"É o primeiro álbum em onze anos e foi composto para endereçar o que está a acontecer no mundo", disse à Lusa Paul DeGeorge, que fundou a banda indie com o seu irmão Joe DeGeorge, em 2002.
"Nos últimos dois anos, o tom dos nossos concertos mudou", afirmou o cantor à Lusa, explicando que as pessoas "pareciam ser confortadas" pela experiência, "talvez porque os livros Harry Potter são um lugar onde se vê como o bem pode triunfar sobre o mal, e muita gente está a sentir-se desamparada e perdida no mundo".
O lançamento vai seguir-se de uma digressão pelos Estados Unidos e Canadá, com a maioria dos concertos marcados para bibliotecas. "Gostamos da dicotomia de ser uma banda de rock num espaço tradicionalmente silencioso", explicou o músico.
Harry and the Potters é a banda que fundou o género musical 'wizard rock', que hoje tem centenas de grupos a tocar músicas inspiradas nos livros sobre o feiticeiro.
"Lumos", o quarto álbum de estúdio, faz uma abordagem detalhada ao sétimo e último livro da saga Harry Potter, e o tom flutua entre várias sonoridades.
"The Sword, the Cup, and the Dragon" apela ao fantástico, "Hermione's Army" é uma homenagem à personagem a que chamam de "ativista imperfeita" e "No Pureblood Supremacy" endereça a ideologia extrema dos seguidores de Voldemort.
"No nosso mundo, vemos a ascensão da extrema-direita e do fascismo, e este livro pode ser uma alegoria para isso", disse à Lusa Joe DeGeorge. O músico referiu uma parte no livro em que Harry e os amigos entraram no Ministério da Magia, e descobriram pessoas a serem julgadas pela sua origem, assim como ordens de separação de famílias.
A audiência primária da banda "é o grupo de fãs que quer música sobre Harry Potter", mas uma vez que trata de histórias "quase universais" na cultura ocidental, essa audiência é alargada.
"Há tantos paralelos entre as histórias Harry Potter e o que estamos a viver nas nossas vidas", acrescentou à Lusa.
Paul DeGeorge também traçou um paralelismo entre o ressurgimento do nacionalismo e a defesa da pureza do sangue dos feiticeiros na obra de J.K. Rowling, uma ideologia "hipócrita" de Voldemort, porque ele próprio era "um feiticeiro mestiço".
"Temos governos e líderes mundiais que estão a apoiar-se no medo do outro como uma muleta para se agarrarem ao poder", afirmou. "É a mesma coisa que acontece nos livros do Harry Potter: os Devoradores da Morte prosperam com esta ideia".
A canção "No Pureblood Supremacy" pode ser usada "como uma porta de entrada para falar de temas como a supremacia branca", disse Paul, referindo que "nunca é demasiado cedo" para falar nisso e que integrar estes temas na educação é importante, para que a ideologia seja rejeitada desde cedo.
"Esta retórica é uma ferramenta de 'marketing' usada para assustar as pessoas", considerou.
As canções de "Lumos", tal como os livros, não têm um limite de idade e a intenção dos músicos é "dar aos pais, que estão a ler estes livros com os filhos, ferramentas para falarem de como estas ideias se estão a manifestar no nosso mundo real".
O músico referiu também a importância de transformar o ativismo em iniciativas práticas, e citou o papel da Harry Potter Alliance neste sentido, uma organização da qual foi cofundador há 14 anos.
Composto e produzido ao longo de um ano, "Lumos" é editado pela Charming Records e tem uma sonoridade indie rock, com Paul e Joe DeGeorge na liderança, e banda de suporte ao vivo.
A digressão começa na sexta-feira, na Swayer Free Library em Gloucester, Massachusetts, e tem mais 60 datas marcadas até ao final de agosto, quase todas em bibliotecas, mas com algumas exceções, como o Troubadour, em Hollywood, ou o Magic Theater, em San Antonio.
Joe DeGeorge esteve em Portugal em março com a sua outra banda, Downtown Boys, que atuou na Galeria Zé dos Bois.
Com Harry and the Potters, a intenção é levar o álbum "Lumos" à Europa, depois de terminada a 'tour' na América do Norte.
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