Já este mês, a editora publica “Carta Aberta” (1967), primeiro livro de um ciclo que Goliarda Sapienza intitularia “Autobiografia das Contradições”, que é, nas palavras da Antígona, “um ajuste de contas com o mundo, pela mão de uma das escritoras italianas mais apaixonantes do Século XX”.

A obra, uma espécie de “balanço de vida”, centra-se nos tempos de infância e juventude da autora, na luminosa Catânia, e, ao sabor das lembranças, recupera as mulheres sicilianas que a moldaram, as superstições inspiradas pelo Etna, a morte do pai e a loucura da mãe, entre traumas da guerra e da ditadura.

Esta é uma obra inédita em Portugal, de uma escritora que apenas tem publicado em português o romance “A Arte da Alegria”, que inclui posfácio de Angelo Pellegrino, último companheiro de Goliarda Sapienza e impulsionador da publicação póstuma dos seus textos.

Ainda em setembro, será lançada uma obra entre a ficção e o ensaio antropológico, de Nastassja Martin, intitulado “Acreditar nas feras”, vencedor de vários prémios, que narra o encontro brutal entre uma antropóloga e um urso na floresta siberiana, em 2015, que não a mata, mas desfigura-a.

Este relato, que põe em confronto os mundos selvagem e humano, não está isento da dimensão política - a “guerra fria” entre Leste e Ocidente, travada no corpo de uma mulher, em intermináveis cirurgias e pernoitas em hospitais russos e franceses -, nem do questionamento crítico da convicção cosmopolita de que tudo à face do planeta deve ser domesticado, normalizado e controlado.

O mês de outubro assinala-se com a chegada de “Sobre a Essência do Dinheiro” (1843), de Moses Hess, um ensaio clássico que inspirou uma boa parte dos escritos de Marx, um conjunto de considerações históricas e teológicas sobre a natureza social e religiosa do dinheiro, que tem por base a ideia de que a economia é a ciência da aquisição dos bens terrenos, assim como a teologia é a ciência da aquisição dos bens celestiais.

No final do mês, outro ensaio, “Caminhar - Uma Filosofia” (2008), de Frédéric Gros, que reflete sobre a ação de caminhar como algo indissociável do ato de pensar, e que para o autor representa uma experiência física e simultaneamente espiritual, prova da liberdade humana.

Ainda em outubro, sai “Medicine Walk” (2014), de Richard Wagamese, um romance que conta a história do reencontro entre um pai, moribundo e destruído pelo álcool, e um filho, Franklin Starlight, de 16 anos, ambos nativos de tribos canadianas. É também o relato da viagem dos dois pelas deslumbrantes florestas da Colúmbia Britânica, em busca da terra sagrada da tribo, onde o pai tem por último desejo ser enterrado.

“Autodefesa. Uma filosofia da violência”, de Elsa Dorlin, um ensaio político da autodefesa e a sua genealogia, é a primeira novidade do mês de novembro, a que se segue “Carta aos Reis Magos”, de Fernando Arrabal, fundador do Grupo Pânico e mestre patafísico, autor de epístolas satíricas como “Carta ao General Franco” e “Carta a Fidel Castro”.

Neste livro, o autor pede a Gaspar, Baltazar e Belchior um “rol de prendas estapafúrdias, maioritariamente inalcançáveis e utópicas, criticando com um sorriso escarninho estes nossos tempos pejados de absurdidades”, descreve a editora.

No final do mês, a Antígona publica “Uma autobiografia” de Angela Davis, com prefácio da autora à edição norte-americana mais recente, publicada em 2022. Esta publicação segue-se a “A liberdade é uma luta constante” e “As prisões estão obsoletas?”, da ativista e professora da Universidade da Califórnia, também editadas pela Antígona.

Outra novidade é a reedição do há muito esgotado “Marcas de Batom. Uma história secreta do século XX”, da autoria do critico musical Greil Marcus, uma viagem à descoberta da origem da força, do poder e do niilismo dos Sex Pistols.

A fechar as anunciadas publicações até ao fim do ano, chegará às livrarias uma coletânea de poemas de Lawrence Ferlinghetti, intitulada “Uma manta rota da mente”, uma “obra maior da Geração Beat”.

Este é, segundo a Antígona, o livro de poesia mais vendido nos EUA na segunda metade do século XX e “uma crítica sã a uma América transformada num misto de feira popular e casa de fantasmas, metáfora e alegoria da vida moderna”, pelo autor da Beat Generation, que ousou editar os seus contemporâneos e fundar a casa livreira City Lights, em São Francisco.