O anúncio foi feito durante uma conferência de imprensa online, para apresentar as programações dos três festivais, com a participação do presidente da bienal, Roberto Cicutto, e dos respetivos diretores, o encenador italiano Antonio Latella, para o teatro, a coreógrafa canadiana Marie Chouinard para a dança, e o compositor Ivan Fedele, para a música.

Devido ao impacto da pandemia da COVID-19, os festivais de teatro e de dança da Bienal de Veneza, previstos para junho e julho, tiveram de ser adiados para setembro e outubro, enquanto o de música manteve as datas iniciais de setembro.

Este ano dedicado ao tema "Encontros", o festival de música de Veneza decorrerá de 25 de setembro a 4 de outubro, com uma programação feita de 18 concertos e espetáculos nos quais se fará a estreia de mais de duas dezenas de novas composições.

De acordo com o programa hoje anunciado, destaca-se a abertura do festival, dedicada ao compositor espanhol Luis de Pablo, que recebe o Leão de Ouro de carreira e de quem serão interpretadas duas novas composições: "Concerto para viola e orquestra", com Garth Knox e Thierry Mercer, e "Fantasías", pela Orquestra de Pádua e Veneto.

O compositor francês Raphael Cendo, Leão de Prata este ano em Veneza, apresentará a composição vanguardista "Delocazione", interpretado pelo Quarteto Tana com o grupo vocal Neue Vocalsolisten.

Este ano, o festival assinala ainda os 250 anos do nascimento de Beethoven, com recitais dos jovens pianistas Leonardo Colafelice e William Greco, assim como o centenário do nascimento do compositor veneziano Bruno Maderna, expoente da expressão de vanguarda em Itália, na segunda metade do século XX, a par de Luigi Nono e de Luciano Berio.

O Festival de Teatro da Bienal de Veneza, que decorrerá de 14 a 25 de Setembro de 2020, sob a direção de Antonio Latella, intitula-se "Nascondi(no)" e apresenta 28 títulos, todos em estreia mundial, e 40 espetáculos.

De acordo com o diretor do festival, os artistas foram convidados a trabalhar sobre o tema da censura, na convicção de que o teatro italiano tem dificuldade em penetrar no mercado internacional, pelo simples facto de ser teatro italiano.

Entre as diversas abordagens ao tema, alguns encenadores e companhias encontraram inspiração em autores "polémicos", como é o caso de Marquês De Sade e do espetáculo "A filosofia na Alcova", dirigido por Fabio Condemi, ou de "Lolita", de Nabokov, pela companhia Biancofango.

"Eh! Eh! Eh! Raccapriccio", baseado nas "Flores do Mal", de Baudelaire, é a proposta do duo AstorriTintinelli, autores de adaptações sarcásticas dos clássicos.

"La città morta", considerada a tentativa falhada de Gabriele D'Annunzio de reescrever a tragédia grega, é agora encenada por Leonardo Lidi, ao passo que Giovanni Ortoleva encena "I rifiuti, la città e la morte" ("O lixo, a cidade e a morte"), de Rainer Werner Fassbinder, abordagem da especulação imobiliária pelo dramaturgo, encenador e cineasta alemão, motivo do caso mais escandaloso de censura na Alemanha dos anos 70, que daria origem ao argumento do filme "A Sombra dos Anjos", de Daniel Schmid.

Noutras produções, os artistas, chamados a abordar o tema da censura, foram inspirados por figuras históricas ou temas políticos, sociais e psicológicos que lhes permitem olhar para a realidade através de uma lupa.

"George II", escrito por Stefano Fortin e dirigido por Alessandro Businaro, ou "Elia Kazan. Confessione Americana", inspirado na controversa história de vida do realizador, levado à cena por Matteo Luoni e Pablo Solari, são espetáculos propostos nesta linha.

Outros títulos do festival referem-se a um veto, a uma proibição, a uma restrição destacada no título, como é o caso de "Non dire/Non fare/Non baciare", histórias contadas por diretores, atores e dramaturgos estudantes, sob a orientação de Francesco Manetti, "Untold", pelo coletivo UnterWasser, ou "Bye Bye", de Alessio Maria Romano.

"Em alguns casos, o tema da censura é visualizado num lugar, numa paisagem, num espaço físico": como "Pandora" do Teatro dei Gordi dirigido por Riccardo Pippa, que encerra dentro de uma casa de banho "um espaço amoral, suspenso, de grande violência e nudez".

Quanto ao 14.ª Festival de Dança, sob a direção da coreógrafa canadiana Marie Chouinard, previsto para 13 a 25 de outubro, revela um programa em que serão apresentadas 23 peças de 19 coreógrafos, sete em estreia mundial, e cinco em estreia em Itália.

As duas semanas dedicadas à dança contemporânea vão ainda mostrar filmes e realizar debates em vários espaços culturais, como teatros, e zonas ao ar livre, em Veneza.

Nesta edição, serão galardoados com o Leão de Ouro de carreira, a coreógrafa hispano-suíça La Ribot (María La Ribot) e, com o Leão de Prata de carreira, a coreógrafa Claudia Castellucci.

Do programa fazem parte apresentações de coreografias da coreógrafa catalã Maria Campos e do libanês Guy Nader, da criadora belga Lisbeth Gruwez e do basco Jone San Martín.

Claudia Catarzi, Matteo Carvone, Silvia Gribaudo, Chiara Bersani, Marco D'Agostin, Sofia Nappi e Olivier Dubois são outros dos criadores cujas obras vão marcar o programa da bienal de dança.

Na bienal, La Ribot vai apresentar a peça "Panoramix", "Piezas distinguidas" e "Another Distinguée", enquanto Claudia Castellucci irá apresentar "Fisica dell'aspra comunione".