O quarto álbum de originais da banda deveria ter sido editado no ano passado – o primeiro single “Everytime” foi divulgado logo no início de 2020 -, mas a vida e uma pandemia meteram-se no caminho e alteraram-lhes os planos.
“Após lançarmos o primeiro single percebemos que não era muito favorável lançar um disco nesse contexto e acabámos por adiar para este ano. As coisas ainda não estão tão boas, mas sentimos que, por termos o disco pronto, e haver um intervalo grande desde o último lançamento, não faz sentido esperarmos mais”, disse o vocalista dos Sean Riley & The Slowriders, Afonso Rodrigues, em entrevista à Lusa.
O terceiro álbum do grupo, homónimo, data de 2016, ano que fica marcado na história da banda pelo desaparecimento de um dos seus fundadores, Bruno Simões.
Numa banda que começou a três (Afonso Rodrigues, Bruno Simões e Filipe Costa), o desaparecimento de um dos elementos provoca forçosamente mudanças.
Afonso Rodrigues partilhou como o que aconteceu há cinco anos foi para banda uma “situação muito difícil de lidar e provavelmente impossível de ultrapassar”, mas o facto de se terem uns aos outros e o “grande amor pela música” funcionaram como “tábua de salvação”.
Filipe Costa recordou que, “desde o primeiro ensaio a três, a própria dinâmica criativa [da banda] era de muita experimentação em cima das canções do Afonso, e de cada um trazer para os seus instrumentos abordagens diferentes, bagagens diferentes, propostas diferentes”.
A dada altura, a banda de três passou a quatro, com a entrada de Filipe Rocha, e em “Life” juntou-se um novo elemento, Nuno Filipe, “uma pessoa que faz parte da casa, da família, que já tinha sido ‘road manager’ da banda”.
Foi Nuno Filipe quem substituiu Bruno Simões em 2016, quando o grupo decidiu tocar o terceiro disco ao vivo. Foi “a primeira e a única pessoa” com quem consideravam fazê-lo, e “Life” o primeiro trabalho em que Nuno Filipe fez parte do processo de composição.
“Houve muita coisa feita na sala de ensaios, houve outras que eram composições trazidas pelo Afonso, houve coisas que aconteceram já em estúdio, nessa lógica de experimentação, de abertura e de viagem a ver onde é que a estrada acaba”, contou Filipe Costa.
A ‘viagem’ que levou a “Life” começou em 2018, altura em que Afonso e Filipe Costa trocaram “centenas de canções” para tentarem perceber o que queriam fazer.
“E uma das coisas que queríamos muito fazer, talvez pelo sítio onde nos encontrávamos emocionalmente, era tentar contrapor isso com um disco que fosse mais luminoso e menos dramático. A nossa música tinha tendência a ter uma carga muito dramática, muitas dinâmicas, muitas intensidades, então queríamos aligeirar um pouco a coisa”, recordou.
Mas a vida voltou a intrometer-se nos planos da banda e no primeiro dia de 2020, “ano de trabalho no disco”, Afonso cortou um dedo.
“Fiz um golpe muito fundo numa articulação e de cada vez que tentava tocar guitarra o golpe abria. Durante meses fiquei sem conseguir tocar, o que fez com que chegássemos à sala de ensaios e começássemos a trabalhar em canções sem a utilização da guitarra, e isto acabou por mudar dramaticamente a direção artística que tínhamos para o disco, porque de repente encontrámos verdadeiramente algo que nos estava a entusiasmar, que nos estava a soar a novo, a fresco e abordámos esse caminho e explorámo-lo da forma que melhor conseguimos”, relatou.
Quando isso aconteceu, “Everytime”, tema ao qual já tinham decidido tirar as guitarras, já estava pronto, por isso Afonso admite que “eventualmente” o resultado final do álbum seria o mesmo, “mas acabou por ser a vida e a forma como ela acontece a definir o que acabaria por acontecer”.
O dedo cortado de Afonso não foi, porém, o único ‘culpado’: “há outra pessoa muito importante no caminho que este disco seguiu que é o Makoto Yagyu [músico dos PAUS e Riding Pânico], produtor do disco, connosco”, referiu Filipe Costa.
“Se já temos no nosso ADN essa abertura à experimentação, a colocarmos desafios e rasteiras a nós próprios, o Makoto encarou o disco como encara a música e o trabalho dele como produtor: ir à procura também, em termos sónicos, de arranjos”, referiu.
Além de ser o primeiro álbum sem um dos elementos fundadores e de ser aquele em que as guitarras têm menos predominância, “Life” fica igualmente na história da banda como o disco em há um tema cantado por alguém que não Afonso Rodrigues.
“Não sabemos nunca se vai haver mais um disco e achei que era essencial na história de Slowriders que aparecesse uma música cantada pelo Filipe [Costa] e este seria o disco em que tínhamos que o fazer”, disse Afonso Rodrigues.
O músico lembra que Filipe Costa “sempre escreveu música, mas acabou por nunca dar o passo e investir nessa escrita, materializar essas canções”.
“Há um par de anos, num concerto, ele estava a tocar esta música [“Last One”, que encerra o álbum] num ensaio, e aquilo não me saiu da cabeça”, recordou.
Os dois admitem que “Life” é um trabalho que “em tudo” os fez “olhar ainda mais para dentro”. “Para a nossa história, para as nossas vidas, o que as nossas vidas se alteraram nos últimos anos, desde que começámos a fazer música juntos, principalmente eu e o Filipe que estamos nisto desde o início”, referiu Afonso Rodrigues.
O novo capítulo de Sean Riley & The Slowriders pode ser visto e ouvido ao vivo nos dias 15 de junho, em Lisboa, no Teatro Maria Matos, e 18 de junho, em Coimbra, no Teatro Académico Gil Vicente.
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