Don DeLillo (na foto) leu pedaços do seu próximo romance, “Zero K”, a ser editado algures no próximo ano. Leu sobre o desejo da imortalidade, a fé na vida e na morte, um pai e um filho perdidos numa paisagem surreal no meio de um deserto, um centro espiritual, tecnológico, científico, algures entre a alegoria e a metáfora. Por momentos lembrou-me o ‘lar do vilão’ do último James Bond.
O estilo permanece o seu, seco e poético mas cheio de significado, um pouco como aquilo que descrevia. Sentimo-nos perdidos ao ouvi-lo falar sobre os seus loucos mas com vontade de saber mais, de perceber de onde vêm, para onde vão. E o próximo ano que nunca mais chega.

Juan Goytisolo leu coisas que já tinha escrito, mais alucinado que DeLillo, mais ainda alegórico, mais ainda louco, ditadores e vítimas, zoófilos, Adão e Eva, uma galeria polifónica de gente perdida a tentar encontrar caminhos no ritmo sinuoso do seu castelhano.
A meio pôs os óculos, talvez porque na idade lhe fugissem as palavras, talvez porque as próprias palavras procurassem mais caminhos onde nos conduzir, assim curtas e sedutoras.

Bernardo Carvalho leu um conto seu sobre um arquiteto e a sua cidade imaginada na casa de banho, decalcada da casa de banho – o bidé era a arena, o estádio. E ele próprio vivendo numa parede de azulejos… perdão, de apartamentos e jardins verticais e uma mulher misteriosa como tendem a ser as mulheres em cidades subterrâneas imaginadas a partir de casas de banho, uma mulher que talvez tivesse vivido na superfície, talvez fosse apenas louca.

Loucos, nós, ali sentados, a acreditar ainda no poder da literatura, a divertir-nos e intrigar-nos com as palavras, enquanto lá fora os turistas tiram selfies em frente à estação do Rossio. Obrigado.