“Tenho uma série de ideias, que foram discutidas no processo de seleção, mas é um bocado prematuro estar a falar do que é que eu vou fazer lá exatamente, ou seja, a nível concreto é muito difícil dar pistas”, afirmou hoje João Laia, em declarações à Lusa.

No entanto, o curador falou com a Lusa das linhas que apresentou na candidatura ao lugar, “que aparentemente tiveram bom acolhimento na instituição, mas que vão ser trabalhadas em conjunto”.

Sublinhando que é “o primeiro estrangeiro a trabalhar no museu, até agora as equipas sempre foram 100% finlandesas”, João Laia referiu que tanto a sua entrada, como os planos que apresentou, “estavam muito dentro de uma lógica de aumentar a presença internacional do museu”.

“Em particular, havia dois territórios que me interessam bastante, um com o qual já tenho bastante familiaridade, que é a Rússia, e o outro é a Ásia, com o qual tenho alguma [familiaridade]. Estive o ano passado no Japão e viajei um pouco pela China, mas nunca trabalhei lá”, afirmou o curador, acrescentando que, “por razões diferentes”, estes são dois territórios que considera “extremamente estratégicos para o Kiasma”.

João Laia lembra que, “a nível geográfico, a Rússia é um desenho enorme” e, “mesmo a nível histórico, há uma história partilhada entre os dois países [Rússia e Finlândia]”.

“A nível da Ásia, dentro do meu interesse das Ciências Sociais, enquadrar a arte como uma ferramenta para pensar um campo social mais abrangente, a Ásia já está a marcar e vai marcar muito o futuro de uma série de questões, e, por isso, novamente aproveitando a posição geográfica da Finlândia, do Kiasma, saltar para esse campo simbólico onde a Ásia se está a estabelecer como o futuro”, afirmou o curador.

João Laia, que parte no domingo para a Finlândia, começa na segunda-feira a cumprir um contrato de três anos, com hipótese de ser prolongado por mais dois. “Caso haja vontade de continuar terei que entrar para o quadro, mas por agora são três anos, ao fim desse período há uma avaliação e vamos ver se fico mais dois anos”, explicou.

A nomeação do curador português, que será responsável pelo programa de exposições no Kiasma, em conjunto com o diretor do museu, Leevi Haapala, foi anunciada na terça-feira.

Leevi Haapala, citado no comunicado de anúncio da nomeação, mostrou-se satisfeito por ter João Laia na sua equipa, “para reforçar o papel internacional do Kiasma e da National Gallery finlandesa”.

O responsável recordou que João Laia, “um curador altamente relacionado”, é “bem versado na cena global de arte contemporânea e na teoria social da arte”, e “nos últimos anos integrou projetos no Brasil, Reino Unido, Itália, Lituânia, Portugal, Rússia, Espanha e Suécia”.

João Laia tem mestrados em Estudos de Cinema, da King’s College, e em Curadoria de Filmes, do London Consortium, ambos em Londres, e uma pós-graduação do programa CuratorLab da Konstfack, em Estocolmo.

O curador português, que tem estado envolvido na organização de exposições, não só em Portugal, mas também Espanha, Suíça, Brasil e Reino Unido, é curador da Opening, a secção da feira de arte ARCOlisboa, dedicada a galerias com menos de sete anos de atividade, e membro das equipes curatoriais da exposição inaugural do Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa (2015-17), além de colaborar com publicações como frieze, Spike Art Quarterly, Flash Art, Terremoto ou Público.