Algumas bonecas e adereços, nunca vistos publicamente, que a pintora Paula Rego usava como modelos para os seus quadros fazem parte de uma exposição coletiva na casa-museu do psicanalista Sigmund Freud, em Londres.

Uma cadeira grande usada em quadros inspirados no livro “Alice no País das Maravilhas”, um boneco do “Homem Almofada” e uma “Boneca de Vestido Preto” são algumas das peças que antes se encontravam no estúdio de trabalho da artista e que vão estar nesta exposição que abre na quarta-feira.

A exposição "Mulheres e Freud: Pacientes, Pioneiras, Artistas" pretende celebrar mulheres que fizeram parte da vida do criador da psicanálise, como familiares, amigos, pacientes e colegas, juntamente com os artistas inspirados pelas ideias de Freud.

Uma mistura de peças históricas, livros, cartas, diários, fotografias, cadernos de esboços e manuscritos, juntamente com obras de arte, vão estar patentes nas diferentes divisões da casa da família Freud, onde Sigmund e a filha, a psicanalista infantil Anna Freud, recebiam pacientes.

Virginia Woolf, que visitou Freud em casa e que, com o marido Leonard, começou a publicar as obras de Freud em inglês há 100 anos, a princesa Marie Bonaparte, que ajudou Freud a fugir da Viena ocupada pelos nazis ou algumas das primeiras pacientes, como Anna O, Cäcilie M e Dora, são algumas das pessoas referidas.

Além de Paula Rego, vão ser mostradas obras de Marie-Louise von Motesiczky, Louise Bourgeois, Sarah Lucas, Rachel Kneebone, Tracey Emin, Cornelia Parker, Alice Anderson, Christina Kimeze, Helen Chadwick, Alison Bechdel, Carolina Mazzolari, Sharon Kivland, Abigail Schama e Emily Berry.

Duas gravuras da artista portuguesa vão acompanhar as "dollies" na exposição, que vai permanecer até 05 de maio.

Num texto publicado em 2018 no jornal britânico The Guardian, no contexto da exposição “All Too Human”, no museu Tate Britain, em Londres, Paula Rego revelou que durante décadas trabalhou maioritariamente a partir de modelos vivos ou de "bonecos" que fazia ou que foram feitos para ela.

"Usar bonecas é uma experiência diferente de um modelo vivo. São obedientes – posso colocá-las como quero e ficam assim, são como atores num palco. Mas não trazem vida – preciso de uma pessoa lá, também, porque a intensidade é importante. Se desenhas uma pessoa, ela dá-te muito de volta. Às vezes dão tanto – inundam-te com a sua personalidade, com a sua alma – que tens dificuldades em segurá-las", explicou Paula Rego.

“O Homem Almofada” (“Pillow Man”), nome de uma peça de teatro de Martin McDonagh sobre o homicídio bárbaro de várias crianças, protagoniza vários quadros de Paula Rego.

Um tríptico de 2004 com o nome desta personagem é considerada uma peça importante na sua obra remete para a infância da própria artista no Estoril durante a Segunda Guerra Mundial e a relação com o pai de uma forma que remete à psicanálise de Freud.

Nascida em Lisboa em 1935, Paula Rego morreu a 08 de junho de 2022, aos 87 anos, em Londres, cidade se encontrava radicada e para onde se mudou aos 17 anos para estudar na Slade School of Fine Art.

Foi na capital britânica que conheceu o futuro marido, o artista inglês Victor Willing, o qual também figura em muitos dos seus trabalhos artísticos.

Na sua obra, Paula Rego abordou temas políticos, como o abuso de poder, e sociais, como o aborto, entre outros do universo feminino.