Esta quinta-feira, 23 de abril, assinala-se o Dia Mundial do Livro, celebrado com restrições devido à pandemia da COVID-19. Com milhares de pessoas do mundo em quarentena, a arte, nomeadamente a literatura, podem permitir viagens sem sair do sofá.

Em quarentena há várias semanas, no Porto, Richard Zimler conta ao SAPO Mag como tem ocupado os seus dias. "O que faço em casa é igual todos os dias: acordo e depois do pequeno almoço faço algumas coisas 'pequenas', como responder a e-mails, fazer um pouco de crochet, preparar biscoitos ou um bolo, vejo um bocadinho dos noticiários da televisão... Isto é novo para mim porque normalmente trabalho melhor de manhã. Tipicamente, nos últimos 25 anos, escrevi os meus romances de manhã. Tenho notado, que nas últimas três ou quatro semanas, que não consigo concentrar-me tão bem de manhã - preciso de um tempo para descontrair, para permanecer calmo. Só da parte da tarde é que consigo trabalhar na escrita", revela o escritor  luso-americano.

"Acho que todos estamos a ser afetados pela situação. Seria quase impensável e impossível não sermos afetados", frisa. "O que eu noto é que não tenho concentração, não me consigo focar na escrita da parte da manhã. Acho que todos precisamos de umas horas por dia para estarmos tranquilos para lidar com isto de uma forma tranquila e não tentar produzir muita coisa, não tentar impressionar outras pessoas, não ser competitivos. Este período poder ser uma oportunidade de valorizar o que é mais pequeno, o que é mais sossegado, os pequenos detalhes da vida e nos quais normalmente não nos focamos", acrescenta o autor.

"Sentar no sofá e ler um romance durante duas horas pode dar uma tranquilidade muito importante nesta altura. Tenho pena das pessoas que não gostem de livros, que não gostem de música... eu não faço a mais pequena ideia do que eles estão a fazer nesta altura", sublinha Richard Zimler em conversa com o SAPO Mag.

O escritor e mestre em Jornalismo pela Stanford University confessa ainda que não seria o mesmo sem os livros. "Eu não seria a mesma pessoa sem livros e sem a possibilidade de escrever, mas a música também me marcou muito - sou uma criança dos anos 1960. Seria uma pessoa completamente diferente sem Bob Dylan, sem os Beatles, sem os Stones, sem a Joni Mitchell... são as minhas referências e vão ser sempre as minhas referências", relembra.

As sugestões de Richard Zimler para ler na quarentena

Richard Zimler
créditos: Facebook Richard Zimler

O SAPO Mag desafiou Richard Zimler a recomendar dois livros para serem lidos durante a quarentena. Sem hesitar, o escritor escolheu "Minha Ántonia", de Willa Cather, e "Casei com um Comunista", de Philip Roth.

"Minha Ántonia", de Willa Cather

Richard Zimler: "Há uma obra primeira de uma escritora norte-americana, a Willa Cather, e que se chama 'Minha Ántonia'. É sobre uma jovem, uma jovem imigrante checa que vem de Boémia para viver na zona rural dos Estados Unidos. E a narrativa é de um jovem amigo dela e é contada com tanto amor, com tanta compreensão. É uma narrativa muito comovente. É um romance pequeno mas é uma obra prima".

Onde: o livro encontra-se à venda online nas principais livrarias.

"Casei com um Comunista", de Philip Roth

Richard Zimler: "Acho o Philip Roth um excelente escritor e o meu livro favorito dele chama-se 'Casei com um Comunista'. A história decorre nos anos 1950, durante o período do McCarthy, durante o período em que governo estava a caçar comunistas e gente da esquerda. É um romance muito pessoal mas, ao mesmo tempo, que lida com grandes eventos históricos".

Onde: o livro encontra-se à venda online nas principais livrarias.

Richard Zimler nasceu em 1956, em Roslyn Heights, nos arredores de Nova Iorque. Bacharelado em Religião Comparada, pela Duke University, e mestre em Jornalismo, pela Stanford University, Zimler trabalhou como jornalista durante oito anos. Em 1990, veio viver para o Porto, onde lecionou Jornalismo, na Escola Superior de Jornalismo e na Universidade do Porto. Tem atualmente dupla nacionalidade, norte-americana e portuguesa, e, desde 1996, publicou onze romances, uma coletânea de contos e quatro livros para crianças.

A sua obra encontra-se traduzida em 23 países.