Depois de ter sido adiada devido à pandemia de COVID-19, a cerimónia de entrega dos Grammys, os principais prémios da indústria musical, vão decorrer na madrugada deste domingo para segunda-feira, de 14 para 15 de março. A 63.ª edição arranca à uma da manhã (hora de Portugal) e irá decorrer no Los Angeles Convention Center.

Apresentada por Trevor Noah, a gala vai contar ainda com a participação de funcionários e gerentes de salas de espetáculos - os convidados vão anunciar os vencedores a partir de salas de concertos, como o Apollo Theater, Troubador, Hotel Café  ou a Station Inn, em Nashville.

Em Portugal, a cerimónia poderá ser vista a partir da meia-noite na SIC Caras. Antes, a passadeira vermelha será transmitida pelo canal E! Entertainment, a partir das 23h00.

Com música de protesto a favor do movimento antirracista nos Estados Unidos e um dos maiores êxitos do ano, Beyoncé pode encerrar uma sequência de desprezo nos Grammys este domingo, numa cerimónia onde o mundo da música tentará virar a página de um 2020 devastador.

A cerimónia decorre quase um ano depois que as digressões, grandes e pequenas, terem sido forçadas a parar em todo o mundo.

Beyoncé não lançou nenhum álbum este ano, mas segue na frente da corrida

Beyoncé

Apesar de todas as dificuldades devido à pandemia de COVID-19, vários artistas lançaram álbuns ao longo dos últimos meses.

Beyoncé segue na frente da corrida com nove nomeações - depois de prometer por anos reconhecer mais diversidade nos prémios, a Academia pode pagar uma dívida à cantora, que nunca conseguiu conquistar as principais categorias. A artista concorre, por exemplo, ao prémio de Canção do Ano, Gravação do Ano, Melhor Canção Rap ou de Melhor Atuação R&B. A liderança conquistada pela cantora norte-americana surpreendeu muitos, já quem em 2020 não lançou nenhum álbum - as colaborações, um single e o lançamento da longa-metragem no Disney+ garantiram as nomeações à artista.

Com suas 79 nomeações no total, Beyoncé é a artista feminina mais nomeada da história dos Grammys. A cantora está empatada com Paul McCartney e tem apenas uma nomeação a menos do que o seu marido, Jay-Z, e Quincy Jones, que detêm o recorde, com 80 cada.

Mas a cantora de 39 anos - cuja arte, mensagem, inovações de negócios e presença na cultura pop marcaram a indústria - perdeu repetidamente nas maiores categorias.

Atrás de Beyoncé está Taylor Swift, que conta com seis nomeações. A norte-americana está na corrida nas principais categorias, como Melhor Álbum do Ano, Canção do Ano, Melhor Álbum Pop Vocal ou  Melhor Atuação Pop a Solo.

Tal como Taylor Swift, o rapper Roddy Ricch e Dua Lipa também somam seis nomeações cada. Já Billie Eilish, a grande vencedora da última edição dos Grammys, conta quatro nomeações nas principais categorias, incluindo Gravação do Ano e Canção do Ano com "Everything I Wanted".

Ingrid Andress, Phoebe Bridgers, Chika, Noah Cyrus, D Smoke, Doja Cat, Kaytranada e Megan Thee Stallion lutam pelo galardão de Melhor Novo Artista.

Pouco menos de um mês depois do fim de sua caótica candidatura presidencial, Kanye West está nomeado para os Grammys de 2021  numa categoria longe do rap. O artista está agora na disputa de Melhor Álbum de Música Cristã Contemporânea em reconhecimento à sua ode evangélica "Jesus Is King".

A categoria Melhor Álbum de Spoken Word, que tem Michelle e Barack Obama entre os vencedores anteriores, este ano inclui os jornalistas Rachel Maddow e Ronan Farrow e o baixista Flea, dos Red Hot Chili Peppers.

Cantora portuguesa Maria Mendes nomeada com tema de Amália Rodrigues

A cantora Maria Mendes está indicada para o Grammy de Melhores Arranjos, Instrumentais e Vocais, com o tema "Asas Fechadas", de Amália Rodrigues, que gravou no álbum "Close to Me", com John Beasley e a Metropole Orkest da Holanda, lançado em outubro de 2019.

Foi com este mesmo tema que Maria Mendes e John Beasley estiveram nomeados este ano para os Grammys Latinos, sem que tenham conquistado o prémio na sua categoria.

"Close to Me" é o terceiro disco da cantora portuguesa, radicada há mais de uma década na Holanda, e o primeiro totalmente cantado em português.

Em entrevista à agência Lusa, quando o álbum saiu, Maria Mendes recordou que a ideia de "pegar no fado e no folclore português, e tê-los como ponto de partida para um conceito criativo musical mais moderno e mais conceptual", surgiu na sequência de um convite para integrar as festividades do Dia do Jazz, em Roterdão.

“Pediram-me que pegasse num tema folclórico holandês, de Roterdão, e desse uma reviravolta para jazz e eu decidi fazer uma composição mais longa, adaptando o ‘Barco Negro’ juntamente com esse tema holandês”, recordou.

