"Era um dos objetivos iniciais do Tiago, que a música tivesse essa qualidade de ser um elemento que dialogasse com a ação, com os atores e com a dinâmica da dramaturgia", afirmou Manuela Azevedo em entrevista à agência Lusa.

Para os músicos portugueses, subir ao palco do Pátio de Honra do Palácio dos Papas na abertura do Festival d'Avignon foi fácil já que o encenador Tiago Rodrigues, entretanto anunciado como o próximo diretor deste certame, faz com que haja "um trabalho coletivo".

"Sentimos que não vamos sós para cena", disse o duo.

No palco, Hélder Gonçalves e Manuela Azevedo dão à peça da autoria de Anton Tchekhov o ritmo, mas também a possibilidade para os atores se expressarem de forma diferente seja através de uma canção ou de momentos de dança.

"Há bastante improviso, mas não é nosso. Há uma música mais ou menos predefinida, mas em algumas partes ficamos a sustentar a cena e seguimos os atores", explicou Hélder Gonçalves.

As músicas e diferentes instrumentais foram construídas com propostas dos músicos, mas também de Tiago Rodrigues e alguns momentos musicais foram mesmo afinados só em Avinhão, na altura dos ensaios gerais.

Estar num festival de teatro após um ano negro para a cultura e com inquietações em relação à pandemia em Portugal, traz diferentes sentimentos aos integrantes dos Clã.

"Temos alguns sentimentos confusos. Estamos muitos felizes por estar aqui nesta manifestação do teatro e da dança e de haver este esforço militante de regressar à normalidade e que a cultura não pode parar, mas ainda ontem soubemos que um dos nossos concertos foi cancelado", disse Manuela Azevedo.

Segundo os músicos, estes cancelamentos são ligados a cálculos de política local, que já se preparam para as eleições autárquicas, e, para evitar um risco de surto, se apressam a anular concertos e outras manifestações culturais das quais dependem muitos artistas nacionais.

"Muitos cancelamentos são políticos, não por causa dos riscos. E não se faz com tudo, faz-se mais com a cultura porque parece que não é tão importante", lamentou Hélder Gonçalves.

Os Clã vão estar nos próximos meses em Arcos de Valdevez e Chaves, com um mês já bastante preenchido em setembro. No início de 2022, Hélder Gonçalves e Manuela Azevedo voltam a França para dois meses de apresentações de “O Cerejal” no Teatro Odeon, em Paris, com uma digressão teatral preenchida até setembro de 2022.