Uma peça "sobre a ilusão do poder" que tem por objetivo "falar sobre os meios de produção musical" da atualidade "e um certo imaginário de que a juventude vive impregnada", disse o diretor artístico da companhia à agência Lusa.

"Um imaginário que dantes viam na MTV e que agora veem através das redes sociais do sucesso", por contraponto ao que não lhes é "muitas vezes contado, que é o trabalho que dá ter sucesso", acrescentou Rodrigo Francisco.

A nova criação da CTA é uma adaptação da peça "Ma Rainey´s Black Bottom", do premiado dramaturgo norte-americano August Wilson (1945-2005). Em 2020, esta peça do autor americano sobre a pioneira cantora de blues Ma Rainey foi transporta para o cinema, conquistando dois Óscares no ano seguinte.

O cenário de "A Bunda Preta da Chuvinha" fixa-se num estúdio de gravação. A música é tocada ao vivo e os ritmos balançam entre o afro beat e o hip-hop, "muito ouvidos" pelos jovens que costumam assistir aos espetáculos da companhia e para quem a peça é direcionada.

A protagonista é Chuvinha, nome artístico de uma cantora que julga ter poder, ainda que este esteja "nas mãos dos donos do estúdio". "Ou seja, usando uma terminologia marxista, são os donos dos meios de produção quem manda na indústria musical hoje e não propriamente os artistas", sustentou Rodrigo Francisco.

A ilusão do poder no caso da peça passa pelo uso de "roupas de marca, um carro da Tesla, uns óculos da Gucci". "Esse incitamento ao consumismo que é cada vez menos sub-reptício é o que acontece aqui”, observou.

A peça termina com "um conflito, uma revolta" em que os jovens músicos de bairro "em vez de se revoltarem contra quem está acima deles acabam por se perder em conflitos entre eles próprios", referiu o encenador.

"Se quisermos estabelecer um paralelismo com os nossos tempos, diria que é o que se passa muitas vezes na esquerda é isso mesmo; é os partidos de esquerda em vez de conseguirem ter um discurso comum envolverem-se em batalhas entre eles quando o que está em causa é o bem-estar dos cidadãos e a luta por uma vida melhor", argumentou.

O espetáculo tem música de Afonso de Portugal, que também interpreta, e cenografia e figurinos de Céline Demars com assistência de Ricardo Varela. O desenho de luz é de Guilherme Frazão e a dramaturgia de Lourenço Macedo.

A interpretar estão também Anilson Eugénio, Diogo Bach, Djucu Dabó, Duarte Grilo, Erica Rodrigues, Ivo Marçal, João Cabral, João Farraia e Pedro Walter.

A peça está em cena na sala principal do Teatro Municipal Joaquim Benite até 1 de dezembro, com récitas de quinta-feira a sábado, às 21h00, e à quarta-feira e ao domingo, às 16h00. Nos dias 09, 16, 23 e 30, pelas 18h00, haverá conversas com o público.