"A capital que desejo e imagino tem origem numa dimensão cultural capaz de transformar o futuro, as pessoas e o território", disse hoje Raul Castro, durante a conferência "Cultura é capital", no Museu de Leiria.

Para o autarca, a candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura em 2027 "não se resume a um ano cheio de expectativas".

"A minha convicção não se limita a 365 dias de eventos e espetáculos. Leiria não precisa de fogo-de-artifício e de algumas pessoas contratadas para irem apanhar as canas e limparem as ruas, como quando a folia desaparece e resta o desperdício que não mais se recupera", sublinhou Raul Castro.

Nos últimos anos, Leiria conseguiu, segundo o presidente da autarquia, "formar uma espécie de ‘cluster' cultural através vários espaços museológicos existentes e por aqueles que entretanto vão nascendo".

Por isso, a Capital Europeia da Cultura em Leiria assumirá também o objetivo de "revelar toda a riqueza cultural que a região de Leiria tem para mostrar".

Raul Castro defende que só o envolvimento de populações e instituições poderá tornar possível a candidatura, que tem de ser apresentada em 2020: "A verdadeira ambição de um território e das pessoas que o vivem só pode ser medida pela capacidade que tivermos em agir".

O diretor artístico da Sociedade Artística e Musical dos Pousos, Paulo Lameiro, que integra o grupo de missão que estuda a candidatura de Leiria, admitiu problemas de escala em Leiria para a dimensão exigida a uma Capital da Cultura.

"A nossa cidade é pequeníssima, somos poucos, e se a amostra é curta, é mais difícil encontrar mais pessoas, mais protagonistas, mais líderes, que consubstanciem um projeto cultural para a nossa cidade".

Para Paulo Lameiro, contudo, o problema da "pequenez de Leiria" reflete-se a outro nível: "Somos pequenos porque somos invejosos. Não potenciamos os líderes das instituições que vão agindo. Não alimentamos as mais-valias que todos somos. Partimos da ideia de que se a ideia for minha ganhamos mais. Uma Capital da Cultura não é de A, B, ou C, é de todos".

Além disso, em Leiria, "continua a não haver uma estratégia para que a cultura faça parte da vida das pessoas", existindo "eventos avulsos" e "poucos sistémicos", a par de uma programação cultural inexpressiva a nível do ensino superior.

"A nossa pequenez resulta disso. O indicador para que devemos olhar é este. O que se tem de transformar é a curiosidade e a necessidade de nos conhecermos mais globalmente com estas ferramentas que não fazem parte do nosso quotidiano. É uma grande questão nacional e quotidiana", frisou.

Apesar disso, o elemento do grupo de missão acredita que Leiria pode mesmo vir a ser Capital Europeia da Cultura.

"As probabilidades de isso acontecer são baixos, mas a candidatura não é hoje, é em 2020. Só está nas nossas mãos - e não nas mãos da Comissão Europeia ou do Ministério da Cultura - conseguir a capacidade de potenciar essa possibilidade para podermos concorrer com uma proposta que seja vencedora".

Os dois responsáveis falavam durante a conferência "Cultura é Capital", evento organizado pelo semanário "Região de Leiria", com o apoio da autarquia.