Ariana Grande era um nome esperado em Portugal já desde o cancelamento da sua atuação no Rock in Rio Lisboa 2016. Contudo, e apesar dos receios de um possível novo cancelamento (devido à tragédia recente do atentado de Manchester), a cantora norte-americana não deixou Portugal de lado e prosseguiu com o seu agendamento para estar presente no MEO Arena, em Lisboa, no passado domingo, no seu primeiro concerto em terras lusas.

Como seria de esperar, antes que os fãs pudessem ver e ouvir a artista, estivemos perante um dos maiores esquemas de segurança (ou mesmo o maior?) alguma vez já visto num evento musical por cá. Se antes podíamos deslocar-nos livremente entre filas e por todo o pavimento que rodeia o recinto do MEO Arena, desta vez tal não se verificou. A segurança apertada fez com que cada passo tivesse de ser dado com o bilhete em mão, confirmando a deslocação de cada espectador e o motivo da mesma.

Malas reviradas perante uma lista extensa de objetos proibidos e até uma porta de detetor de metais (semelhante às que costumamos encontrar nos aeroportos) também não faltavam, conforme os avisos prévios e retardando a entrada de todo o público no recinto.

Contudo, e embora o processo possa soar bastante incomodativo, não vimos qualquer tipo de queixa dos presentes. Na verdade, quase todos louvaram o grau elevado de segurança, lamentando até nem sempre ser assim.

Já após passarmos a segurança, e abrindo a noite no recinto, o DJ Knowledj veio de Las Vegas com êxitos de grandes nomes na bagagem, como “Crazy in Love”, de Beyoncé, e mas também deu conta do seu trabalho de pesquisa ao adicionar sucessos na língua portuguesa ao seu repertório, como “Parte-me o Pescoço”, de Agir, ou “Dialetos da Ternura”, dos Da Weasel.

Depois deste aquecimento, a primeira voz que escutámos ao vivo não foi a de Ariana, mas sim a da sua protegida, Victoria Monét. A cantora da Geórgia demonstrou todo o seu talento quando mais ninguém a acompanhava em palco, enchendo o MEO Arena com a sua garra enquanto nos brindou com faixas como “Ready” ou “Better Days”, esta última compartilhada com Ariana Grande - e que ambas cantaram no concerto de beneficência para as vítimas do ataque de Manchester.

A seguir, os fãs assistiram a um vídeo com a contagem para o início do concerto, ao mesmo tempo que apelava aos fãs para fazerem barulho para a chegada do nome mais esperado. Sem mais demoras, e após o cronómetro atingir o zero, os panos caíram permitindo-nos contemplar um dos maiores ecrãs já vistos no palco da sala lisboeta, enquanto a cantora entrava em palco ao som de “Be Alright” e muito fumo colorido.
Os decibéis subiram, os coros começaram e Ariana falou pela primeira vez com o público antes de dar início a “Let Me Love You”. “Como se sentem? Espero que este seja um bom dia!”.

Conhecida por manter sempre o seu ar de princesa, a artista nascida na Flórida deixou quebrar a sua imagem de marca com “Knew Better pt. II”, onde a sua voz escapava entre pequenos risos que parecia não conseguir controlar na companhia dos seus bailarinos.
E se havia quem pudesse não estar familiarizado alguma das canções da jovem estrela até agora, foi notório que todos os presentes conheciam e deliraram com “One Last Time”, a oferecer o primeiro grande coro da noite, com as vozes do público a juntarem-se à da cantora numa sintonia perfeita.

Chuva de êxitos e a recordação de um clássico

“Touch It” foi a faixa escolhida pelos fãs para arrancarem com a sua iniciativa na qual a frase “What we have is untouchable” se podia ler em pequenas folhas de papel. Logo a seguir, outro momento alto com a primeira vez da noite em que Ariana ficou sozinha em palco, ao som de “Leave Me Lonely”.

Após uma pequena pausa, enquanto o ecrã gigante passava mensagens feministas, a estrela regressou com as suas já icónicas bicicletas para uma“Side to Side”, a elevar os ânimos de milhares que gritavam a plenos pulmões.

“Bang Bang”, de Jessie J, e “Greedy” foram duas das faixas que a norte-americana explorou a passo rápido, dando apenas um pequeno sabor destes sucessos até prosseguir para outro, “Focus”.

“Moonlight” potenciou mais um episódio a solo em palco, com Ariana ajoelhada a meio, antes da chegada de “Love Me Harder” e “Break Free”.

Sempre com um ritmo acelerado, entre trocas de roupa e pequenas mudanças de cenário, foram raras as vezes em que a artista parou para se dirigir ao público. Contudo, antes de “Sometimes” pudemos ouvir o primeiro “obrigada” da noite, em bom português, seguido de um pedindo de ajuda aos espectadores para a acompanharem no tema seguinte.

“Thinking Bout You” e “Problem” também não faltaram no alinhamento, mas seria uma canção mais antiga a deixar um efeito mais arrepiante:  “Over The Rainbow”, um dos clássicos da década dos anos 1930, a saltar de "O Feiticeiro de Oz" para uma homenagem às vitimas do ataque de Manchester.

Noutro registo, e a guardar o melhor para o fim, Ariana Grande demonstrou toda a sua capacidade vocal com “Dangerous Woman”, numa despedida que não podia ter sido melhor. Já de saída, desfez-se em sorrisos e pequenos acenos aos seus fãs, mantendo a graciosidade que lhe é característica.

Depois de um concerto destes, pode dizer-se que a espera valeu a pena, numa noite protagonizada por uma estrela simples e com classe, bem integrada num palco que dispensou grandes aparatos para dar espaço à voz. E que voz! Ariana Grande demonstrou que ser uma princesa da pop não implica ser escrava do playback ou de danças excessivamente coreografadas. De mão no microfone, dedicou-se à sua música dando-nos o melhor de si. E por isso levou o melhor de nós...