Com o novo disco, Stereossauro (Tiago Norte) quis “marcar uma diferença” e não “fazer um simples prosseguimento” de “Bairro da Ponte”, álbum que editou em 2019 e no qual misturou o fado com a eletrónica e o hip-hop, com recurso a samples de temas popularizados pela fadista Amália Rodrigues e do guitarrista Carlos Paredes, entre outros.

Uma das formas que o DJ e produtor escolheu para “marcar uma diferença”, contou em entrevista à Lusa, foi a forma como produziu “Desghosts & Arrayolos”.

“Neste disco não houve recurso a samples, enquanto no ‘Bairro da Ponte’ todas as músicas começaram de samples”, disse, revelando que o único sample musical do novo álbum está em “A Noite”, tema que conta com a participação de Marisa Liz e Carlão, que “tem umas guitarras ‘sampladas’ do ‘Lisboa, Menina e Moça’”.

Para criar o novo trabalho, Stereossauro acabou então por produzir os próprios samples, gravando “as guitarras praticamente todas e os teclados e sintetizadores também”.

“Não sou um instrumentista de gravar um ‘take’ todo seguido de guitarra, gravo as partes que preciso e trabalho-as como se fossem samples”, salientou.

Isso fez com que a abordagem à produção instrumental fosse “completamente diferente”. “Porque quando trabalhas com ‘samples’, o próprio sample dirige-te para algum sítio. Começar com a folha totalmente em branco foi um bocado difícil às vezes”, partilhou.

Editar um álbum duplo serviu para o DJ e produtor “poder explorar dois mundos diferentes”, sendo um desses mundo, “o mais pop ou mais ‘uplifting’”, algo que Stereossauro nunca tinha explorado.

“Sempre me senti mais confortável com as coisas mais ‘dark’ ou mais melancólicas, é mais a minha zona de conforto. Quando vou ‘samplar’ um disco de fado, se forem aquelas melodias mais tristonhas rapidamente consigo obter resultados. Enquanto com coisas mais ‘happy’ e mais pop é muito difícil para mim, então foi mesmo pôr-me fora de pé, fora da minha zona de conforto. Gosto de fazer isso, para não fazer as coisas em piloto automático”, contou.

O título do novo trabalho, “Desghosts & Arrayolos”, “reflete um bocado a música popular, que é sempre sobre - entre aspas - 'funerais ou casamentos'”.

“Desghosts” é o álbum “dos desgostos, obviamente”, mas também do ‘ghosting’, termo associado aos relacionamentos amorosos, “quando estás com alguém, desapareces e nunca mais dizes nada, dás um ‘ghost’ a essa pessoa”.

Já “Arrayolos” representa o ‘mundo’ dos “arraiais e do ‘yolo’ [sigla em inglês para ‘you only live once’, que em português quer dizer ‘só vives uma vez’]”.

Os 14 temas, sete em cada álbum, contam todos com a participação de convidados nas vozes, “todos com um talento incrível, que tanto podiam ter feito um tema para um lado [‘Desghosts’] como para o outro [‘Arrayolos’]”.

Os processos de trabalho com cada um dos artistas foram variados. “Não houve uma regra”, referiu Sterossauro, contando, a título de exemplo: “Com o Manel Cruz fomos construindo o tema a partir de uns ‘loops’ de guitarra portuguesa, com o New Max já tinha o instrumental mais completo e ele acabou por juntar uns sopros e um ‘hammond’”.

No caso das letras, a relação com os convidados também não seguiu sempre o mesmo esquema. “No caso do Manel Cruz eu não ia dizer-lhe escreve sobre isto ou aquilo, deixo sempre ao critério do cantautor, no caso de ser um cantautor, para que lado quer levar a letra, o que é que aquele instrumental o inspira”, referiu Stereossauro.

Mesmo quando a letra é da sua autoria, o DJ e produtor deixa “a porta aberta para ‘inputs’ sobre a letra e também de melodia e entrega vocal”. “Acho que tenho sempre a ganhar”, disse.

“Com a Mitó escrevi uma letra a pensar que tinha de bater certo com a ‘vibe’ e a personalidade dela. Não é só interpretares algo que é de outra pessoa, é juntares algo teu também. A Aurea alterou imenso a letra que eu lhe tinha enviado e também a melodia, e eu disse mesmo que queria que ela metesse a sua cena soul da interpretação, que eu não consigo fazer”, contou.

A lista de convidados de “Desghosts & Arrayolos” inclui ainda Xtinto, Blaya, MC Zuka, Ricardo Ribeiro, Maria Emília e Ana Bacalhau.

Alguns estarão em palco com Stereossauro a 6 de novembro, no Capitólio, em Lisboa, para o concerto de apresentação do álbum, que contará na primeira parte com a atuação de DJ Ride, companheiro do DJ e produtor na dupla Beatbombers.

O concerto, onde estão já garantidas as presenças de Blaya, Carlão, Marisa Liz, Aurea, Sara Correia e Xtinto “está a ser preparado com muita ansiedade e muita vontade”.

“Por mim era já amanhã! Quero tanto ir tocar como quero ir ver concertos de outras pessoas, e uma vez que está seguro: vamos festejar como deve ser!” referiu Stereossauro.

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