Escrita há quase 80 anos, esta peça de Bertolt Brecht (1898-1956) tem encenação do diretor alemão Peter Kleinert, naquele que é o seu segundo trabalho de encenação para a Companhia de Teatro de Almada.

“Uma peça que, apesar de ter quase 80 anos continua atual, tanto mais no momento que a Europa atravessa, com a crise de refugiados”, frisou o encenador numa entrevista à agência Lusa.

“Milhões de pessoas querem entrar todos os dias na Europa, e nós não os deixamos entrar porque queremos preservar os nossos bens, a nossa comida, apesar de termos uma moral cristã e de sabermos que devemos ajudar os outros, e fazer o bem”, disse Peter Kleinert.

E este é apenas um dos muitos aspetos em que esta peça do Brecht continua muito contemporânea, porque as questões que levantava, quando foi escrita continuam a fazer sentido, disse o encenador à Lusa.

"O que está em causa nesta peça é sabermos que podemos fazer o bem, mas não conseguimos mudar o mundo. E nós precisamos de mudar o mundo, só não sabemos como”, acrescentou.

“E o quer podemos fazer? Será que podemos mudar o homem? Ou mudar o mundo? E essas são as grandes questões que ontem, como hoje, continuam a fazer sentido”, defendeu.

“A boa alma de Sé-Chuão” é um drama com que, no final dos anos 1920, Brecht pretendia fazer uma ação didática. Uma ideia que, segundo Peter Kleinert, acabou por desembocar num melodrama, que é um “autêntico conto de fadas moderno”.

A prostitua Chen-Te, uma boa alma da província chinesa de Sé-Chuão, é a protagonista da história.

Como não consegue vingar na vida, já que ajuda toda a gente que lhe bate à porta, Chen Te acaba por arranjar um 'alter ego' que lhe serve de suporte para resolver os problemas materiais.

Trata-se de Chui Ta, um primo que passa a fazer apenas de mau e que permite a Chen Te resolver ou minimizar os problemas financeiros. Chui Ta acaba por empregar os pedintes evitando a falência de Chen Te, que entretanto se apaixonara pelo aviador Sun.

Esta é uma peça de Brecht de que o dramaturgo alemão gosta muito, tal como “adora” a poesia de Brecht, que considera “um dos maiores poetas do século XX”.

Segundo o encenador alemão, que transportou a ação para a atualidade, a peça também constitui um desafio para os sete jovens atores que, ao longo de quase duas horas e vinte minutos, acabam por representar mais de 25 personagens.

“Gosto muito desta peça, porque é uma espécie de colagem, além de que é também uma mistura de muitas canções”, afirmou Peter Kleinert, que coloca música ao vivo ao longo de quase toda a ação.

A primeira vez que o encenador alemão trabalhou a Companhia de Teatro de Almada foi em 1979, quando encenou excertos de “A mãe”, também de Brecht, com atores do Teatro de Campolide, numa Festa do Avante, a convite do então diretor da companhia, Joaquim Benite.

Em 1981 voltou a encenar, com Peter Schroth, para a companhia de Almada, “A exceção e a regra”, também de Brecht, que viria a dar a Canto e Castro o prémio da crítica para melhor interpretação masculina do ano.

“A boa alma de Sé-Chuão” é traduzida por António Sousa Ribeiro. A peça é interpretada por Beatriz Godinho, Érica Rodrigues, Inês Garrido, João Tempera, Miguel Raposo, Pedro Melo Alves, Rita Cabaço e Tomás Alves.

A direção musical é de Pedro Melo Alves, o figurino de Ana Paula Rocha e a cenografia de Céline Demars.

“A boa alma de Sé-Chuão” vai estar em cena na sala principal do Teatro Municipal Joaquim Benite de 19 de outubro a 11 de novembro, com espetáculos de quinta-feira a sábado, às 21:00, e, às quartas-feiras e aos domingos, às 16:00.

A peça conta ainda com as habituais “Conversas com o público”, que se realizarão nos dias 20 e 27 de outubro. O encenador, o tradutor e Ivette Centeno, enquanto tradutora de textos de Brecht, e a crítica de teatro Eugénia Vasques são os participantes da iniciativa, no foyer do teatro municipal.

Peter Kleinert nasceu em 1947, em Berlim. Formado em Filosofia, inciou o trabalho na antiga República Democrática Alemã (RDA), nos teatros de Dresden e Schwerin. Em Weimar, foi codiretor da secção de interpretação do Teatro Nacional Alemão. Nos anos 1990, assumiu o cargo de diretor do departamento dos estudos de encenação da escola Ernst Busch, em Berlim.

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