O percurso de Marlene Tavares (Nenny), de 17 anos, na música começou em 2018, quando fez uma versão do tema "Devia Ir", dos Wet Bed Gang, amigos do irmão e do primo e vizinhos do bairro onde viveu em Vialonga, até aos 11 anos, antes de emigrar para França.

“As pessoas começaram a partilhar [o vídeo publicado online] e foi aí que comecei a ir ao estúdio deles [Wet Bed Gang]”, contou em entrevista à Lusa, em Lisboa, numas férias da escola que frequenta no Luxemburgo, para onde se mudou em setembro do ano passado.

O primeiro tema original de Nenny, “Sushi”, foi partilhado no Youtube a 3 de março de 2019. Quase um ano depois, contabiliza mais de 12 milhões de visualizações. “Dona Maria”, partilhado em novembro, conta com quase 1,5 milhões de visualizações.

Passar a barreira dos 10 milhões com o primeiro tema que criou é “uma coisa mesmo incrível”, que Nenny “nunca” imaginou que pudesse acontecer “logo no primeiro som”.

Em julho do ano passado, no dia 15, surgiu na mesma plataforma online de partilha de vídeos “Bússola”, que hoje conta com quase nove milhões de visualizações.

Ainda sem o EP de estreia editado, Nenny está nomeada em duas categorias dos Play – Prémios da Música Portuguesa: Melhor Canção, com “Bússola”, e Revelação.

Nem por isso Nenny se deixa deslumbrar: “Hoje tive dez milhões e amanhã posso ter muito menos, tenho consciência disso”.

Neste pouco tempo de exposição pública, também já aprendeu a lidar com os comentários negativos. “Não pode haver só opiniões positivas, nem só negativas”, salienta.

Lidar com isso aos 17 é “saber lidar, em termos de ser super tranquila e de ignorar os comentários de ódio ou qualquer má onda”. “É só ignorar, só isso”, disse.

Cantar era algo que Nenny “sempre quis”, desde pequenina, “só que tinha vergonha de dizer”.

Aos 17 anos, recusa o rótulo de rapper e apresenta-se como “artista”. “Não faço só rap, não canto apenas. Faço os dois, por isso sou artista”, explicou.

Gosta de ouvir, além dos Wet Bed Gang, os portugueses Richie Campbell e Phoenix RDC, este último também de Vialonga, e os norte-americanos Teyana Taylor, Bryson Tiller e Chris Brown. Sobretudo músicos ligados ao hip-hop, “e dance hall também”.

Os temas de Nenny disponíveis no Youtube são sobretudo cantados em português, mas, no início, “cantava sempre em inglês”.

“Depois descobri que o português é mesmo uma língua muito fixe para cantar, então decidi cantar em português. Só que não quis deixar o inglês de lado e às vezes consigo misturar os dois”, referiu.

A carreira de Nenny está a desenvolver-se em Portugal, onde tem gravado os temas e respetivos vídeos. No Luxemburgo é sobretudo uma estudante do ensino secundário, que, nas horas vagas escreve letras para os ‘beats’ que lhe enviam.

Andar entre cá e lá tem sido “cansativo”, mas compensador.

Este domingo edita o primeiro EP, “Aura”, em breve atuará em Punta Umbria, Espanha, destino de centenas de viagem de finalistas de estudantes portugueses – “vai ser o meu primeiro concerto” - , e em julho canta no festival Sumol Summer Fest, na Ericeira, “que é um grande, grande concerto”.

“Aura” conta com nove temas, seis dos quais – “+351”, “Sushi”, “On You”, “21”, “Dona Maria” e “Bússola” - já disponíveis nas plataformas online Youtube e Spotify, e três inéditos - “Vision”, “Look at Me” e “Lion”.

Nenny conta que a criação dos temas depende muito da disposição com que está em determinado momento.

“Por exemplo, se estou com uma emoção mais de festa, se calhar vou escrever a ‘Bússola’, mas se estiver um bocadinho mais deprimida, em casa, se calhar vou escrever o ‘On You’”, partilhou.

O EP “Aura” é “isso”. “São várias emoções e faz sentido com o [título] ‘Aura’, porque aura são emoções, cada pessoa tem a sua eletricidade, a sua luz. Cada som do meu EP representa uma aura, e cada aura é uma emoção”, explicou.

Nenny confessa que já pensou num possível álbum de estreia, mas prefere dar um passo de cada vez. “Ainda estou no EP, vou esperar pelo feedback e só depois penso no que vou fazer mais tarde”.