Com encenação de Nuno Cardoso, este espetáculo, que assinala a apresentação da segunda produção própria do Teatro Nacional São João (TNSJ), em ano de centenário, quer mostrar como existem “fingimentos de verdade”, ou seja, verdadeiras máscaras.

Encenada por nomes do teatro como Erwin Piscator, Roger Blin, Giorgio Strehler e Peter Brook, a peça do dramaturgo francês Jean Genet passa-se durante uma revolução que mantém as pessoas com medo e fechadas em casa, qual pandemia de COVID-19, explicou Nuno Cardoso, diretor artístico do TNSJ, à margem de um ensaio de imprensa.

“E vemos a vida de um bordel de luxo, que é o espaço da ação, onde os clientes vão para fingir que são figuras importantes, nomeadamente chefes de igrejas, de justiça ou de exército”, contou.

A certa altura, a revolução ganha uma maior intensidade. O palácio real explode e, perante o facto de toda a gente do poder ter morrido, o enviado da majestade vai ao bordel de luxo e escolhe a gestora do espaço como rainha, desvendou.

Além desta, também os clientes, que fingiam ser figuras importantes, tornam-se verdadeiras figuras de Estado, revelou Nuno Cardoso.

“O Balcão” procura, assim, criar um jogo de espelhos no qual “toda a maquinaria da farsa do poder” é exposta e temas como os ocasos das revoluções ou as sedutoras vizinhanças entre o sexo e a morte são debatidos.

“É adequada [peça] a um mundo a braços com a pandemia de covid-19, que nos assusta e nos deixa fechados em casa, a braços com crescentes populismos e a braços com factos alternativos, que são uma outra forma de mentir ou usar máscara”, disse.

Falando num conjunto de coisas das quais a sociedade precisa de se soltar, Nuno Cardoso lembrou que os populismos, negacionismos ou teorias da conspiração suscitam injustiças, ódios e faltas de solidariedade.

A peça pode ser vista entre a próxima terça e sexta-feira, às 19h00 e, ao sábado, às 10h00, tendo os bilhetes um custo que varia entre os 7,50 e os 16 euros.

Nuno Cardoso aproveitou a sessão para apelar às pessoas para irem ao teatro, por ser um “exercício de cidadania e solidariedade”.