 1963, fixou-se com a família no Barreiro, na margem sul do rio Tejo, no distrito de Setúbal. Aqui passou a ter aulas de canto com a soprano Corina Freire (1897-1986).

Em 2017, em entrevista à agência Lusa, o cantor recordou “a pessoa que o descobriu", a fadista Cidália Meireles (1924-1972), que na década de 1940 se celebrizara no trio das Irmãs Meireles. A fadista ouviu-o num ensaio com a cantora lírica, e levou-o ao seu programa na RTP, “Tu cá, tu lá”, em meados de 1965.

“Foi aquele momento, aquela hora, que despontou tudo”, disse Marco Paulo. De imediato seguiram-se as primeiras gravações, as participações no Festival da Figueira da Foz, em 1966, com a canção "Vida, alma e coração", de Eduardo Damas e Manuel Paião, e no Festival RTP da Canção, em 1967, com “Sou tão feliz", de António Sousa Freitas e Nóbrega e Sousa. Voltou ao Festival da RTP em 1982, com “É o fim do mundo”, de João Henrique e Fernando Guerra.

O seu disco de estreia, "Não sei", de 1966, foi uma versão de António José da canção “Vorrei”, dos italianos Sergio Bardotti e Gian Piero Reverberi, gravada pelo francês Alain Barriére, em 1965.

Seguiu-se um disco com Simone de Oliveira, com a qual gravou “Tu e só tu”, uma versão de “Something Stupid” (Carson Parks), gravada em 1966 por Nancy e Frank Sinatra.

Em 2016, quando celebrou 50 anos de carreira, em declarações à Lusa, o intérprete de “Ninguém, ninguém” afirmou que vendeu milhões de discos, gravou mais de 70 álbuns e EP, contabilizando 140 galardões de platina, ouro e prata, e um de diamante.

Marco Paulo argumentou que conhecia o país "como poucos", pois atuou “em todo [o território], de cidades a vilas e aldeias”, sem esquecer os antigos territórios ultramarinos sob administração portuguesa, e as comunidades portuguesas em França, Alemanha, Estados Unidos, Canadá, Venezuela e África do Sul, entre outros locais.

Uma “carreira imensa” da qual se afirmava grato, reconhecida em 2016 com um Globo de Ouro/SIC-Caras por Mérito e Excelência.

À Lusa, fazendo um balanço de carreira, em que até foi atração de circos, onde cantava "Jesus Cristo", de Roberto Carlos, a fechar a atuação, Marco Paulo foi perentório: “O público foi fundamental”.

“Quem me fez chegar aqui foi o público, de todas as idades e de todas as condições. Foram eles que compraram os meus discos, que assistiram aos meus concertos”, disse, referindo ter tido “sempre gente muito competente” ao seu lado, de produtores a músicos, compositores e autores.

Entre outros, Marco Paulo trabalhou com António José, Mário Martins, Rosa Lobato de Faria, Joaquim Luís Gomes, Fernando Correia Martins, Jorge Machado, Shegundo Galarza, Luís Filipe e Emanuel, entre músicos, escritores/letristas, produtores.

Marco Paulo representou Portugal em festivais como as Olimpíadas de Atenas, em 1970, com "O homem e o mar", ano em que também realizou uma digressão pelo Canadá, e no da Organização Ibero-americana de Televisão (OTI), em Miami, nos Estados Unidos, em 1989, com a canção “Rosa morena”.

O cantor apresentou dois programas na RTP, "Eu tenho dois amores" (1994) e "Música no coração" (1996), que adotavam títulos dos seus êxitos, e um na SIC, com Ana Marques, “Alô, Marco”.

“Taras e manias”, “Nina”, "Joana”, “Morena, morenita”, “Sempre que brilha o sol”, “Como passaram os anos”, “Só falei para te dizer que te amo”, versão do sucesso de Stevie Wonder, foram alguns dos êxitos de uma carreira que ganhou novo impulso em 1977 com sucessos como “O comboio da meia-noite” e “Mulher sentimental”.

Em 2016, Marco Paulo prometia continuar a cantar, enquanto se 'sentisse bem' e projetava novos álbuns.

“Não estou a pensar terminar daqui a dois anos, ou deixar de cantar. Eu quero continuar a cantar enquanto o público me deseja e eu sinta que o posso fazer. Se me sentir bem e [se sentir] que as pessoas me apoiam, quero continuar a cantar, mas não vou andar aí a arrastar-me. Vou continuar a ir aos sítios onde eu gosto e me sinto bem”.

Em 2017, Marco Paulo publicou o duplo álbum "Ao Vivo No Campo Pequeno - Tour 50 Anos", que assinalava o meio século de carreira; em finais de 2019, depois de ter atuado nesse ano na então Altice Arena, publicou o CD/DVD "As nossas canções", a que se seguiram os 'singles' "Abraça-me", "Adeus, adeus (Bella ciao)" e "Jesus Salvador".

Em maio de 2022, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou o cantor com a comenda da Ordem do Infante D. Henrique, e Marco Paulo publicou o seu derradeiro álbum de estúdio, "Por ti", anunciado pela editora Espacial, que o representou nos últimos anos, com quatro inéditos de José Cid, Elton Ribeiro, Miguel Gameiro e Nelson Canoa, a par de versões de Roberto Carlos, Erasmo Carlos, e de uma homenagem a Dino Meira.

Em junho desse ano, o artista anunciou que sofria um cancro no pulmão, mas afirmou acreditar que ia ultrapassar a doença.

"A primeira vez, há 18 anos, os médicos viram os meus exames e davam-me três meses de vida. Ainda cá estou, mas sempre em vigilância", disse o cantor recordando outro episódio oncológico detetado na mama.

"Eu sou muito positivo. Quem já passou por quatro problemas de saúde complicados e vai para o quinto... Tenho a sorte de me rodear de médicos que me permitem tratar-me."