Provavelmente ainda não ouviu falar de Jão, mas do outro lado do Atlântico, no Brasil, o jovem do interior de São Paulo é uma das novas estrela da música pop. Com os dois primeiros singles - "Imaturo" e "Ressaca" -, o cantor já conquistou vários prémios e soma milhares de seguidores nas redes sociais e nas plataformas de streaming, como o Spotify.

Recentemente, Jão venceu o prémio MTV MIAW 2018 na categoria que celebra as revelações e foi considerado um dos nomes mais promissores da pop para 2018, segundo uma lista publicada pelo Google. Apesar de ainda estar a dar os primeiros passos, o seu interesse pela música já é antigo: "O meu interesse pelo mundo da música começou quando era criança. Era uma criança muito tímida, introspetiva e não gostava de desporto, de brincar. Bem, eu brincava bastante mas a coisa que mais gostava era de estar no meu quarto, a ouvir discos da minha mãe e a descobrir as letras. Então, foi aí que despertou o meu interesse - foi em criança, no meu quatro e sozinho", contou Jão ao SAPO Mag, recordando que ouvia "muitas coisas".

"Ouvia os álbuns da minha mãe porque na altura não havia Spotify, Youtube... sei lá, ouvia Mariza Monte, ouvia as bandas sonoras das novelas - aqui no Brasil temos muitas novelas. As canções que tocam nas novelas são sempre grandes sucessos", lembra, acrescentando que não ouvia "pelo artista" mas "porque era o que tinha na mão".

Jão
créditos: Vitor Manon

Quando era criança já arriscava cantar, na escola, na brincadeira com a sua minha irmã, conta Jão. "Nós éramos conhecidos como as 'crianças meio palhaças'. Nós fazíamos teatro, cantávamos e sempre gostámos de fazer isso. Na escola, quando comecei a crescer, comecei a participar em festivais de escola e sempre gostei muito de música - sempre ouvi e consumi muita música. Aos 15 ou 16 anos comecei a produzir e a compor por conta própria - morava numa cidade muito pequena, no interior de São Paulo, e não tinha quem me ajudasse a fazer as minhas canções. Então, comecei a procurar maneiras de fazer sozinho, ia fazendo download de programas de edição de música e comecei a fazer música. Depois, mudei-me para São Paulo, para a capital mesmo,  comecei a fazer faculdade e uns amigos meus começaram a descobrir as minhas canções e começaram-me a impulsionar para que eu fosse atrás do meu sonho", relembra.

De Américo Brasiliense, no interior de São Paulo, Jão foi descoberto na internet e começou a produzir as próprias canções. "Lembro-me da primeira canção que fiz e é muito má. Tinha uns 15 anos e tentei compor uma música em inglês e acho que está totalmente errada. Se for ler agora, o inglês deve estar todo errado. Mas, sei lá, era um pouco 'bobão' na época. Mas aprendi muito a produzir ao tentar descobrir como fazer as coisas. Mas a primeira canção em português que fiz, que ficou pronta, que produzi e que lancei de forma independente há dois anos e meio foi 'Dança Para Mim'", conta.

Jão

Antes de ficar conhecido nas redes sociais, Jão aventurou-se em pequenas atuações ao vivo. "Comecei a cantar em alguns lugares de São Paulo, um pouco na brincadeira. Ia aos bares, as pessoas estavam lá a cantar na brincadeira e eu levava muito a sério, tentava cantar e fazer com que as pessoas prestassem atenção. Tinha umas cinco pessoas no restaurante e fazia com que toda a gente parasse para me ver cantar. E, depois, comecei a ficar um pouco inseguro e comecei a trabalhar. Fiz um estágio durante um mês, os meus amigos começaram a impulsionar para fazer alguma coisa e comecei a colocar vídeos na internet, lancei a canção chamada 'Dança Para Mim'. Partilhei alguns vídeos, fui espalhando. Queria muito que uma editora me encontrasse para investir e começar a carreira. E aí a Universal Music encontrou-me e estamos a começar uma carreira", explica o músico.

"Ressaca" e "Imaturo" foram os dois primeiros singles lançados por Jão em colaboração com a editora. "A canção 'Imaturo' [com mais de 13 milhões de visualizações no Youtube] fala sobre um sentimento um pouco ingénuo, da época em que somos crianças e não sabemos falar muito bem de amor. Queria muito que a canção lembrasse que falar de amor é muito simples e que quando crescemos  é que complicamos muito as coisas. Acho que queria trazer esse sentimento de simplicidade, de ingenuidade - tanto com a música como com o videoclip que tem crianças e com cores em tons de pastel. Queria mostrar alguma nostalgia.

Jão
créditos: Cauê Tarnowski

Mais recentemente, o músico brasileiro gravou os seus temas em acústico, lançando ainda um novo original ("Aqui"). "Foi difícil transformar as canções, canto-as sempre nos meus concertos. Tive de parar um pouco e pensar como poderiam ser diferentes. Acho que a 'Ressaca' foi a mais simples porque já tem um toque acústico. Mas 'Imaturo', que é mais pop, foi mais complicado. Mas tive a ajuda dos meus produtores e conseguimos fazer uma bom arranjo para os temas", confessa.

O primeiro disco de originais já está a ser preparado e chega às lojas e aos serviços de streaming antes do fim do ano. "Estou muito empenhado no disco, queremos lançar ainda um single antes do álbum sair e um videoclip. Estamos a todo a vapor", conta.

"É um disco muito pop - gosto de assumir o papel de artista pop e de trazer coisas novas para a música pop brasileira. A música pop ainda está a gatinhar aqui, acho que está a crescer e temos artistas muito bons, como a Anitta ou a Pabllo Vittar, que estão a ajudar. Fazer parte deste movimento no início dele é muito importante para mim. Então, quero fazer um pop bastante diferente com referências regionais e mais sombrio que os trabalhos anteriores. Vai ter um toque mais sombrio e quero fazer algumas parcerias com alguns cantores daqui. Acho  que vai ficar 'bem legal'. Não posso contar muito", revela Jão ao SAPO Mag.

A dar os primeiros passos na carreira, o artista tem várias influências. "Do Brasil, gosto muito de um cantor chamado Cazuza. É um cantor dos anos 1980 e inspira-me muito na forma de cantar e na forma de escrever. Acho que tinha um presença de palco muito forte. E gosto de me inspirar nessas pessoas porque acho que falta um pouco disso hoje em dia, de pessoas que se entregam em palco e que se entregam à música. Acho que, às vezes, as coisas ficam muito artificiais", frisa.

"Gosto muito da Anitta, que é daqui do Brasil e vocês devem conhecer bem. Conheci-a no mês passado, nos prémios da MTV aqui no Brasil e foi incrível. Ela é muito boa pessoa", acrescenta.

E para o futuro? "Quero crescer cada vez mais e chegar a mais pessoas. Tenho o sonho de ser muito grande no mundo da música. Quero deixar a minha marca e ser lembrado como uma pessoa que contribuiu para a música pop e em geral. Acho que sempre que conquistamos alguma coisa, vamos sonhando um pouco mais. Também quero ir a Portugal e fazer concertos na Europa. Todos os sonhos são válidos e estou a trabalhar bastante", sublinha.