“Quando cheguei ao museu em abril de 2021, já estava todo desmontado, o que me permitiu de uma forma mais programática e integral repensar a exposição de longa duração do museu. Foi um processo longo, até muito longo, mas que resulta de reflexões internas para encontrar narrativas para uma exposição que nós não queríamos que fosse apenas uma sucessão de objetos de arte”, afirmou o diretor do museu, António Ponte, em declarações aos jornalistas na véspera da sua reabertura.
Em agosto de 2019, o Soares dos Reis anunciou que iria encerrar parcialmente, devido ao início da primeira de duas fases das obras de recuperação e manutenção, com uma duração inicialmente prevista de seis meses.
Estes trabalhos de recuperação do primeiro museu público de arte do país foram negociados pela anterior diretora da instituição, Maria João Vasconcelos, que em junho de 2019 adiantava que o projeto teria uma dotação na ordem de um milhão de euros, metade dos quais para a conceção da exposição permanente.
Com as obras já concluídas quando assumiu a direção, António Ponte reconhece hoje, confrontado pelos jornalistas, que faltou uma explicação à cidade, mas sublinha que a sua prioridade foi sempre a de devolver aquele espaço cultural à cidade.
“Admitimos que possa ter existido uma falha de comunicação nessa explicação à cidade. Mas repare, eu entrei a 01 de abril de 2021 e abrimos toda a ala de exposição temporária a 15 de maio. Entendemos essa urgência de restituir o espaço às pessoas. De abril de 2021 até hoje nós tivemos sempre exposições temporárias”, indicou.
Mostrando-se satisfeito com a reabertura integral do museu, António Ponte lembra ainda que durante o período de dois anos que levou a construção desta nova narrativa, o mundo, saído de uma pandemia, viu-se confrontado com uma guerra com impacto direto na disponibilização de materiais necessários à concretização desta nova narrativa, a que se soma os tempos dos concursos públicos e da própria escolha das peças, num conjunto de mais de 18 mil objetos.
“Nós trabalhamos muito nesse período”, sublinhou, reconhecendo que “isso não justifica tudo”.
Antecipando o que os visitantes poderão encontrar a partir de quinta-feira, o dirigente explica que a exposição permanente apresenta um novo olhar sobre as suas coleções, valorizando não apenas o património cultural, como a história da instituição com 190 anos.
“O que nós estamos hoje a disponibilizar aos nossos visitantes é uma exposição totalmente renovada, vários níveis de narrativa, de relações de objetos, em que nós cruzamos as várias expressões artísticas - as belas-artes com as artes decorativas - permitindo que os públicos possam ter as suas leituras”, defendeu.
A intervenção permitiu renovar totalmente 27 salas, com uma área total de 1.900 metros quadrados, onde estarão expostas 1.133 peças, 230 das quais alvo de restauro.
Entre as novidades, António Ponte realçou a disponibilização ao público de peças, algumas do século XIII, que não eram vistas há cerca de trinta anos, e que agora estão expostas no segundo piso do edifício do Museu Soares do Reis, como a escultura de Cristo crucificado.
Destaque ainda para as obras dos pintores Vieira Portuense e Domingos Sequeira, e de um busto do poeta Luís Vaz de Camões e álbum de viagem e anotações, de António Soares dos Reis.
Questionado sobre a intenção de o museu se candidatar a financiamento para a requalificação do espaço exterior, o seu diretor indicou que tal será concretizado através do Plano de Recuperação e Resiliência e do novo quadro de apoio comunitário.
Primeiro museu público de arte do país, o Museu Nacional de Soares dos Reis foi fundado como Museu Portuense de Pinturas e Estampas, em 1833, tendo adquirido o estatuto de nacional em 1932.
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