Entre os 11 temas que compõem o álbum há adaptações de alguns fados "menos conhecidos", como "Asas Fechadas", de Amália - agora nomeado para os Grammy Latinos - , e outros "um bocadinho mais óbvios", como "Foi Deus" e "Tudo isto é fado", da mesma fadista.

Além de Maria Mendes e do trio que a acompanha há cerca de dez anos, o disco conta com a participação da Metropole Orkest, orquestra holandesa de jazz sinfónico.

A edição de 2021 dos Grammys inclui várias nomeações póstumas, incluindo duas para o cantor e compositor John Prine, que morreu de complicações causadas pela COVID-19, em abril.

Leonard Cohen foi nomeado ao prémio de Melhor Álbum Folk por "Thanks for the Dance", coletânea que o seu filho finalizou em seu nome.

Já o rapper Pop Smoke, baleado e morto em Hollywood Hills em fevereiro de 2020, recebeu uma nomeação de Melhor Performance de Rap por "Dior". A categoria conta anda com outra indicação póstuma: Nipsey Hussle com "Deep Reverence", colaboração com Big Sean.

Produtor André Anjos também está na corrida

Há mais de dez anos a viver nos Estados Unidos, André Allen Anjos está nomeado na categoria de Melhor Gravação Remisturada, pela remistura de "Do You Ever", tema original de Phil Good.

"Estou verdadeiramente honrado e muito entusiasmado pela nomeação", celebrou nas redes sociais.

Em 2017, André Anjos tornou-se o primeiro  português a vencer um Grammy.

Cardi B, Taylor Swift, Billie Eilish e companhia vão animar a noite

Cardi B, Taylor Swift, Billie Eilish, HAIM, Megan Thee Stallion, Harry Styles, Bad Bunny, DaBaby, Dua Lipa e Post Malone, entre outros, vão atuar na cerimónia.

No Twitter, a organização anunciou ainda a presença de Black Pumas, BTS, Brandi Carlile, Doja Cat, Mickey Guyton, Brittany Howard, Miranda Lambert, Lil Baby, Chris Martin, John Mayer, Maren Morris e Roddy Ricch.

É provável que Megan Thee Stallion suba ao palco com Cardi B, que se apresentará na cerimónia, ainda que tenha decidido não competir. O êxito de verão "WAP" poderia ter sido um dos maiores nomeados este ano, mas aparentemente a rapper Cardi B decidiu não colocá-lo em consideração este ano, mas no próximo, juntamente com um possível novo álbum.

Se as rappers cantarem esta ode ao desejo feminino, este pode ser o momento mais polémico da noite. A letra conta com várias metáforas sexuais que certamente serão censuradas em canais abertos, a menos que sejam editadas.

Trevor Noah, o anfitrião da noite

Trevor Noah foi escolhido para apresentar a 63.ª edição dos prémios.  Em tom de brincadeira, confessou estar feliz por ir apresentar a gala, apesar de estar "desapontado" com o facto de não ser escolhido para atuar e por "não estar nomeado para o prémio de Melhor Álbum Pop".

"Sou a melhor pessoa para dar um ombro a todos os artistas incríveis que não vão ganhar na noite porque  também sinto a dor de não ganhar um prémio", brincou, em comunicado.

 Mulheres do rock começam a conquistar o seu espaço nos Grammys

HAIM

Durante muito tempo, as categorias dedicadas ao rock nos Grammys eram dominadas pelos homens, mas este ano as mulheres tomaram conta dos microfones.

A mudança será evidente na cerimónia de entrega de prémios no próximo domingo, poucos anos depois do ex-presidente da Academia, Neil Portnow, ter sido criticado por afirmar que as mulheres deveriam "dar um passo à frente" para alcançar uma representação justa na indústria da música.

Pela primeira vez, a categoria de melhor interpretação rock - introduzida em 2012 - tem apenas mulheres nomeadas: Fiona Apple, Phoebe Bridgers, o grupo das irmãs HAIM, Brittany Howard, Grace Potter e os Big Thief, a banda liderada por Adrianne Lenker.

Lenker, Apple, Howard e Bridgers também estão na disputa pela melhor canção de rock, enquanto as três últimas também foram nomeadas para melhor álbum alternativo. Grace Potter está ainda na corrida para melhor álbum de rock.

As mulheres moldaram a evolução do rock, como foi o caso da pioneira do blues Big Mama Thornton, a primeira artista a gravar "Hound Dog", canção seminal e associada a Elvis Presley.

Mas desde a metade do século XX, a imagem do estilo foi monopolizada pelos homens, afirma Evelyn McDonnell, investigadora especializada em cultura pop, música e género. "Via-se uma divisão: o que os rapazes faziam com as guitarras era rock, e o que as raparigas com penteados faziam era Motown ou pop", afirma a professora da Universidade Loyola Marymount.

"Existe toda uma forma sexista na qual o rock é definido como homens brancos com guitarras", argumenta.