A primeira das três alegadas vítimas que acusam o ex-poderoso produtor de Hollywood Harvey Weinstein de violação e agressão sexual em Nova Iorque prestou depoimento na terça-feira, 29 de abril, descrevendo uma relação perturbadora com o acusado, cuja queda foi um marco do movimento #MeToo.

Durante o interrogatório da procuradora Nicole Blumberg, Miriam Haley, antiga assistente de produção, relatou ao júri do Tribunal Penal de Manhattan que Weinstein ora pedia massagens, ora se mostrava encantador ou insistente nas suas exigências.

A sessão terminou antes de abordar o episódio de julho de 2006, quando Weinstein alegadamente a forçou a ter relações sexuais no seu apartamento no bairro de luxo do SoHo, em Nova Iorque. O depoimento continuará na quarta-feira.

Antes deste episódio, Haley, hoje com 48 anos, encontrou o então líder do estúdio Miramax durante uma pré-estreia em Londres, e depois marcou um encontro com ele no Festival de Cannes, na primavera de 2006.

"Estava empolgada com a oportunidade de conhecê-lo... queria ver se havia algum trabalho para mim", recordou.

Mas depressa desiludiu-se quando, num quarto do hotel Majestic, Weinstein — então um dos homens mais poderosos de Hollywood — lhe pediu uma massagem, contou.

No seu testemunho, a acusadora afirmou que recusou, e o encontro foi breve.

"Senti-me humilhada", disse.

Enquanto páginas do seu diário da época passavam nas ecrãs da sala, Haley explicou que viu Weinstein outras vezes e que, apesar de, por vezes, parecer "encantador", também insistiu muito para que ela o acompanhasse a Paris — antes do episódio que fundamenta as acusações atuais.

Ao longo do depoimento, Haley falou com calma, sem olhar diretamente para o acusado, que se desloca em cadeira de rodas por problemas de saúde e aparenta estar pálido e calvo.

Weinstein, de 73 anos, ouviu o relato quase sem reação, com o braço apoiado no encosto da cadeira.

Esta é a segunda vez que Haley presta depoimento sobre o caso, após o julgamento de 2020, que resultou na condenação de Harvey Weinstein a 23 anos de prisão.

No entanto, no ano passado, um tribunal de recurso de Nova Iorque anulou esse julgamento por questões processuais — uma decisão que foi vista como um golpe ao movimento contra a violência sexual.

"É um grande sacrifício para ela (...) ter que reviver o que aconteceu há tantos anos (...) ela faz isso por uma razão: justiça", afirmou após a audiência a advogada de Haley, Gloria Allred.