A coletânea assume logo no prefácio que a palavra “melhores” é um “adjetivo problemático”: “No conjunto dos muitos milhares de poemas escritos por autores portugueses num século inteiro, como escolher “os melhores? E o que significa “melhor” em poesia?”
Com essa premissa, o livro não pressupõe nenhuma ordem cronológica, o que logo à partida o desabilita a funcionar como um panorama com fundo histórico da evolução do género no país. O autor, no entanto, propõe outra organização - quatro temas (“Retratos”, “Relatos”, “Desacataos”, “Hiatos”) de vaga conexão com os poemas selecionados.
Assim, essa longa sucessão de poemas organizados de forma aleatória introduz o leitor num universo cuja maioria dos nomes lhe são familiares e cujas escolhas servem como ponto de partida para começar a se interessar por um autor. O livro também aproveita para dar a conhecer autores que tiveram menos atenção dos “media” ou não constam nos manuais escolares.
A regra de um poema por autor só é quebrada por Fernando Pessoa, cujos três heterónimos ganham cada um texto. Aos poetas desaparecidos até os anos 30 constam, além de Pessoa, Florbela Espanca, Camilo Pessoa e Ângelo de Lima - mas a maioria sobreviveu a longa noite do Estado Novo - muitos dos quais enfrentando prisões, proibições e exílio.
Alguns dos nomes dispensam maiores apresentações aos leitores: Vitorino Nemésio, Miguel Torga, Jorge de Sena, Sophia de Mello Breyner Andresen, Mário Cesariny, Alexandre O’Neill, Herberto Helder mas, claro, há muito mais - um extenso convite aos interessados na arte da poesia lusitana.
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