“Parto da ideia de que o homem, sendo uma espécie de mamífero infinito, até hoje ainda não parámos de evoluir, a verdade é que todos os dias assistimos a factos, a notícias que nos põem a pensar que o homem acaba, em determinados momentos, por regredir e não tirar proveito de todas as capacidades que tem e, em vez de se empenhar em melhorar o mundo em que vivemos, acaba por construir muros, cercas e levar crianças a morrer no mar quando tentam atravessar o Mediterrâneo à procura de uma vida melhor”, afirmou o escritor à Lusa.
O livro é editado pela Quetzal e vai ser apresentado na sexta-feira, às 18:30, na FNAC de Santa Catarina, no Porto.
Manuel Jorge Marmelo reconhece que o enredo do livro não tem “diretamente nada a ver com isto”: “Há um personagem que atravessou o Mediterrâneo para chegar à Europa, mas depois, toda a ação do livro, decorre dentro de um prostíbulo, chamado Bar Mitzvá, e é esse prostíbulo fechado por redes que acaba por ser um pouco a metáfora do tempo em que vivemos”.
Dentro do prostíbulo, Wakaso, “para além de vigiar as prostitutas, limpar e ser o criado do dono” tem um quarto com uma máquina de escrever “onde tenta comprovar o Teorema do Macaco Infinito porque assim lhe foi imposto pelo patrão”, referindo-se à ideia de que um macaco que escreva de forma aleatória num teclado durante um período infinito vai acabar, quase de certeza, por reproduzir um determinado texto, como obras clássicas da literatura.
Marmelo, antigo jornalista agora assessor de imprensa da Câmara Municipal de Matosinhos depois de dois anos desempregado, reconhece que a escrita é algo que neste momento lhe “ocupa muito pouco tempo”, faltando por vezes também a “disponibilidade e a frescura para no fim de um dia de trabalho ainda estar em casa a escrever”.
“Não é a situação ideal, mas é a situação que tenho e como escrever é algo que sinto necessidade de fazer, que, de algum modo, me completa, me faz sentir uma pessoa mais plena, vou tentando fazê-lo com as condições que tenho”, afirmou Manuel Jorge Marmelo, que ao longo da carreira já venceu o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco e o prémio do Correntes d'Escritas.
Questionado sobre se estava satisfeito com o mais recente livro, o escritor, que assinala em 2016 os 20 anos de carreira literária, afirmou nunca o estar totalmente: “No dia em que ficar totalmente satisfeito com o livro provavelmente não volto a escrever porque já consegui o livro perfeito”.
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