A exposição, que ficará patente até 3 de outubro, reúne, ao longo de todo o percurso expositivo, "peças originais, réplicas, reconstituições, assim como diversa informação textual e gráfica em forma de desenhos, fotos, vídeos e até hologramas” da arte rupestre do Vale do Côa, explicou à agência Lusa a presidente da Fundação Côa Parque, Aida Carvalho.

“Com esta exposição, pretendemos sensibilizar o público para as diferentes formas de expressão artística da humanidade e a forma de como representavam o homem do Côa, manifestando, sempre, as representações da arte paleolítica que nem sempre era produzida em cavernas ou abrigos, mas também ao ar livre”, acrescentou Aida Carvalho.

Esta exposição seguirá depois para o Museu Arqueológico Nacional de Espanha, em Madrid, onde ficará patente de novembro de 2022 a fevereiro de 2023.

A mostra “Arte Sem Limite” resulta de uma candidatura conjunta entre a Fundação Côa Parque e a Junta de Castela e Leão no âmbito do programa transfronteiriço Paleoarte, sendo comissariada pelos arqueólogos Thierry Aubry e André Santos, da Fundação Côa Parque (FCP), aos quais se juntam os arqueólogos espanhóis José Xavier Moreno e Cristina Vega Maeso, da Fundação Siega Verde.

Esta quarta-feira foi apresentado um livro guia/catálogo, que conta com a participação de uma dúzia de investigadores portugueses e espanhóis, sobre a mostra.

Esta exposição envolveu uma equipa de arqueólogos dos dois lados da fronteira, ligados à investigação da arte paleolítica do Vale do Côa e de Siega Verde, dois dos maiores santuários da arte rupestre ao ar livre da península Ibérica e do Mundo, inscrito como bem cultural imaterial na lista do Património da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

“Esta exposição estará dividida em dois módulos, ligados entre si, pelo espaço central da mostra, exclusivamente dedicado ao Vale Côa e Siega Verde. Numa primeira parte pela designada obscuridade, onde o visitante terá a oportunidade de perceber que foram os autores das expressões artísticas e como chegaram a esta região da Península Ibérica [Côa e Siega Verde] e quais eram os seus modos de vida”, concretizou Aida Carvalho.

Num segundo módulo da exposição, “exclusivamente” dedicada ao período da Luz, destaca-se a importância da arte paleolítica ao ar livre.

“Aqui o visitante poderá conhecer a evolução da arte ao longo do paleolítico superior, bem como apreciar alguns elementos da chamada arte móvel, recentemente colocados a descoberto neste território”, explicou Aida Carvalho.

Esta exposição faz com que os dois museus - Museu de Arte Popular em Lisboa e o Museu Nacional de Arqueologia de Espanha, em Madrid - acolham as mais antigas manifestações da arte rupestre com figuras de animais já desaparecidos, desde os auroques (boi selvagem), a cervas, cavalos e bisontes, entre outros que ficaram imortalizados nas rochas xistosas da bacia do Douro.

O Sítio Arqueológico de Siega Verde é uma extensão do Parque Arqueológico do Vale do Côa, que foi classificado património da humanidade pela UNESCO, em 02 de dezembro de 1998, tendo Siega Verde obtido o mesmo reconhecimento em 01 de agosto de 2010.

Durante o ano de 1988, uma série de projetos de pesquisa foram realizados na área de Siega Verde pelo Museu de Salamanca, dirigido por Manuel Santonja e Rosario Pérez.

O trabalho de pesquisa concluiu que as gravuras de Siega Verde foram representadas usando três técnicas diferentes: picotagem de contorno, incisão e abrasão.

Em Siega Verde estão identificados cerca de uma centena de sítios arqueológicos, no total de 500 imagens gravadas, "onde 52% representam animais e, os restantes, traços e símbolos abstratos que não se conseguem codificar”, segundo a instituição.

Estudos cronológicos indicaram que a antiguidade das gravuras de Siega Verde varia de 20.000 a 10.000 anos, sendo, portanto, mais recentes cronologicamente do que as do vale do Côa, que podem chegar aos 30.000 anos, em pleno Paleolítico Superior.

O Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC) detém mais de mil rochas com manifestações rupestres, identificadas em mais de 80 sítios distintos, integrados nos 24 bens classificados, sendo predominantes as gravuras paleolíticas, executadas há cerca de 30.000 anos, “cada vez mais expostas a adversidades climáticas, geológicas e antropomórficas”.

O PAVC foi criado 1997 e, no mesmo ano, a arte do Côa, foi classificada como Monumento Nacional. No ano seguinte, obteve o estatuto de Património da Humanidade pela UNESCO.