Referindo-se ao autor de “O Canto e as Armas”, a SPA afirma em comunicado, que é um “dos nomes mais destacados da vida literária, cívica e política portuguesa, desde meados da década de sessenta do século passado”.

Na cerimónia, para a qual está anunciada a presença do ministro da Cultura, João Soares, serão também entregues outros galardões, nomeadamente o Grande Prémio de Teatro SPA/Novo Grupo, as Medalhas de Honra da SPA e os Prémios Pró-Autor, que distinguem figuras e instituições que “se têm destacado na defesa e promoção da Cultura e na valorização do trabalho dos criadores culturais”.

A SPA, em maio de 2008, tinha já distinguido o autor de "Nambuangongo, meu amor", com a Medalha de Honra.

Em fevereiro último, Manuel Alegre criticou aquilo que definiu como uma “ditadura do mau gosto”, alimentada pela comunicação social, que prejudica a literatura nacional e fomenta o desenvolvimento de uma “subliteratura”.

O escritor falava no encontro de escritores de expressão ibérica Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim, e considerou que “a palavra do Homem está pervertida, pela tecnocracia, pelos interesses, pelo império do dinheiro e também pela subliteratura”.

“Entra-se numa livraria e quase se desanima. Há tempos estava numa livraria a assistir à apresentação de um livro, estava o Gastão Cruz ao meu lado, olhámos para as prateleiras e dissemos: ‘Para que é que a gente anda a publicar livros?’ Entra-se numa livraria e desanima-se ou quase”, rematou.

Manuel Alegre estreou-se em livro com a publicação de "A Praça da Canção", em 1965, “nessa época, o autor encontrava-se na guerra colonial em Angola, tendo sido detido pela PIDE [Polícia Internacional e de Defesa do Estado]”, refere a SPA.

“Vários poemas de ‘A Praça da Canção’ foram musicados e cantados por nomes como Adriano Correia de Oliveira”. Este livro “tornou-se assim um dos símbolos da luta dos portugueses contra a ditadura de Oliveira Salazar e Marcello Caetano”, afirma a SPA, referindo que “também esse facto foi tido em conta na escolha” do nome do escritor para receber a mais alta distinção anual da cooperativa de autores.

Deputado durante décadas e duas vezes candidato à Presidência da República, Manuel Alegre é cooperador da SPA e “uma das figuras mais ativas da vida cultural e política portuguesa", tendo feito parte de "importantes júris literários" e contando com "vários livros distinguidos em Portugal e no estrangeiro”, afirma SPA.

O poeta é um dos mais cantados. Entre os nomes que gravaram poemas seus, destacam-se, além de Adriano Correia de Oliveira, Amália Rodrigues, José Afonso, Carlos do Carmo, Luís Cília, Janita Salomé e João Braga.

Natural de Águeda, onde nasceu em maio de 1936, Manuel Alegre estudou Direito na Universidade de Coimbra, tendo-se envolvido nas lutas académicas contra a ditadura.

No início dos anos de 1960, cumpriu o serviço militar em Angola, onde foi preso pela polícia política do regime (PIDE), por se revoltar contra a guerra colonial.

Em 1964, partiu para um exílio de 10 anos, em Argel.

Fez parte da Frente Patriótica de Libertação Nacional, de Humberto Delgado, e, depois, da Ação Socialista Portuguesa, na base da criação Partido Socialista.

Manuel Alegre conta atualmente com mais de 30 títulos publicados entre ficção e poesia e tem recebido vários galardões nacionais e internacionais, entre eles, os prémios Amália e D. Dinis-Fundação da Casa de Mateus.

No ano passado, em maio, recebeu a Medalha de Ouro da Cidade de Coimbra. Nessa altura publicou “Bairro ocidental”, no qual o poeta afirma “que é necessária e urgente a nossa libertação”.