Como não podíamos deixar passar a oportunidade, fomos atraídos pela Força até a uma entrevista por e-mail com João Rebola, vocalista do grupo.

SAPO On The Hop: Qual foi a vossa principal fonte de inspiração para este novo disco?

João Rebola (JR): A nossa principal fonte de inspiração, para este e ou qualquer um dos nossos trabalhos, são as pessoas e as suas histórias, sejam elas individuais ou enquanto sociedade. No fundo, nós somos contadores de histórias e escolhemos contá-las sob a forma de canção. Mas para que um álbum faça sentido, passa-se sempre algum filtro por essas histórias, e neste trabalho esse filtro foca-se nos amores e desamores, nos encontros e desencontros, em suma, nos afetos. Nenhum contador de histórias será completo se não se debruçar sobre o amor.

Explica-nos a escolha de "Um Dia Destes" para título do álbum.

JR: “Um Dia Destes”, para além de nos remeter para o quotidiano, reforça também a ideia de pausa. Vivemos num momento de urgência, em que as notícias com mais de duas horas já são antigas e em que todas as nossas rotinas, das pessoais até às governativas, parecem ter uma hora marcada para a qual corre o tempo e corremos nós. Só os encontros e desencontros, com a sua inevitabilidade e imprevisibilidade, é que ainda conseguem escapar a esta polícia cronométrica. São coisas que acontecerão... um dia destes. E é bom quando não sabemos tudo sobre os dias que temos pela frente.

"O Bichinho" é, de facto, minimalista, se compararmos com faixas mais antigas como "Se Eu Mandasse", que embora mais curta, é decididamente mais intensa. O que vos fez suavizar a abordagem aos temas mais políticos? Foi algo premeditado, ou simplesmente natural?

JR: Essa suavização que refere nós encaramos como serenidade. O fio condutor deste álbum é realmente o amor, que embora também estivesse presente nos trabalhos anteriores, não tinha tido ainda esta preponderância. E claro que ninguém conta histórias de amor a correr. É preciso encontrar o ritmo certo para o fazer, sob pena de se perder algum do encanto. O corolário disso é que para se conseguir um álbum consistente, para não parecer um punhado de canções desgarradas, foi crucial conseguirmos manter essa toada mais serena, mesmo para os temas sociais e políticos. Esses temas fazem e farão parte vital dos trabalhos de Anaquim, só que adaptámos um pouco a forma, sem deixar que ela minimize o conteúdo.

Como tem sido o feedback quanto a este novo disco?

JR: Penso que o primeiro contacto das pessoas com “Um Dia Destes” foi um sucesso, com o videoclip do nosso single, “Sou Imune ao Teu Charme”, a atingir mais de 200.000 visualizações no Facebook em poucos dias, e o álbum a entrar diretamente no top de vendas nacional. Passado algum tempo continuamos com feedback muito positivo, quer das pessoas que já seguiam Anaquim, quer dos novos interessados. O que mais nos entusiasma é a versatilidade das coisas que nos apontam, destacando ora as músicas, ora as letras, ora a instrumentação, ora a solidez. Ainda há pouco tempo lançámos o desafio às pessoas de escolherem a sua canção preferida, e as respostas foram muito variadas, o que para nós significa que temos em mão algo que não se resume a uma canção ou duas.

Consideram que esta vossa mudança acabou por vos favorecer no que diz respeito ao sucesso deste vosso novo álbum (como a entrada imediata no Top10 nacional)?

JR: A boa notícia é que desta feita tivemos lugar no Top10, com o 8º lugar. No entanto não entramos em euforias, pois falamos apenas de números de vendas de álbuns, quando sabemos bem que o paradigma mudou imenso nos últimos anos, com as redes sociais e os serviços de streaming. Para nós é importante conseguir chegar ao máximo de pessoas possível, mais do que atingir um galardão. Quem passar pelo nosso facebook, com os vídeos em direto e outras iniciativas, vai perceber que a banda e o seu público não são duas coisas separadas. E queremos sempre alargar esse grupo.

Este álbum conta com diversas colaborações, como é o caso de Jorge Palma ou Luisa Sobral. Foi algo pensado ou as oportunidades simplesmente surgiram?

JR: Para nós é delicioso trabalhar com pessoas que admiramos e com as quais vamos partilhando a aventura de ser músico no Portugal dos dias de hoje. A Luisa é uma pessoa com quem já partilhámos palcos e bastidores e tínhamos a certeza que ela seria uma mais valia tremenda para o nosso tema. Convidámo-la e ela simpaticamente acedeu. Descobrimos, com a abordagem em dueto, uma universalidade no tema que nem sabíamos que lá estava e que o torna muito mais completo. Com o Jorge, a colaboração foi fruto de uma série de acasos felizes, o que acabou por ser muito engraçado, uma vez que mesmo em fase de pré-produção, o tema nos soava a Jorge Palma. Estávamos longe de pensar que ele viria a ser parte inclusiva do tema... Claro que foi tremendo o resultado final, com a profundidade que se esperava de um dos gigantes da música portuguesa. Foi como dar um texto ao Morgan Freeman para ele ler.

Os vossos concertos de apresentação estão já à porta. Como foi adaptar este novo trabalho para o espetáculo ao vivo, e como se sentem com o regresso aos palcos com um trabalho novo?

JR: Nós vivemos do palco e precisamos dele, porque é onde a banda faz mais sentido. Como disse há pouco, essa comunhão é um dos motivos pelos quais persistimos na música e, por isso, claro que estamos muito entusiasmados por podermos finalmente tocar estes temas para o público. A adaptação não foi trivial e vamos mesmo incluir ao vivo um elemento novo, para nos ajudar a recriar a riqueza instrumental que temos em alguns dos temas. O melhor mesmo é aparecerem para ver como ficou!

Em jeito de brincadeira, de modo a fechar esta nossa pequena conversa, o que tens a dizer sobre o regresso da saga que contribuiu para o vosso nome (Star Wars)? Alguma nova personagem de eleição, ou ficamos pelo 'old but gold'?

JR: É sempre uma boa notícia! Já vi duas vezes no cinema! A opinião parece estar muito polarizada entre gente que acha que este filme é o melhor do franchise, e outros que pensam que parece um remake do episódio IV. Eu penso que qualquer opinião será curta até vermos a trilogia toda (vou contando os dias), de modo a completarmos o puzzle. Quanto às personagens, o Kylo Ren parece ter uma complexidade interessante. Vamos ver como se desenrola. De resto, queremos para a banda o que queremos para a saga. Usar a força e conduzi-la para as coisas boas!