A morte de Zagajewski no passado domingo, Dia Mundial da Poesia, foi confirmada pela editora Krystyna Krynicka, da editora a5, que não referiu a causa de morte, noticiou a Associated Press (AP).
As melancólicas reflexões de Zagajewski sobre a erosão do mundo passaram a expressar um momento insondável de choque e perda, após os ataques de 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque, refere a agência noticiosa norte-americana.
O livro de Zagajewski "Try to Praise the Mutilated World" foi escrito muito antes dos ataques, mas adquiriu um significado novo e histórico depois do 11 de setembro de 2001. O livro foi traduzido para inglês por Clare Cavanaugh e publicado na The New Yorker, poucos dias após a tragédia.
O poema é um olhar carinhoso para momentos mais felizes e um reconhecimento das crueldades contínuas do mundo, escreve a AP.
Zagajewski costumava dizer que o que mais o interessava era o entrelaçamento do “mundo histórico com o mundo cósmico que é estático, ou melhor, se move em um ritmo totalmente diferente''.
"Esses mundos lutam, mas também se completam - e isso é realmente digno de uma reflexão profunda", afirmou o poeta polaco numa entrevista.
Zagajewski dirigiu oficinas de poesia na Universidade Jagiellonian, em Cracóvia, no sul da Polónia, e liderou a redação criativa na Universidade de Houston, nos Estados Unidos, onde fez também parte do corpo docente da Universidade de Chicago.
Segundo a comunicação social sueca, o poeta polaco foi repetidamente mencionado entre os candidatos ao Nobel da Literatura.
Vários escritores expressaram os seus sentimentos, a poetisa norte-americana Jorie Graham, vencedora de um Prémio Pulitzer, escreveu na sua conta na rede social “Twitter”: “Caro viajante e voz de sempre. Não vamos parar de o ouvir você. Está para sempre connosco”.
Também na mesma rede social o escritor indo-britânico Salman Rushdie escreveu : “Descansa, poeta. O teu trabalho viverá''.
Na Polónia, Olga Tokarczuk, vencedora do Nobel da Literatura em 2018, disse que os alunos "adoravam-no porque era especialmente talentoso para a poesia, e sabia como falar sobre isso".
Segundo a escritora polaca, Olga Tokarczuklia os poemas com uma "entonação especial e cerimoniosa, que se deve apenas à poesia.''
Zagajewski foi uma figura importante no movimento “Nova Onda” da Polónia, ou “Geração de 68”, movimento literário do final dos anos 1960 que exigia uma linguagem simples para se relacionar diretamente com a realidade. Foi uma reação à poesia pomposa que louvava a vida no sistema comunista.
Zagajewski e o poeta Julian Kornhauser escreveram um livro que se tornou o manifesto do movimento. A filha de Kornahuser, Agata Kornhauser-Duda, uma antiga professora, é a mulher do atual Presidente da República.
As obras de Zagajewski foram proibidas em 1975 pelas autoridades comunistas de Varsóvia, depois do poeta ter assinado um manifesto de 59 intelectuais contra as mudanças ideológicas na Constituição polaca, que prometiam uma aliança inquebrantável com a então União Soviética e o papel de liderança do Partido Comunista. Em 1982 Adam Zagajewski emigrou para Paris, e regressou ao país natal em 2002, fixando residência em Cracóvia.
Zagajewski nasceu em junho de 1945 em Lwow (atual Lviv, na Ucrânia). Nesse mesmo ano, a sua família decidiu mudar-se para a região central da Polónia. Com o fim da II Grande Guerra, em 1945, as fronteiras foram alteradas e a cidade tornou-se parte da ex-União Soviética.
Adam Zagajewski recebeu várias distinções, designadamente o Prémio Internacional Neustadt de Literatura em 2004, o Prémio Princesa das Astúrias em 2017. Em 2016 a França concedeu-lhe a Legião de Honra da França.
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