Numa mensagem enviada à Lusa, o diretor artístico da Casa da Música, António Jorge Pacheco, destacou o papel de Clotilde Rosa na composição musical em Portugal, no século passado, a par de nomes como Fernando Lopes-Graça, Jorge Peixinho e Emmanuel Nunes.

“Consola-nos o facto de termos defendido em várias ocasiões a música de Clotilde Rosa. Recordo uma interpretação extraordinária de ‘Ricercare’, pela nossa Orquestra Sinfónica, sob a batuta de Pablo-Heras Casado, que aliás registámos em CD”, afirmou António Jorge Pacheco.

O diretor artístico e de educação da Casa da Música disse-se entristecido por não ser agora possível contar com a presença da compositora no concerto de dia 27 de janeiro, em que a Orquestra Sinfónica do Porto vai interpretar “Paisagem Interior”, obra estreada em maio pela Orquestra Sinfónica Portuguesa.

“Cumpre-nos agora não deixar esquecer o seu legado e continuar a fazer ouvir a sua música. Fica a promessa de a ela voltar em 2019”, afirmou António Jorge Pacheco.

A compositora Clotilde Rosa, pioneira da expressão contemporânea em Portugal, morreu na sexta-feira, aos 87 anos, na sua casa, em Lisboa.

Autora da ópera "O Desfigurado", Clotilde Rosa nasceu em Lisboa, em 1930, iniciou a carreira como instrumentista, lecionou no Conservatório Nacional, estudou música antiga e, em simultâneo, acompanhou as vanguardas musicais, tendo fundado o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, com o compositor Jorge Peixinho (1940-1995).

A compositora iniciou os estudos de música na infância, tendo completado o Curso Superior de Piano e Harpa no Conservatório Nacional, em Lisboa, onde estudou com Ivone Santos e Cecília Borba. Especializou-se na interpretação de música antiga, com o musicólogo de origem britânica Macário Santiago Kastner.

Como harpista, fez parte dos Menestréis de Lisboa. De 1960 a 1963, estudou na Holanda, em França e na Alemanha, como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, acompanhando a emergência do movimento da interpretação historicamente informada.

No regresso a Portugal, a obra "Imagens Sonoras", de Jorge Peixinho, dita a sua aproximação à música contemporânea, ao compositor e ao meio musical português de vanguarda. Participou então nos cursos de Darmstadt, dirigidos por Karlheinz Stockhausen, na Alemanha, a partir de 1963.

De 1987 a 2000, deu aulas no Conservatório Nacional, primeiro de Análise e Técnicas de Composição depois na classe de Harpa, tendo aplicado, pela primeira vez, em Portugal, a música contemporânea no programa curricular deste instrumento.

Estreou-se na composição em 1974, a convite de Jorge Peixinho, com um trecho para a obra colectiva "In-con-sub-sequência". A primeira obra em nome próprio, "Encontro", data de 1976, e foi distinguida na Tribuna Internacional de Compositores de Paris.

"Peaceful Meeting", de 2016, é uma das suas derradeiras obras.