O lançamento da obra motivou uma aparição em público do romancista, no início do mês, numa galeria privada de arte em Paris, após meses de escândalo devido à sua participação num filme considerado pornográfico, dirigido por um realizador dos Países Baixos.
“Se eu soubesse, não teria vindo”, disse Houellebecq às câmaras da AFPTV, em tom de brincadeira.
Com um dispositivo de segurança discreto, o autor assinou livros e conversou com os fãs de forma descontraída.
Colaborações incomuns
O autor de “As Partículas Elementares” e “Lanzarote” tem sido uma figura habitual em controvérsias políticas quase desde o início da sua carreira literária, há mais de duas décadas.
Ao mesmo tempo, protagonizou colaborações pouco comuns para um escritor, como concertos de música eletrônica, histórias de BD, exposições e filmes.
A colaboração com Louis Paillard para ilustrar “O Mapa e o Território” começou há 12 anos. “Enviei-lhe um e-mail e ele respondeu", contou Paillard, arquiteto de formação, ao explicar a concepção do projeto.
“O Mapa e o Território”, quinto romance de Houellebecq, publicado em 2010 e vencedor do Prémio Goncourt, narra a vida de Jed Martin, um artista que ganha fama como fotógrafo e pintor.
Como a grande maioria das obras do escritor, o livro oferece uma reflexão sobre a França contemporânea, as suas tensões sociais e religiosas.
“Gosto dele”, comentou Houellebecq em alusão a Paillard. “Porque confiamos nas pessoas? Pois não sei”, acrescentou ao responder à AFP.
O autor francês afirma que o seu excesso de confiança no também polémico cineasta Stefan Ruitenbeek o levou a deixar-se filmar na intimidade para “Kirac 27”.
Houellebecq quer proibir a distribuição do filme, rodado em Amesterdão, ou pelo menos eliminar as sequências mais controversas. Por enquanto, porém, “não há acordo” com Ruitenbeek, disse à AFP.
O autor acaba de publicar uma espécie de diário dessa peripécia, chamada “Quelques mois dans ma vie” (‘Alguns meses na minha vida’, em tradução livre).
Controvérsias maiores
Mas Houellebecq já esteve no centro de polémicas mais graves, como na publicação de “Submissão” em 2015, um romance distópico sobre um presidente francês islâmico que coincidiu com o ataque contra a revista “Charlie Hebdo”, ocorrido a 7 de janeiro daquele ano.
Esse atentado jihadista levou o escritor a ficar sob proteção policial durante meses. As suas aparições públicas para autografar livros têm sido escassas desde então.
Na criação da nova BD, Houellebecq e Paillard mantiveram uma estreita colaboração. “É como uma adaptação cinematográfica”, observou o autor.
Houellebecq já retratou várias personagens que se parecem física ou emocionalmente nos seus livros, desde sua a primeira obra, “Extension du domaine de la lutte”, de 1994.
Na segunda, “Partículas Elementares”, esse retrato desdobra-se através da história de dois irmãos. “Certamente, é muito mais difícil compor duas personagens de cada vez”, reflete em voz alta.
Apesar das controvérsias, o escritor não parece disposto a parar de explorar além do território literário.
Houellebecq anunciou a sua participação noutro filme, de Guillaume Nicloux, um realizador com quem já trabalhou.
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