Segundo a BNP, a cerimónia de doação de cerca de 90 gravuras de Ilda Reis (1923-1998), em muitos casos com as respetivas matrizes de impressão, “assume especial significado” por se celebrar este ano o centenário do nascimento da artista plástica.

Desde julho de 2002 que, igualmente por vontade da filha, a coleção de gravuras de Ilda Reis se encontrava em depósito na BNP, mas agora este espólio artístico, que “marcou de forma muito relevante o panorama da arte da gravura em Portugal”, passa a ser um património inteiramente público.

Passando a integrar a coleção da BNP, o espólio de Ilda Reis será preservado para a sociedade, contribuindo também para um melhor “conhecimento de investigadores e artistas”.

A biblioteca destaca que esta iniciativa se integra numa comemoração maior do centenário da artista, que inclui a exposição “O que é vida e o que é morte”, com curadoria de Ana Matos, inaugurada em junho e em exibição até 07 de outubro.

A BNP, que considera Ilda Reis uma “referência incontornável” da gravura em Portugal, explica que o título da exposição é tomado de um poema de Fernando Pessoa, que a própria artista usou como inspiração para uma das suas gravuras, intitulada “Enigma” (1985).

Nesta mostra, apresentam-se cerca de 30 trabalhos de gravura – em metal, madeira e técnicas mistas - produzidos entre os anos de 1966 a 1994, que se relacionam com a poesia e a música.

Estão também em exibição documentos e artefactos relacionados com a atividade artística de Ilda Reis como catálogos, fotografias da época, matrizes e utensílios de gravura.

Nascida a 1 de janeiro de 1923, em Lisboa, Ilda Reis estudou na Escola de Artes Decorativas de António Arroio, na Sociedade Nacional de Belas Artes e na Gravura – Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses.

Bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian na década de 1970, “produziu uma obra gráfica de quase uma centena de gravuras e algumas serigrafias” e participou em mais de 100 exposições individuais e coletivas, em Portugal e no estrangeiro, estando representada numa diversidade de instituições como a Fundação Calouste Gulbenkian, Casa de Serralves, Museu de Setúbal, Museu da Cidade (Lisboa), Museu de Arte Contemporânea da Madeira e em alguns museus estrangeiros e coleções particulares.

Ao longo da carreira, conquistou vários prémios, como a medalha de ouro da Bienal Internacional de Gravura, em Florença, em 1972, ou o prémio Jugoslávia no Grande Prémio Europeu de Artes e Letras, em Nice, em 1988, entre outros.

Foi casada com o escritor José Saramago entre 1944 e 1970.

Sobre Ilda Reis, o também artista e crítico Fernando Azevedo escreveu - num texto partilhado pela Galeria das Salgadeiras, que a representava – que era uma artista como havia poucos, “em que a gravura tem acesso a toda a grandeza de alma”.