“É um romance bastante político que aborda temas que vão ressoar [como atuais] nos ouvidos de muitos leitores”, disse o escritor e historiador espanhol em entrevista à agência Lusa, sobre a obra que aborda o lado mais humano, perene e comum do rei que, há mais de 2300 anos, conquistou a Pérsia e estabeleceu um dos maiores impérios do mundo antigo.
“A história repete-se, e quando não se repete, rima. Desde o tempo de Alexandre que os homens lutam pelo poder e pelo território. Hoje, infelizmente, verificamos que continua a ser uma máxima do comportamento humano. No entanto, as fontes históricas fazem referência (e é assim que o represento no romance) a grandes doses de humanidade e clemência que Alexandre demonstrou para com os seus inimigos, algo que poucos conquistadores na história fizeram”, realçou o romancista.
“O episódio em que, após derrotar o exército persa, Alexandre adotou a família real persa como sua, em vez de a vender como escrava, como teria feito qualquer general do seu tempo, dá-nos uma compreensão da humanidade desta personagem. Não era simplesmente um tirano ansioso por acumular poder”.
“Este é um romance que procura o homem por detrás da grande lenda. Quem foi aquele jovem de 20 anos que conquistou o mundo? Sentiu medo, como nos teríamos sentido no seu lugar? Qual o preço pessoal que Alexandre pagou por ser ‘Alexandre, o Grande’? Estas foram questões que me interessaram quando me sentei para escrever”, afirmou Alfonso Goizueta à Lusa.
O autor espanhol reconheceu que “Alexandre é uma daquelas personagens conhecidas e estudadas por muitos”, mas realçou que o seu livro “não é uma tese de doutoramento, nem pretende ser um ensaio”.
Goizueta procurou desvendar o homem que foi rei dos macedónios e um dos mais ilustres conquistadores: “Este é um romance que procura o homem por detrás da grande lenda”.
“É simplesmente um romance através do qual o autor conta uma história para abordar alguns dos problemas que atormentam a espécie humana. Neste sentido, interessava-me contar um Alexandre distante de tudo o que vimos noutros romances ou filmes; interessava-me o Alexandre mais frágil, mais humano, com quem pudéssemos ter empatia”.
A Goizueta interessou ver “o que esconde o poder dos grandes conquistadores". "Muitas vezes imaginamos personagens como Alexandre, César ou Napoleão movidos apenas pela ambição e pelo orgulho. Em muitos casos foi assim, mas focarmo-nos apenas nisso deixa grande parte destas personagens às escuras, o que tem a ver com a sua personalidade, com os seus traços mais humanos, com a sua psicologia”.
Para elaborar “Alexandre, o Grande. O Sangue do Pai”, fez “uma investigação árdua que demorou três anos”.
“Escrevi o romance enquanto fazia o doutoramento em Relações Internacionais no King’s College. O processo foi difícil e ocupou grande parte do meu tempo. Estudei a partir das fontes antigas que falavam de Alexandre, dos textos de autores romanos como Plutarco e Flávio Arriano, dos escritos (mais fantasiosos) de escritores romanos tardios como Pseudocalistenes [autor de 'Romance de Alexandre Magno'], e também de uma bibliografia muito extensa de helenistas modernos. Como sou historiador de formação, a investigação foi um verdadeiro prazer”.
O interesse pela Antiguidade Clássica foi-lhe despertado pela professora primária “que iniciava as aulas lendo um episódio da mitologia grega”.
“Fascinou-me e despertou a minha paixão pelo mundo clássico. Escrever este romance foi regressar a esse mundo”, disse Goizueta à Lusa.
O romance histórico, defendeu o autor, “é um bom género para aproximar o leitor de um período histórico ou de uma figura histórica e aumentar o seu interesse por eles”, "mas não deve ser tomado como uma fonte histórica fidedigna", ressalvou.
"Sou um romancista, não um helenista, e o que me interessa em Alexandre, o Grande, é imaginar como seria o homem por detrás do rei para fornecer um retrato humano das lutas pelo poder, a solidão do trono..."
Alfonso Goizueta lembrou Gabriel García Márquez, "o autor que mais [o] influenciou", e o seu romance "O General no seu labirinto", sobre os últimos dias de Simón Bolívar.
Para o Nobel da Literatura, recorda o autor de "Alexandre, o Grande", o historiador que procura a representação de uma personagem histórica na ficção, está a procurá-la no lugar errado: "Quando uma personagem entra no reino da ficção, torna-se uma personagem fictícia e, por isso, é produto e obra do seu autor. Isto não significa que o romance não seja bem documentado ou fiável - é -, mas [trata-se de] uma figura histórica para refletir sobre temas romanescos, temas humanos, para criar, enfim, Literatura”.
“Alexandre, o Grande. O Sangue do Pai”, nas palavras de Alfonso Goizueta, é assim "um romance humano que nos apresentará um homem cuja personalidade e psicologia nos podem ser familiares a todos".
"Tive interesse em falar de temas como a solidão, o amor, as angústias da vida, o desejo de aventura, a nostalgia da juventude… Neste caso utilizei a história de Alexandre Magno como vetor para discutir estes temas”.
Alfonso Goizueta, nascido em 1999, em Madrid, é licenciado em História e Relações Internacionais pelo King's College, em Londres e doutorado em Relações Internacionais pela mesma universidade.
“Alexandre, o Grande” foi finalista do Prémio Planeta, no ano passado. Goizueta é autor do artigo “Forging Liberal States: Palmerston’s foreign policy and the rise of a constitutional monarchy in Spain, 1833-7”, publicado em 2021 na revista Historical Research, e dos livros “Los últimos gobernantes de Castilla: Isabel la Católica, Cisneros e Isabel de Portugal” (2018) e “Limitando el Poder, 1871-1939: Historia de la Diplomacia Occidental” (2017).
Editado em Portugal pela Planeta, “Alexandre, o Grande. O Sangue do Pai” tem tradução de Ana Maria Pinto da Silva.
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