Outrora um renomado cabaret, o Fontória Blues Caffe, em Lisboa, serviu de varão para a 6ª edição do muito sensual Festival Alternativo da Canção, sábado à noite. O grande vencedor foi um gorila e a sua banana marota - que fez estragos. Ena pá, isto até que merecia um Manuel João Vieira.
Para quem não está situado, o Festival Alternativo da Canção é a mesmíssima coisa que o Festival da Canção – tirando o facto de ser fixe. Não tivemos um Eládio Clímaco, mas Fernando Alvim e o retornado Humberto Bernardo cumpriram com distinção. A lição a tirar daqui é simples: quando uma música é feita propositadamente para ser má, torna-se boa. A noite de sábado teve dez atuações - melhor dizendo, uma atuação e nove... cenas.
- Alfredo Marciano, com “Bota Cavaco”: Com a mão repleta de anéis pindéricos, Alfredo não veio de Marte, mas era para lá que ostracizava Cavaco, se pudesse. Num trocadilho fonético perspicaz, exortou-nos a botar – em vez de votar – o Presidente da República “num buraco, dentro de um saco”.
- Smiley Face, com “Fico à Sombra e Não”: O Cavaco grande já era, mas Smiley Face veio de cavaquinho para disfarçar um pouco o cheiro a pimba – que se alastrou graças aos seus quatro backvocals. Provavelmente, o mais discreto de todos.
- Cantando os Azuis, com “Cirurgia Desnecessária”: Quando se usa a escala pentatónica de blues para cantar sobre uma amiga que fez uma redução mamária por ter dores nas costas, quaisquer comentários são desnecessários também.
- Lucrécia Almar, com “Borboleta Negra”: Com uma máscara tipo catwoman e em trajes de viúva, Lucrécia veio para espantar (atiçar?) os espíritos maus.
- Sorvetes, com “Super Fruta”: Pelo calor tropical com que contagiaram a plateia, ameaçavam ser sérios candidatos à vitória. As camisas havaianas escancaradas, com a penugem peitoral à espreita, valeram-lhes o segundo lugar. Sai uma água-de-coco.
- Toni Delmar, com “Sadomasoq”: Um verdadeiro DJ live set, com mixagens fortíssimas a partir de laptops de brincar - formato Magalhães. Numa das t-shirts deste ‘trio admira’, lia-se “Nasci para pecar”. Mesmo pecando, alcançaram o terceiro posto.
- Lcomandante & General, com “O Gorila que Invadiu o Sonho da Minha Amiga”: Sonhos molhados, stripteases, bananas a voar (e outra colocada sobre a pélvis), entre outros impropérios. Enfim, parabéns a estes tropas pela conquista – que o público tanto vaticinou. Sem dúvida que transportaram o Fontória para os seus tempos de glória.
- Zé Óscar, com “Puxa-me o Lustro”: Este Zé era literalmente um Oscar (em látex, é certo, mas igualmente douradinho). Não ganhou foi nenhuma estatueta. Nem havia muito por onde puxar...
- Milino Sur Bissal, com “Carne de Vaca”: [Como é que se diz WTF em bom português? Será MQP?] Foram demasiado alternativos para um festival alternativo. Ainda assim, o vanguardismo valeu-lhes uma menção honrosa do júri.
- Lena D’Água, com... música: Anunciada como Ana Malhoa, Lena D’Água secou-nos a sede. A convidada especial de Alvim mostrou que, afinal, o tempo não passa por cima de todos. Primeiro com “Dou-te um Doce” e “Sempre que o Amor me Quiser”, e depois com um brilhante a capella de “A Culpa é da Vontade”, a filha de José Águas marcou golo nos nossos corações.
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