Tudo começou com a versão de "Controversy”?

Nunca desapareceu da minha memória a discografia do Prince, mas tive uma fase no início deste ano em que me apeteceu reouvir tudo. Convidaram-nos [a Antena 3] para fazer uma brincadeira, a mim e à Da Chick, e decidimos fazer uma versão do Prince. Nessa altura estava mesmo imerso na discografia dele e passado umas semanas aconteceu o que aconteceu e foi muito triste. Acho que nos deixou alguém que ainda tinha muito para nos dar e ainda vai ter muito para nos dar, porque deixou muita música gravada para sair subsequentemente. Em conversa com algumas pessoas dei conta que havia esta vontade de o homenagear; a Antena 3 fez-me este desafio e não podia ter vindo em melhor altura porque, de facto, para mim vai ser uma catarse necessária, apesar de ser uma responsabilidade muito grande.

Como soubeste da morte do Prince?

Não acreditei. Nesse dia [21 de abril] estávamos a apresentar o disco “Wanga” dos Throes + The Shine, no Lux. Estávamos a fazer o soundcheck quando surge a notícia e eu fiquei mesmo em baixo, inclusivamente apeteceu-me ir para casa. O timing foi... não há timings para isto, quando alguém de que gostamos nos deixa é sempre muito difícil e não há um timing ideal, mas de facto eu não quis acreditar. Na semana anterior a essa, em conversa com o Carlão e com o Rodrigo dos Thunder & Co. num backstage, sobre o Prince, falávamos sobre o facto de que toda uma geração de pessoal mais novo, pela razão do Prince não ter a discografia na Internet, não está familiarizada [com ele], [tal] como alguns putos não conhecem os Beatles. O legado dele é tão grande e tão importante que era necessário que ele chegasse a estas pessoas, mas infelizmente acaba por chegar pelas razões piores.

"A Purple Experience" é uma homenagem a Prince, mas é muito mais do que isso. Vai contar com vários convidados especiais, podes avançar já alguns nomes?

São muitos, muitos, muitos convidados. Não posso anunciar todos porque não estão todos confirmados, mas teremos a Da Chick, os Best Youth, os Thunder & Co., o Samuel Úria, a Selma Uamusse, a Marta Ren, o Ghetthoven, são mesmo muitos e estou muito contente porque são pessoas que admiro muito e com as quais sempre quis fazer coisas e agora surgiu o momento certo porque todos eles também têm esta vontade de prestar tributo.

Quando é que ouviste o Prince pela primeira vez? Recordas-te qual foi a música?

Provavelmente devo ter ouvido o “Purple Rain”. Ou não. Eu nascei em 1984, portanto na década de oitenta, se ouvi, não processei. Sei que a “Kiss” ou a “Sexy M.F.” foram dos primeiros temas que me recordo de gostar, mais a banda sonora do Batman, que ele fez. Na década de noventa já tinha espírito crítico em relação ao que ouvia e lembro-me de que gostei.

Moullinex
Moullinex

Há alguma história ou momento marcante para ti que tenha o Prince como banda sonora?

Sim, num DJ-Set que fiz na Coreia [em Seul], no Halloween, em que me lembro de ter terminado [com Prince]; já tinham mandado fechar do PA e terminar, só que o público não se calava e pediram mais um tema. Lembro-me de ter tocado a “Controversy” e o público foi ao rubro. Foi muito especial por isso.

Nas tuas influências, onde é que entra a música do Prince?

Entra diretamente no Funk, no Groove, na Soul, no Rock, na postura, na ambiguidade sexual que a música de dança tem e entra depois na influência que ele teve sobre toda a gente que faz música eletrónica, toda a gente que faz hip-hop, que gosta de Funk e tem no Groove a sua fundação.

Em que bandas das novas gerações vês a sua influência?

Diretamente em muitas, mas indiretamente em muito mais. Basta falar deste cartaz [Super Bock Super Rock], não haveria Kendrick Lamar se não houvesse o Prince, não haveria Disclosure se não houvese o Prince, talvez não existiriam os Massive Attack se não houvesse o Prince. Qualquer banda de tradição ou cariz eletrónico, que tenha sintetizadores, deve-lhe muito pela abordagem funky e groovy que ele teve, aos sintetizadores e às caixas de ritmos. Por isso é um artista cuja marca se vê direta e indiretamente em muita gente.

Tiveste oportunidade de estar em algum dos concertos que deu em Portugal?

Infelizmente não. As vezes em que passou por Portugal estava sempre fora do país, nunca pude vê-lo ao vivo e é para mim uma mágoa muito grande.

Que legado deixa Prince?

Deixa a música. Tudo o que fez, fez bem. Ensinou também ao Mundo como fazer as coisas por si, DIY [do it yourself], a dar uma abordagem pessoal e a entregar-se de corpo e alma ao que se faz.