O fadista, que será acompanhado pelos músicos Ricardo Parreira, na guitarra portuguesa, André Ramos, na viola, e Ciro Bertini, no baixo, realçou que que este seu quinto trabalho de estúdio, reflete a nossa contemporaneidade fadista.

O álbum partiu de uma “espécie de brincadeira”, em que o fadista lançou um desafio ao poeta João Monge para escrever um disco inteiro para si, contou Hélder Moutinho à Lusa.

“Eu sabia que o [João] Monge gosta de fazer discos inteiros, e por brincadeira, disse-lhe que era um sonho meu que ele me escrevesse um disco inteiro, e ele aceitou”, disse.

O álbum é constituído por 15 temas, em que todas as letras são de João Monge, musicadas por diferentes compositores, entre eles, Carlos Barretto, João Gil, Vitorino, José Medeiros e uma do próprio Monge, que foram escolhidos foram surgindo entre sugestões do poeta e do fadista.

“O que pedi a cada um dos compositores foi que escrevessem, sem pensar no fado, fizessem uma melodia, para eu interpretar, esse sentimento fadista dar-lhe-ia a minha voz e os músicos, principalmente, o guitarra e o viola, [respetivamente Ricardo Parreira e Marco Oliveira], que somos nados no fado”.

A este duo junta-se Ciro Bertini no baixo acístico e no contrabaixo, nomeadamente nos temas “Canção em linha reta” e “Condão”.

“A ideia, no fundo, é dar seguimento à construção do próprio fado, que foi construído durante o século XIX e no passado com várias melodias de fados tradicionais e depois vários fados-canção”, explicou Hélder Moutinho que gravou o disco numa residência artística em Serpa.

“Este álbum pretende, por um lado, refletir essa herança, e por outro, fazê-lo evoluir, como que dizendo que o fado continua em embrião, e pode continuar a crescer, pode continuar a ser construído enquanto género musical”.

Esta situação, na opinião do fadista, é observada no disco, “com novos fados-canção, e a possibilidade em dois ou três temas de se considerarem fados tradicionais, pela sua estrutura”.

Hélder Moutinho citou a melodia de “o ’Fado triste’, de João Gil, que é em quintilhas, uma música em podemos cantar o ‘Estranha forma de vida’, o tema 'Manual do coração”, de José Luís Martins, que é o Fado Moutinho, e que são sextilhas, com a tónicas e os graves no tempo certo, e o ‘´Ás vezes’, um decassílabo, musicado por Ricardo Parreira, que é o Fado Tio, pois ele trata-me por tio, e anteriormente tinha composto para mim o Fado Manuel Francisco, numa homenagem ao meu pai”, contou, e referiu ainda o Fado Penedo, uma composição de Mário Laginha para “Amor sem lugar”.

Para chegar a esta etapa Hélder Moutinho, de 47 anos, considera essencial o percurso de aprendizagem que se faz nas casas de fado, “lidar com as pessoas mais velhas, com quem tem alguma coisa para nos dizer e ensinar, o ter de cantar todos os dias, nem sempre com os mesmos músicos, ter capacidade de improvisar porque está bem ou mal da voz”.

Hélder Moutinho estreou-se discograficamente com “Sete fados e alguns cantos” (1999), seguindo-se “Luz de Lisboa” (2004), que lhe valeu um Prémio Amália para o Melhor Disco, em 2005, e editou “Que fado é este que trago” (2008) e “1987” (2013).