Espaços noturnos fechadas, músicos sem futuro: a canção de 1981 retratava uma Inglaterra em crise, um cenário que pode ser transportado para a atualidade, devido à pandemia da COVID-19 e ao seu impacto socioeconómico.

"É uma canção que captou o espírito da época e que continua atual. Dizem que toda a gente a cantava no primeiro confinamento em Nova Iorque", declarou à AFP o baixista do grupo, Horace Panter, numa entrevista virtual a partir da sua casa, na região central da Inglaterra.

Desta maneira, não surpreende tanto que os Rolling Stones tenham editado "Living In A Ghost Town", em abril de 2020.

"As pessoas diziam-me 'Os Stones roubaram a tua canção' (risos). E eu respondia: 'Mas o que é que vocês estão a dizer? São os Stones, eles fazem o que querem'. Acho que é o que eles queriam ouvir", afirma o músico, tranquilo.

Com versões de canções de protesto, o novo álbum do grupo de Coventry, "The Specials, Protest Songs, 1924-2012", a editar a 1 de outubro, é um dos pequenos milagres na trajetória errática do trio.

Numa canção, o vocalista, Terry Hall, depressivo, revelou que foi vítima de pedofilia durante uma viagem escolar a França.

A banda separou-se logo após o lançamento do segundo álbum, "More Specials", no início dos anos 1980, e retomou a carreira com formações diferentes.

Em 2019, o grupo surpreendeu com um novo disco, "Encore", com Hall, Lynval Golding (guitarrista) e Panter, o mesmo núcleo do disco de 2021. Na semana passada, atuou com nove elementos, incluindo músicos de apoio.

Questionado sobre a origem do álbum de versões, Panter brinca: "Quando um grupo não tem mais ideias, faz versões".

"2020 foi o ano dos movimentos sociais, de todo tipo. Pensámos em fazer versões sobre isso", completa, de forma mais séria.

O movimento Black Lives Matter inspira a banda, um núcleo multiétnico que fez do antirracismo a sua bandeira.

"Não iríamos simplesmente cantar 'Give Peace A Chance' [de John Lennon]. Tínhamos de ir mais longe, aprofundar", explica Panter. "Pesquisámos, foi quase um trabalho académico", relata.

Conflitos de gerações

Além da inevitável "Get Up, Stand Up", de Bob Marley, o grupo gravou versões de "Everybody Knows", de Leonard Cohen, e "Fuck All The Perfect People", de Chip Taylor.

Panter descobriu que Taylor, conhecido por ser o compositor de "Wild Thing", consagrada por Jimi Hendrix, escreveu esta canção depois de visitar uma prisão na Noruega. Taylor reconheceu-se nas vidas dos prisioneiros.

A letra que também pode ser entendida como uma crítica aos "influencers" das redes sociais e às suas vidas perfeitas mostradas nos ecrãs dos smartphones. Embora as redes sociais representem uma "forma extraterrestre" para Panter, que teve problemas para se juntar à entrevista por computador, não as condena por completo.

"Digo isto desde meus 60 anos, mas os meus pais devem ter pensado algo parecido quando me viram a ouvir 'Freak Out' [disco dos Mothers of Invention, dos quais Frank Zappa fazia parte], o primeiro álbum que comprei, quando tinha 15 anos", diz entre risos.

No novo álbum, os Specials apresentam uma versão de "Trouble Every Day", composta por Zappa quando via imagens de violência policial na televisão. Um tema que continua atual.

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